O cantor florianopolitano Alírio Netto demorou apenas cinco minutos para aceitar o posto de vocalista da banda de power metal progressivo Shaman, com a qual se apresenta neste sábado (7/3) em Brasília, no Toinha Brasil Show (SOF Sul Q. 9). "Eu não estava esperando. Recebi um convite para uma reunião com todo o pessoal da banda e o empresário, em dois ou três dias. Nesse momento, eu já imaginei do que se tratava, mas foi uma grata surpresa. A reunião durou, tipo, cinco minutos. Decidimos que era isso e está sendo um sucesso até agora", conta.
Formada em 2000 por ex-integrantes da banda Angra, grupo brasileiro que conquistou projeção internacional ao misturar power metal e referências nacionais, com uma pegada erudita, a Shaman conquistou espaço levando adiante a pesquisa iniciada na antiga banda. O cantor André Matos, o baixista Luís Mariutti e o bateirista Ricardo Confessori, conhecidos pelo virtuosismo técnico, juntaram-se ao guitarrista Hugo Mariutti, irmão do baixista, para compor novas músicas.
Também reconhecido pelas habilidades vocais, Alírio Netto preenchia bem os requisitos para o cargo. Além do novo emprego, ele também canta no projeto Queen Extravaganza, cover oficial do Queen dirigido pelos próprios Brian May e Roger Taylor, ex-colegas de banda de Freddie Mercury. Antes, estrelou as montagens brasileiras dos musicais We will rock you, também do Queen, no papel de Galileo, e Jesus Christ Supertar, da Brodway, como Jesus em uma montagem, como Judas em outro. Fez parte do elenco de várias óperas, participou de bandas e lançou alguns álbuns solo no Brasil e no exterior.
Mesmo se adequando tão bem ao papel que desempenha na nova banda, Alírio confessa que ainda se deslumbra. "Tocar nessa banda está sendo como pilotar uma Ferrari", explica. "Às vezes estou no meio do show, olho para trás, vejo aqueles caras e penso como sou sortudo. O Ricardo é um monstro na batera, a precisão dele é incrível. O Hugo é pura energia, ele literalmente tira sangue — termina os shows com o dedo sangrando de tanta pegada que ele tem. E o Fábio Ribeiro já faz parte da essência do Shaman", conclui, reverenciando os colegas.
Ele só está na banda desde setembro, quando teve que assumir a difícil tarefa de substituir André Matos, considerado um dos maiores vocalistas do mundo. "O André é insubstituível, e a primeira coisa que me veio na cabeça foi: como substituir o insubstituível?", questiona, e também entrega a resposta: “Eu acho que qualquer artista que se preze impõe a sua digital naquilo que está fazendo. Alguns vão gostar, outros talvez não gostem tanto, mas quando a coisa é feita com honestidade, o resultado é sempre positivo".
O dono da voz
A qualidade de entregar um trabalho à altura dos mestres sem resvalar na paródia foi o que lhe rendeu também a vaga no Queen. "Esse foi o elemento que fez eles me chamarem. Eu perguntei tanto pro Brian May quanto pro Roger Taylor: "Por que vocês me chamaram?". Eles responderam: "Porque a gente precisa de alguém que tenha uma personalidade. A música do Queen exige uma personalidade, não um cara que usa um bigode e imita a voz do cara (Freddie Mercury) para cantar'", lembra.
"Esse elemento também foi o que me fez entrar para o Shaman", continua. "Eles precisavam de alguém que tivesse personalidade e verdade. Toda artista que se preze vai buscar a própria voz. Mesmo cantando a obra de outro artista. É isso que faz a coisa virar genuína. Fazer a música virar sua. Se emprestar para a arte", completa.
O convite surgiu e foi aceito em meio à morte recente de André Matos, de forma repentina e prematura, aos 47 anos, em junho de 2019. A formação original da banda tinha se reunido e vinha excursionando desde 2018 com o repertório dos dois primeiros álbuns, Ritual, de 2002, e Reason, de 2004. Ambos, produzidos antes de André Matos e os irmãos Mariutti abandonarem o projeto, mesclam música folclórica e étnica brasileira, sobretudo da música dos povos indígenas, ao heavy metal e à música erudita.
São as canções destes álbuns que Alírio Netto vem defendendo nos shows, que chega nesta sexta à capital. Familiarizado com a obra da banda desde os primeiros anos — aliás, a banda Khalice, da época em que morou em Brasília, abriu o show da turnê do primeiro disco do grupo na capital federal —, o cantor teve que assimilar as músicas de uma nova maneira, para enfim emprestar sua personalidade. "A gente fez isso desde o começo dos ensaios. As músicas que estão ali são do André, mas a melhor maneira de homenageá-lo é colocando verdade, aquilo que faz sentido artisticamente. O público sente isso nos shows e a gente está tendo o melhor resultado possível."
Como sinal de que o músico veio para ficar e contribuir, sairá nas próximas semanas em formato de single e videoclipe uma nova composição ao vivo com a voz de Alírio Netto. Ele garante que esse será o primeiro de uma série de lançamentos. "A gente tem que sempre olhar para a frente. A melhor maneira de homenagear o legado do Shaman e do André é continuar fazendo aquilo que esses caras se propuseram a fazer desde o começo: compor. Dar uma vida nova pra esse organismo que é o Shaman."
Com letra postada nas redes sociais do vocalista, para o público aprender e cantar no show, Brand new me é sobre isso: "Fala sobre renascimento. Fizemos exatamente para esse novo momento da Shaman, de recomeçar. Tudo na vida é cíclico, e é exatamente sobre isso que essa letra fala: sobre renascer como uma fênix. E a Shaman é essa banda que já renasceu várias vezes das cinzas."
*Estagiário sob a supervisão de Adriana Izel