Diversão e Arte

Bonecos de resistência e de fantasia

festival Bonecos de Todo Mundo reúne grupos mamulengueiros do Brasil e do exterior, como os espanhóis do La Puntual




O espaço do trabalho é chamado de brincadeira, a área em que os mestres de mamulengo ou praticantes do tradicional teatro de bonecos contam suas histórias, sagas e aventuras. Brasília recebe, a partir de amanhã, o festival Bonecos de Todo Mundo, com atrações  para todas as idades.

Há cinco anos, o teatro de mamulengos foi reconhecido como patrimônio imaterial nacional e é parte integrante da cultura de vários estados do país. O evento tem também um caráter de comemoração para os brincantes. “O festival Bonecos de Todo Mundo é um momento importantíssimo para o teatro do Distrito Federal, onde teremos grupos de vários países em apresentações, rodas de conversa e exposição do teatro de mamulengos”, destaca Thiago Francisco, integrante do grupo Mamulengos Fuzuê e presidente da Associação Candanga de Teatro de Bonecos.

As apresentações serão em Taguatinga, no Sesc Paulo Autran e no Taguaparque. Três grupos do DF se apresentam no evento, além de um de Pernambuco. De atrações internacionais estão as trupes La Puntual, da Espanha; El Baúl de la Fantasía, da Colômbia; e La Pluma, do Uruguai. Irene Vecchia, que representaria a Itália teve que cancelar a vinda ao festival devido ao surto de coronavírus naquele país.

A abertura será do Mamulengo Fuzuê, de Thiago Francisco. “A expectativa é muito boa, estamos neste momento nos últimos preparativos e ensaios para poder fazer uma apresentação que possa receber bem a todos”, afirma Thiago.

A pernambucana Mariana Acioli, do grupo Mamulengo Água de Cacimba, vê o festival com bons olhos para o desenvolvimento da cena do teatro de bonecos brasileiro. “Brasília é o local fora do Nordeste com a maior cena de mamulengo do país. Existe grande organização e articulação entre os grupos brasilienses, o que tem possibilitado o surgimento de novos e novas brincantes, além do fortalecimento e da valorização da tradição do teatro de bonecos. Para nós, é um grande prazer poder participar desse evento, apresentando nossa brincadeira e aprendendo com todas e todos envolvidos”.

O nome mamulengo, dado aos bonecos que são protagonistas das apresentações, é originário de Pernambuco, por isso, representar o estado no festival é uma responsabilidade grande para Mariana que possui a brincadeira no sangue. “Tanto meu pai quanto minha mãe eram artistas de teatro e brincantes de mamulengo”, diz. “Na infância, eu não compreendia a importância da manutenção da tradição, não entendia por que ele (meu pai) apresentava os mesmos bonecos durante quase 40 anos. Hoje, ao herdar o acervo de bonecos de meu pai e de minha mãe, e começando a brincar os mamulengos, percebo a importância e o sentido da tradição”, completa a artista.


O mestre do DF

O festival conta com a participação de um dos principais nomes do teatro de bonecos do Brasil. O brasiliense Chico Simões, do grupo Mamulengo Presepada. Ele trabalha com esta brincadeira há mais de 30 anos. “Meus amigos, minhas famílias o público reconhecem a dedicação ao trabalho realizado, porque eu sempre respeitei muito a plateia, dando o melhor de mim — que não sou nenhum virtuoso em nada, mas brinco com amor para divertir e comunicar algo em que acredito.”

Chico foi mestre de Thiago Francisco e de tantos outros mamulengueiros do DF, mas antes de se tornar uma referência na área precisou se apaixonar pelos bonecos. “O primeiro teatro de bonecos que vi, foi em 1971, na escola em Taguatinga, era um ventríloquo, e o boneco era tão irreverente quanto eu queria ser, e todo mundo sorria das gracinhas dele, mas das minhas (quando menino) nem tanto”, lembra o bonequeiro, que fará em sua apresentação no festival um número de ventriloquismo, no Taguaparque.

Em 1981, Chico Simões deparou-se com a fantasia dos mamulengos pela primeira vez. Em 1983 criou o que seria o próprio sentido de vida: ao lado de Rose Nugoli, Nonato Natinho e Nilsinho Rodrigues fundou o Mamulengo Presepada. “Ganhamos o mundo, primeiro nosso mundo aqui de Brasília, depois o Brasil, do interior às capitais, e em seguida percorri 25 países no mundo sempre brincando com mamulengo, mágicas e ventriloquismo. É minha vida. Os bonecos me ensinaram o que sei”.

O festival Bonecos de todo mundo é encarado por Chico Simões como chance de dar visibilidade para uma arte tão importante e tradicional. “Eu sinto que tenho uma espécie de dever: repassar o que aprendi atualizando e acrescentando minha visão de mundo. Espero que cada pessoa que brinque com os bonecos faça o mesmo, transforme a técnica em meio para dizer coisas singulares e pessoais que contribuam para um mundo mais divertido e humanista”, afirma.

*Estagiário sob a supervisão  de José Carlos Vieira




Programação

Teatro Sesc Paulo Autran (CNB 12 - Taguatinga Norte)

Amanhã

19h 
• Mamulengo Fuzuê — Benedito abençoado e bendizido (DF)

20h30 
• Mamulengo Água de Cacimba — A flor do mamulengo (PE)

Sexta-feira
19h 
• La Puntual — Pipa, el títere maravilla (ESP)

20h30 
• El Baúl de la Fantasía — Manuelucho (COL)

Sábado

19h 
• Grupo ainda não divulgado

20h30 
• La Pluma — Alenka y la bruja Baba Yaga (URU)

Taguaparque (Entrada pelo Pistão Norte)

Domingo
9h 
• La Puntual — Pipa, el títere maravilla (ESP)

9h30 
• Mamulengo Presepada — Mateus de lelé bicuda (BRA/DF)

10h 
• Grupo ainda não divulgado

10h30 
• El Baúl de la Fantasía —  Manuelucho (COL)

11h La Pluma 
• Alenka y la bruja Baba Yaga (URU)

9h às 11h 
• As Caixeiras —  Caixa de Mitos (DF)

Invenção Brasileira (QSB 12/13, Mercado Sul de Taguatinga)

10 a 14 de março, de 9h às 17h 
• Exposição — A arte secreta dos mestres mamulengueiros

14 de março, sábado, 9h 
• Roda de conversa — Teatro de bonecos como patrimônio cultural nos países participantes