Como forma de imergir na cultura da periferia carioca, o fotógrafo francês Vincent Rosenblatt retrata aspectos genuínos do funk e histórias escondidas sobre o bate-bola, tradicional desfile carnavalesco do subúrbio. Pela primeira vez no Brasil, a exposição Rio Night Fever está na Galeria da Gávea, Rio de Janeiro, até 3 de abril. Na mostra, 78 obras aprofundam a realidade cultural da favela.
Apenas com uma câmera, Rosenblatt procura ressignificar movimentos artísticos que, por vezes, são subestimados. “É na favela que surgem as cenas nas quais mais sinto verdade e resistência”, comentou o fotógrafo, em entrevista ao Correio. Segundo ele, os últimos 15 anos de sua vida foram destinados à busca de registros humanizados que comprovem a existência de uma cultura única e ignorada por parte da sociedade.
Escolhido como um dos temas para a mostra, o movimento dos bate-bola, ou Clóvis, é comum em comunidades do Rio de Janeiro desde meados de 1930. Fantasiados de palhaço e vestidos com máscaras, macacões e adereços coloridos, o grupo sai às ruas da cidade interpretando personagens.
Para uns, o diferencial do figurino é a utilização de sombrinhas de frevo. Outros preferem resgatar a cultura do século passado ao carregar bexigas de boi para fazer barulho. “São pessoas de baixa renda, que produzem fantasias que custam até três salários e, mesmo assim, se organizam para um espetáculo efêmero, mas que ressignifica o morro”, contou Rosenblatt.
Já o funk foi ilustrado pelo fotógrafo para traduzir o sentimento da juventude da periferia do Rio. De acordo com ele, ainda que a quantidade de bailes funk tenha diminuído esporadicamente no estado em razão do preconceito estrutural, “artistas novos crescem o tempo todo e o mundo precisa conhecê-los”. Além disso, “fotografar a cultura do gênero musical implica em abrir espaço para um “desejo de arte orgânico da população”, completou.