Escritor, poeta, pesquisador, crítico, músico e até gestor cultural, Mário de Andrade morreu há 75 anos, em 25 de fevereiro de 1945, deixando para o Brasil um legado que ajudou a definir a cultura brasileira. “Quando eu morrer, quero ficar, não contem aos meus inimigos, sepultado em minha cidade”, escrevera o poeta, que viveu, cresceu, produziu, morreu e foi sepultado em São Paulo. Além do aniversário de morte, a casa na qual Mário cresceu e viveu, um complexo histórico planejado pelo arquiteto Oscar Americano, completa 100 anos e prepara uma série de celebrações.
Para comemorar o centenário de construção dessa casa, o museu prepara, para meados deste ano, uma exposição da história sobre o uso da casa pela família de Mário de Andrade e, também, centro de estudos, teatro-escola, oficina cultural e, mais tarde, museu.
“Esse é um espaço de memória”, contou Marcelo Tápia, diretor-geral da Rede de Museus-Casas Literários, em entrevista à Agência Brasil. “Aqui é também um espaço de resistência porque se reporta a um tempo diverso e é ligado a um personagem que ajudou a fazer a história de São Paulo em vários aspectos, não só como escritor, mas também como professor de piano, como pesquisador da cultura popular e como primeiro diretor do Departamento Municipal de Cultura, o que seria hoje uma Secretaria de Cultura, com a preocupação de preservação do patrimônio e da memória”, disse.
Localizada na Rua Lopes Chaves, na região da Barra Funda, a casa é hoje um museu, mas foi nela que Mário definia como Morada do Coração Perdido, que ele morreu de enfarte, aos 51 anos. Hoje, o local se tornou um patrimônio e é chamado de Casa Mário de Andrade.
Era nesse local que recebia os amigos, artistas e os intelectuais, com quem criou a Semana de Arte Moderna; e onde dava aulas de piano. Foi nessa casa também que deixou viva a sua memória. “Saí dessa morada que se chama o coração perdido e de repente não existe mais”, escreveu o poeta, certa vez. Nesse lugar, ele viveu de 1921, um ano após ser construída, até 1945, quando morreu.
“A mãe do Mário vendeu a casa que eles tinham lá no Largo do Paissandu e comprou esse conjunto de sobrados, projeto do famoso arquiteto Oscar Americano. Ela comprou essta casa para que morasse junto com uma irmã, a tia e uma filha. A segunda casa era para um irmão do Mário e a terceira seria para o Mário, quando ele se casasse. Como nunca se casou, ele permaneceu morando com a mãe aqui”, disse Marcelo Tápia.
A carreira literária de Mário de Andrade teve início em 1917, com a publicação do livro Há uma gota de sangue em cada poema, mas o sucesso veio por meio de livros como Macunaíma, publicado em 1928, e Pauliceia desvairada, de 1922.
A casa guarda hoje apenas alguns objetos da época, pois boa parte do seu acervo foi levada para o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), da Universidade de São Paulo (USP). Um dos objetos que permanecem no local é o piano em que dava aulas, além dos armários que projetou e mandou executar no Liceu de Artes e Ofícios. “Ele trouxe uma inovação à história do mobiliário brasileiro, com móveis feitos sob medida e com vidros para proteger os livros”, contou Tápia.