Quando Ludmilla Alves e Isadora Dalle idealizaram a MUDA, pensaram na produção brasiliense, mas também no que representa a Casa da Cultura da América Latina (CAL). Localizada no Setor Comercial Sul em um ponto de muito trânsito de pedestres, a galeria é também um espaço acadêmico de pesquisa, já que está ligada à Universidade de Brasília (UnB). “Como é um espaço muito importante para gente que é artista na cidade, achamos que seria importante ocupar a galeria. Fomos reunindo os nomes por trabalhos que fizessem sentido para pensar a ocupação”, explica a curadora.
MUDA é uma exposição sobre pontos de vista e como eles podem provocar mudanças, das mais abstratas e poéticas às mais concretas. Nas galerias dos três andares da CAL, há os mais diversos tipos de obras sustentadas por diferentes mídias e linguagens técnicas. “Cada um a seu modo traz uma relação com a palavra, com a linguagem, com o ponto de vista do espaço”, avisa Ludmilla, que quer investigar como nasce o ponto de vista, quais suas consequências e como a maneira de olhar para uma questão pode gerar as mais diferentes compreensões e situações.
Como o ser humano encara a partilha do espaço e do tempo e, a partir disso, estabelece suas próprias relações com a história e os territórios também faz parte da investigação de MUDA. “As obras vão se relacionar com isso das maneiras mais distintas, seja no gesto simples de girar uma coisa de cabeça para baixo, seja fazer você olhar para chão, ou de colocar os materiais em relação de força, ou ainda ao fazer uma revisão das relações de história”, diz a curadora.
Arte japonesa
Na Galeria Pilastra, no Guará, o Coletivo Shibari mostra um conjunto de desenhos e fotografias que funcionam como registros de sessões de shibari, arte milenar japonesa que consiste em amarrar as pessoas. Com curadoria de Alexandre Felix, Nawa Yoi – O bêbado de cordas traz desenhos, objetos amarrados e fotografias, além de um espaço dedicado a experiências sensoriais e um quarto com objetos típicos de práticas sadomasoquistas. “São alguns elementos que levem as pessoas para essas sensações de estar amarrado ou estar amarrando, e vamos mostrar o que é o shibari, como trabalham as pessoas que o praticam”, explica o curador.
O shibari nasceu no Japão antigo como uma técnica de imobilização dos inimigos por meio de cordas. Quanto mais elaboradas as amarras e os cruzamentos, mais respeito o captor demonstrava em relação ao capturado. “Amarras bonitas provavam que o cargo era importante e que você reconhecia o outro como um inimigo à altura”, explica Felix. “E essa técnica foi passada para a arte erótica. Em Brasília, existem alguns grupos que estudam e praticam o shibari.” Um deles é o Coletivo Shibari que, desde o ano passado, aluga salas da Galeria Pilastra para fazer ensaios e treinos.
No ano passado, Mateus Lucena, idealizador da Pilastra, convidou o grupo para participar de uma exposição coletiva. A aceitação do público foi boa, e Lucena decidiu dedicar uma mostra inteira ao tema. O grupo é bastante heterogêneo e não é formado exclusivamente por artistas. “É um grupo que tem todos os tipos de pessoas, servidores, advogados, tatuadores, todas as idades e todos os tipos, e poucos que têm algum conhecimento de arte”, explica o curador, que fez reuniões com os mais de 20 integrantes para definir o conteúdo e a montagem da exposição.
O grupo queria evitar uma exposição focada unicamente no shibari: eles queriam ir além e explorar as sensações e a paixão despertadas pela prática. Daí vem o título da mostra, Nawa Yoi – O bêbado de cordas, uma expressão japonesa que descreve a sensação durante o processo de amarrar.
Clarice ilustrada
Terezinha Lousada leu A paixão segundo GH várias vezes durante a vida, mas somente agora decidiu enfrentar o desafio de ilustrar o romance de Clarice Lispector. Brasiliense radicada no Rio de Janeiro, a ilustradora dividiu o livro em duas partes e criou dois blocos de 25 desenhos para cada. Se na primeira parte a narradora conversa com o leitor, é sobre uma antiga paixão que ela reflete na segunda parte.
Esses motes guiaram Terezinha para a série da exposição A paixão segundo GH, em cartaz na galeria Matéria Plástica. “A ilustração é um desafio, porque você mergulha em outro universo, você explora seu repertório para tentar traduzir um outro artista, um escritor. E eu sentia que meu repertório como artista não era suficiente, então foi muito desafiante buscar formas de interpretar aquilo que estava sentindo e lendo”, conta a artista. O trabalho é uma homenagem da ilustradora no ano em que se celebra o centenário de Clarice Lispector.
A Paixão Segundo GH
Desenhos de Terezinha Losada. Abertura 17 de março, às 19h. Visitação até 22 de abril.
Nawa Yoi – O bêbado de cordas
Coletivo Shibari. Curadoria: Alexandre Félix. Visitação até 11 de abril, de terça a sábado, das 15h às 21h, na galeria A Pilastra (QE 40, Conjunto D, Lote 38, Guará II – Setor de Oficinas)
MUDA
Coletiva com Ananda Giuliani, César Becker, Forças Amadas da Arte (Cleber Cardoso, Gisel Azevedo, Hilan Bensusan, Mateus Lucena, Raisa Curty e Suyan de Mattos), Isadora Dalle, Lara Ovídio, Luciana Ferreira, Luciana Paiva, Ludmilla Alves, Maria Eugênia Matricardi e RUT Solar. Visitação até 1º de maio, segunda a sexta, das 9h às 19h. Sábado, domingo e feriados (por agendamento): das 8h às 18h, na Casa da Cultura da América Latina (CAL - SCS Quadra 4, Edifício Anápolis)
*Exposições sujeitas ao cancelamento/adiamento em função da pandemia de coronavírus. Consulte cada uma das galerias.