Uma enorme janela de vidro, que vai de um lado ao outro de um prédio comercial no Lago Sul, revela cores e formas do universo de arte contemporânea que aterrissa, hoje, na capital federal. Como olhos que acabam de se abrir para o Planalto Central, a Casa Albuquerque Galeria de Arte abre as portas do novo espaço para trocar, compartilhar e contribuir com o mercado de arte brasiliense, nacional e internacional.
De posse de um acervo, com obras de artistas como José Brechara, Nuno Ramos, Leda Catunda, Waltercio Caldas e Bruno Vilela, permitindo que os galeristas, Flávia e Lúcio Albuquerque, desenvolvam projetos do clássico ao arrojado, a galeria de sangue mineiro chega a Brasília. “Sempre quisemos nós aproximar da cidade. Temos amigos aqui, tem a ideia do modernismo que é tão forte e a gente queria trazer a colaboração com a arte contemporânea. O intuito é chegar com artistas de fora, mas queremos trabalhar com os artistas locais”, conta Flávia.
Ela e o irmão cresceram em meio a esse universo, herdaram e assumiram o negócio criado pela mãe, Celma, em Belo Horizonte. Com a solidez do trabalho, fundado em 1998, a galeria marcou presença em importantes feiras nacionais — Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte -, bem como internacionais - Nova Iorque, Londres e Basel. Durante seis anos, Flávia e Lúcio também mantiveram um espaço em Portugal. “Nós aprendemos a fazer de tudo na galeria. Minha mãe sempre fez questão de nos ensinar os processos todos e isso é muito importante para o trabalho. Como a gente passou por isso tudo, conseguimos contribuir”, detalha a sócia.
A Casa Albuquerque Galeria de Arte chega para estreitar os laços, para colaborar na profissionalização do mercado, na fruição e a aquisição de obras, bem como no debate sobre a arte contemporânea, além de apresentar novos e consagrados artistas, contribuindo para a formação de público. “O nosso talento é na formação de público, é desafiador, mas é o que a gente sabe fazer. Brasília nos interessa. Estamos (Brasília e Belo Horizonte) fora do eixo e temos que fazer diferente, temos que crescer nossos mercados. Viemos para somar”, pontua Lúcio.
Natura
Para abrir as portas do novo espaço e receber o público, os irmãos convidaram as artistas Claudia Jaguaribe e Mariannita Luzzati. “Até porque estamos no mês do Dia Internacional da Mulher, então trazemos os trabalhos de duas mulheres incríveis”, assinala Flávia. Com linguagens e trabalhos distintos, as duas encontraram um ponto de encontro para dialogar e questionar sobre a natureza e, sobretudo, as interações do ser humano com o meio ambiente na exposição Natura.
Não é a primeira vez que as artistas apresentam obras em Brasília. De um lado, a carioca Claudia expõe jardins imaginários, composições feitas a partir de vários jardins que ela fotografou, como Inhotim, Sítio Burle Marx e Aterro do Flamengo. “A ideia é sempre ter uma segunda imagem, um contraponto urbano ou uma natureza depauperada, porque a gente não tem mais uma convivência direta com a natureza”, explica a artista.
Nas mãos de Claudia, a fotografia vai além do plano bidimensional e ganha um caráter quase escultórico. Oposto ao universo vivido de Claudia estão as pinceladas de Mariannita Luzzati. Suaves e minimalistas, as pinturas da paulista são resultado de um estudo da artista sobre as plantas que não pertencem, que foram trazidas ou movimentadas de maneira natural ou pelo homem. “Porque temos essa tendência de alterar as paisagens e, de alguma forma, as plantas trazem uma nova condição ao espaço”, acrescenta a artista.
Natura
Obras de Claudia Jaguaribe e Mariannita Luzzati. Na Casa Albuquerque Galeria de Arte (SHIS QI 05 bl. C lj. 09 - sobreloja - CL, Lago Sul). Abertura hoje. Visitação até 9 de abril. De segunda a sexta, das 10h às 19h, sábado, das 10h às 13h.