Diversão e Arte

Exposição 'Linhas da vida' entra em cartaz nesta terça-feira no CCBB

Exposição da japonesa Chiharu Shiota traz a Brasília conjunto de obras que explora as emoções humanas e a memória coletiva

Algumas coisas são muito importantes para a artista japonesa Chiharu Shiota. A própria biografia é uma delas. A condição humana é outra, tão importante quanto a primeira. E aqui entram as emoções, a organicidade do corpo, as relações entre as pessoas, a memória, o gestual, a capacidade de construir e tecer histórias. Com esse repertório em mente, passear pela exposição Linhas da vida, em cartaz a partir desta terça-feira (03/3) no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), pode ser uma experiência de pura poesia.

Para a primeira sala, a curadora Tereza Arruda reservou obras capazes de oferecer uma visão panorâmica sobre a trajetória da artista. Chiharu nasceu em uma família de pequenos empresários, em Osaka (Japão), mas nunca encarou a fábrica de caixas da família com uma perspectiva profissional. Em vez de assumir os negócios dos pais, foi estudar arte. Começou com pintura, mas durante um período de estudos na Canberra School of Art, na Austrália, decidiu dar um passo fora das telas e partiu para a performance. Ainda interessada no universo pictórico, a artista levou para o espaço performático a tinta e as linhas que hoje estão em praticamente todas as esferas do trabalho.

Nessa sala inicial, há registros das primeiras performances, que sempre foram feitas sem público, apenas para serem fotografadas e filmadas, mas também duas esculturas, uma instalação e uma pintura com linhas que indicam os caminhos percorridos por Chiharu. Dois vestidos sustentados exclusivamente por um emaranhado de linhas falam de memória e a instalação Linha interna, concebida especialmente para ser mostrada na Japan House em São Paulo, onde foi exposta pela primeira vez, tem algo de monumental combinado com uma ideia milimétrica da existência.

Três vestidos interligados por um emaranhado de fios trazem a intenção da artista de falar do que nos une enquanto sociedade, mas também enquanto espécie. Inteiramente vermelha — Chiharu utiliza apenas as cores vermelho, branco e preto — , a instalação também faz referência ao sangue que corre pelas veias. “Há uma lenda, no Japão, de que, quando uma pessoa nasce, vem um fio preso no dedinho para conectar com os ancestrais”, conta Tereza Arruda, ao lembrar que a origem oriental da artista também encontra reflexo em todas as obras.

Na galeria principal estão trabalhos mais recentes, como dois conjuntos de esculturas particularmente significativas em relação às questões que interessam à artista. Em Na mão, pares de mãos esculpidas em bronze carregam formas orgânicas que remetem a células, sangue, órgãos e emaranhados de linhas. O componente orgânico é claro, ao contrário da série Estado de ser, cujas formas geométricas apontam para outra ideia. “Elas lembram pedras preciosas, como se estivessem sendo lapidadas, mas numa aproximação com algo que não existe na natureza. Aqui, ela fala do ser conectado com algo que não enxergamos, de uma trama que une as pessoas como se o indivíduo não estivesse por si só”, explica a curadora.

Em Berlim, onde fixou residência depois de estudar na Austrália, Chiharu Shiota foi a primeira artista japonesa a trabalhar fora do país convidada pelo governo japonês para integrar o Pavilhão do Japão em Veneza. Para essa exposição, realizada em 2015, ela criou a instalação Chave na mão, concebida com mais de 180 mil chaves, doadas por pessoas do mundo inteiro, e dois barcos. De novo, a conexão entre as pessoas, representadas pelas chaves, marcou o trabalho da artista. Uma foto da instalação integra a mostra do CCBB, mas a temática dos barcos reaparece em Dois barcos com direção. “É um convite ao inusitado, ao desconhecido”, avisa Tereza Arruda.

Para a galeria de vidro, Chiharu concebeu uma obra que está sendo confeccionada de acordo com a estrutura do local. Além da memória pessoal, o trabalho fala também de uma memória coletiva. No total, 13 mil folhas de papel A4 e 1.500 novelos de lã foram utilizados pela equipe para construir uma instalação inteiramente branca, formada por pequenos nichos que desce do teto até o chão. “É uma obra efêmera e que trata da memória coletiva”, avisa a curadora. “Sugere um encontro sem ideologias, religião ou política e tem uma relação contraditória com as novas mídias.” Para Tereza, a ideia de memória coletiva que pode ser escrita em cada uma das milhares de folhas de papel interliga a humanidade, ao contrário de uma ilusão de conectividade criada pelas redes sociais.

“Há uma lenda, no Japão, de que, quando uma pessoa nasce, vem um fio preso no dedinho para conectar com os ancestrais.”
Tereza Arruda, curadora

Linhas da vida
Exposição de Chiharu Shiota. Curadoria: Tereza Arruda. Visitação desta terça-feira até 10 de maio, de terça a domingo, das 9h às 21h, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB – SCES Trecho 2 Lote 22)
Ding Musa/Divulgação -
Ding Musa/Divulgação -
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