Na recente entrega do Oscar, o discurso mais potente veio do premiado ator Joaquin Phoenix (Coringa) que listou, na mensagem, elementos de uma angústia, com impacto coletivo. Para além da desigualdade, do duelo contra injustiças tocantes a gays, índios e animais, o ator falou da queda nas crenças de que nações e espécies tenham direitos de subjugar terceiro, com impunidade. “Entramos no mundo natural, e o saqueamos seus recursos”, enfatizou Phoenix, como o Oscar na mão. Falou ainda de inseminação artificial em vacas e de bezerros donos de “gritos de desespero”, na intervenção da cadeia alimentar pelas mãos humanas.
As preocupações dos roteiros de cinema e de personalidades da sétima arte com agressões à natureza têm virado plataforma de discussões, que vão das sistemáticas prisões de Jane Fonda (manifestante a favor da implantação da meta de alternativas e energia renovável) e alcançam ainda títulos de cinema como O preço da verdade — Dark waters, em cartaz, há quatro dias.
Com roteiro sugestionado por uma reportagem do The New York Times, o longa estrelado por Mark Ruffalo (o Hulk de Vingadores) mostra a presença abusiva e os desmandos de uma corporação que rima impunidade com degradação da natureza, em nome de suposto desenvolvimento. Ruffalo interpreta o personagem real Rob Bilott ,que desafia a empresa DuPont que, inadvertidamente, despeja produtos químicos altamente tóxicos em região de aterro, nas propriedades de agricultores.
“A improvável ação de um advogado de defesa (de corporações) como Bilott, que trabalha para a indústria química, e reverte sua visão, desafiando uma empresa gigante como a DuPont, resulta em êxito”, destaca o diretor do longa Todd Haynes, em material de divulgação da fita. A disposição de ir contra o sistema na defesa pelo meio ambiente do filme lembra as bases do longa A qualquer preço (em fins dos anos 1990, sob a direção de Steven Zaillian). Num caso real, ocorrido em Massachusetts, nos anos de 1980, uma comunidade — representada pelo advogado Jan Schlichtmann (papel de John Travolta) — processou um curtume vinculado à duradoura contaminação dos lençóis freáticos locais, pelo descarte de produtos tóxicos. Houve a associação dos dejetos ao aumento de leucemia infantil entre os moradores.
Por A qualquer preço, o veterano Robert Duvall teve indicação ao Oscar de melhor ator coadjuvante, na pele de um advogado empenhado em defender as empresas a serem responsabilizadas. Mais do que indicada ao prêmio, Julia Roberts coletou a estatueta dourada, pelo protagonismo em Erin Brockovich — Uma mulher de talento, no qual ela recria a personagem real, hoje com 60 anos. Prestadora de assistência jurídica, Brockovich levantou US$ 333 milhões em indenizações, quando moradores de Hinkley (ao sul da Califórnia) tiveram confirmada a contaminação da água potável por cromo.
Também bastante potente no Oscar 2020, o misto de ficção e documentário da Macedônia Honeyland, competiu em duas categorias: melhor filme internacional e melhor produção documental. No Festival de Sundance, o longa (da dupla Tamara Kotevska e Ljubomir Stefanov), além de ganhador como melhor documentário, ainda teve a fotografia premiada — mas despontou ao conjugar impacto e mudança (num prêmio paralelo). A temática ambiental de um equilíbrio (ameaçado) no universo da apicultora Hatidze Muratova é destrinçada no longa. A narrativa trata da quebra de um pacto dela com a natureza, em que se limitava a explorar apenas metade do mel disponível.
» Denúncias em fotogramas
Uma verdade inconveniente (2006)
Neste longa assinado por Davis Guggenheim, o mapeamento das futuras catástrofes climáticas estão detalhadas, a partir de explicações e modelos ilustrativos revelados pelo antigo vice-presidente Al Gore.
Super size me — A dieta do palhaço (2004)
O painel de excessos de uma dieta que despreze recursos naturais, e se detenha numa cadeia alimentar derivada de fast-food e produtos industrializados norteia o alarmista documentário de Morgan Spurlock.
Terra prometida (2013)
De Gus Van Sant. Companhia de exploração de gás natural tenta cavar a oportunidade de instalação numa pequena cidade americana. Matt Damon e Frances McDormand estrelam o longa, na pele de parceiros da empreitada de convencimento que afronta um ecologista local.
Silkwood, retrato de uma coragem (1983)
Meryl Streep estrela, perfeccionista como sempre, o longa em que uma funcionária de empresa dedicada ao ramo nuclear entra em choque com autoridades por denunciar precariedade na segurança dos companheiros. Baseado em eventos reais dos anos de 1970.
Quando a terra treme (2017)
Dois anos depois do rompimento da barragem mineira de Mariana, o diretor Walter Salles trata do impacto emocional decorrente do desastre. Maeve Jinkings está no elenco.