Em meio a uma conversa sobre as novidades da carreira, Lô Borges pede um minuto e sai do telefone. “Só posso ser doido, decido fazer um disco novo e uma reforma na minha casa ao mesmo tempo”, diz, bem-humorado, ao voltar à conversa. Simplicidade e paixão pela composição o mantêm como referências na música brasileira desde que o rapaz de 18 anos que andava com Milton Nascimento. Lô Borges chega aos 68 anos, em pleno vigor criativo com o novo álbum, Dínamo.
O disco é o 19º da carreira de 48 do músico. Com 10 faixas, Dínamo sucede Rio de Lua, lançado em 2019. “Este álbum segue a linha que tenho de me manter sempre compondo, semanalmente, desde 2003”, afirma Lô Borges. O álbum foi lançado em todas plataformas digitais no último dia 6.
Mas o novo trabalho tem suas peculiaridades poéticas e sonoras diferentes do disco anterior. O músico recebia as letras de Dínamo por mensagem de texto do amigo e parceiro Makely Ka, diretamente do Piauí. “No momento em que via a mensagem, eu transcrevia a música para um caderno com a minha própria grafia, pegava um violão e esboçava os primeiros acordes. Era uma composição por semana”, pontua Lô Borges.
“Não saberia viver sem compor, por mais que eu goste de fazer turnês e ir para o estúdio, a composição é a parte que mais me atrai na música”, afirma o violonista e guitarrista, que tem marcados na extensa carreira sucessos como Trem azul, Um girassol da cor do seu cabelo e Paisagem da janela.
No último álbum, convidou apenas um músico para participação especial, Samuel Rosa, na faixa título do trabalho de 2020. O cantor e o vocalista do Skank são amigos de longa data e fizeram turnês e gravaram álbuns juntos. “Convidei Samuel porque a música é sobre viajar. Lembrei muito dele, pois fizemos muitas viagens juntos e achei que seria interessante que dividíssemos esta canção”, afirma Lô. Trabalhar com mais músicos não era o interesse do artista. “Fiquei só com um convidado, pois estou num processo tão íntimo de composição, que a minha própria banda é quase uma participação especial”, completa o músico.
*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira
Quatro perguntas / Lô Borges
O álbum Dínamo é o 19º da carreira de quase 50 anos. Qual foi o processo de gravação desse disco?
O Dínamo é um prosseguimento na minha carreira de compositor. Eu tenho este novo projeto de musicar mensagens de texto que recebo de artistas que possuem um trabalho muito lindo. Desde meu álbum anterior, faço isso e, desde 2003, componho pelo menos uma vez por semana. Eu não posso parar de compor. Para mim, a gênese da música é a composição. Há uma magia em pegar palavras que não têm sons e dar uma melodia a elas. E isso que quis fazer neste álbum.
Recentemente, o Clube da Esquina foi destaque de uma série de tevê, qual a importância deste álbum para a sua carreira?
É o começo de tudo, o Clube da Esquina recebeu este nome, inclusive, porque eu ficava sentado em uma esquina tocando violão para animar a minha galera, um encontro de jovens. Quando fui convidado pelo Milton Nascimento para gravar o álbum, eu não tinha praticamente músicas, gravei nove só para este álbum. Milton percebeu meu talento e me deu a oportunidade de participar deste trabalho seminal, fundamental. Devo tudo da minha carreira a esta confiança.
Entre 2017 e 2018, você foi citado em uma playlist de influências da banda britânica Arctic Monkeys. Como você recebeu essa notícia?
Me encheu de alegria, ver uma banda inglesa me colocar como referência, fez ter certeza que a música é atemporal e não tem fronteiras. A música na playlist era Aos barões, do Disco do tênis (Lô Borges, de 1972), uma canção que escrevi quando era adolescente e foi ouvida por eles. É muito bonito pensar que uma coisa que eu fiz quase 50 anos atrás pode influenciar alguém nos anos 2020.
O mundo mudou, e agora o streaming é a maior forma de se escutar música. Como você vê esse mercado?
Para mim, é uma mudança como várias outras. Assim como o disco de vinil e o CD foram novidades, as plataformas digitais são uma nova forma de veicular músicas. Claro que diferencia algumas coisas, é mais difícil popularizar álbuns inteiros, e diminui a necessidade de compor o material em conjunto. Para mim, ainda é difícil tirar da cabeça o formato CD. Mas vejo com muita naturalidade e acredito que até farei meu próximo lançamento exclusivamente digital.
Dínamo
De Lô Borges. Deck discos. 10 faixas. R$ 35,90 nas lojas físicas e disponível em todas as plataformas digitais