Correio Braziliense
postado em 01/03/2020 06:00
Sepultura é uma banda que personifica bem o conceito de aldeia global, e o álbum Quadra, lançado em 7 de fevereiro, explora essa temática ao máximo, mas sempre com recortes brasileiros. Fundada em Belo Horizonte, em 1984, a banda de heavy metal se mantém criativa, e é um dos mais importantes e influentes grupos do mundo. Até o momento, se apresentou em 80 países, e essa vivência cosmopolita influenciou fortemente as ideias do 15º disco cheio deles.
“Quadra é uma palavra em português que significa esse espaço delimitado, onde se tem um conjunto de regras e onde acontece o jogo. É uma analogia com a nossa própria vida, nosso país. O Brasil é uma quadra. Argentina é outra quadra. O Japão é outra. E cada um cresce com esse conjunto de regras que inclui educação, religião, política, tradição, família”, define Andreas Kisser, guitarrista e segundo integrante mais antigo da banda, atrás do baixista Paulo Jr., fundador do grupo.
O número quatro permeia todo o disco, desde a definição de “quadra” até a divisão das faixas em quatro eixos, como um compacto duplo com três faixas de cada lado: O lado A reverencia o trash metal tradicional dos primórdios da banda. O lado B evidencia elementos percussivos e ritmos brasileiros. O lado C é mais instrumental e dominado pelo violão. E o lado D acentua o groove.
Saiba Mais
Partindo da ideia dos algorítimos que regem as redes sociais e aplicativos e, por extensão, a vida contemporânea, passou a estudar numerologia e chegou no livro Quadrivium, base da pedagogia da antiguidade clássica que versava sobre as quatro artes liberais. Deste ponto surgiu a ideia de quadra, expressa graficamente na capa do disco: uma moeda com uma caveira e um mapa-múndi, sendo que a moeda é o elemento de troca entre as diversas “quadras”.
Para concretizar a ideia, gravaram as demos na própria “quadra”, em São Paulo, e, depois, foram para Suécia finalizar o disco propriamente dito, com o produtor Jens Bogren, repetindo o processo do álbum anterior. Primeiro, gravaram a bateria em uma ampla sala em Estocolmo, e, depois, ficaram na casa do produtor, ao lado da qual um estúdio completo os aguardava para fazer todas as partes. “A gente comia, dormia lá, foi um processo de imersão total no disco”, conta Andreas.
O toque final foi a inclusão das vozes da vocalista Emilly Barreto, vocalista da banda do Rio Grande do Norte Far From Alaska. A banda conheceu a vocalista pessoalmente depois de participar de um programa do Canal Multishow, apresentado por Jimmi London (Matanza), e a ideia da participação surgiu naturalmente. “Fizemos uma versão de uma música do bob marley, que eles têm, depois improvisamos o Ratamahatta (música do Sepultura). Fiquei impressionadíssimo com a desenvoltura da banda, a criatividade, e a performance da Emmily, uma coisa sensacional. A gente tava no processo final da demo.
Depois de umas duas ou três semanas, a gente ja ia pra suecia pra gravar e tinha uma última música pra fechar. A Emmilly gravou os vocais dela no Brasil e enviou os arquivos, e o toque que ela trouxe era o que faltava para resolver a música.” explica Kisser.
Disco
O novo disco do Sepultura pode ser escutado nas principais plataformas de streaming ou adquirido em CD ou vinil, pelo site da Nucler Blast, que distribui o álbum. Lá, você encontra também camisetas e outros produtos relacionados ao lançamento e ao grupo, assim como no site da própria banda. Andreas Kisser concorda com o fato de que lançar um álbum completo, nos tempos atuais, quando os singles tem preferência, pode parecer meio antiquado, mas ele defende o formato.
“O metal é um universo paralelo nesse aspecto. Tem gente recebendo Quadra e dizendo: ‘É a primeira vez, no Spotify, que eu escuto um disco inteiro’. A arte tem que ser real. Sepultura e metal não é single. É uma história, contada em disco. Você abre a capa, quer ver o encarte. O fã de heavy metal não compra pirata, compra o produto oficial. Ele é um exemplo para outros estilos e outros fãs de música. A grana vai para banda, pra gravadora, e mantém o estilo forte e ativo. Muitas bandas caem na estrada justamente se mantendo com merchandising, pagando contas, gasolina. Isso émuito real”, analisa o guitarrista.
Por fim, neste quesito, defende a autenticidade da banda. “Ficar fazendo música pra rádio, ou pra internet? A gente nunca fez isso, porque vai fazer agora? A gente escutou isso e aquilo, mas, velho, é o oposto. Não é o publico que vai ditar o que a gente é. É a gente mesmo. É a arte que vai ditar. E o público, se gostar, beleza. Se não gostar também, beleza. Segue o jogo.”
*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco
Quadra
Novo álbum da banda Sepultura. Disponível nas principais plataformas digitais e em CD e Vinil, à venda pelo site da Nuclear Blast.
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