Diversão e Arte

Folia de convidados

Confira quem faz participação especial no pré-carnaval brasiliense: blocos recebem artistas como Otto, Alice Caymmi, Lan Lanh e Ellen Oléria

Alice Caymmi no bloco Sereia sem pé; Ellen Oléria e Lan Lanh na Essa boquinha eu já beijei; e Otto e Totonho no Cafuçu do Cerrado. O pré-carnaval de Brasília começa com uma lista de convidados selecionados para dar um toque de diversidade na folia brasiliense.


Folia poderosa

De sangue brasiliense, a cantora Ellen Oléria conta que foi adotada pelo carnaval baiano. Foram sete anos seguidos participando de encontros com blocos afro-brasileiros, com Carlinhos Brown e Claudia Leitte. “Sou um filhotinho do carnaval de Salvador. Ali fui alfabetizada na folia”, descreve. A essência desses encontros, da música baiana misturada com o repertório da artista sob os arranjos da banda do bloco carnavalesco Essa boquinha eu já beijei, é o que Ellen Oléria prepara para a festa pré-carnavalesca brasiliense.

Para celebrar o sétimo ano de folia, o bloco Essa boquinha eu já beijei apresenta no baile oficial, além de nomes importantes do cenário musical local, Ellen Oléria e a compositora e percussionista. “Acho muito forte ter um elenco feminino no palco tocando, será poderoso”, afirma. Esta é a primeira vez que a brasiliense deixa o posto de foliã para cantar durante o carnaval em Brasília. “É um espaço para a galera brincar se sentindo um pouco mais segura. O público que frequenta o bloco já vem sob essa convocação de uma folia antirracista, anti- homofóbica. Um carnaval da paz. Cada vez percebo um número maior de pessoas. Essa pauta de uma brincadeira cheia de equidade está sendo aderida não apenas pelo público LGBTQI, mas todos que levam isso no seu cotidiano”, comenta.

Com cinco discos lançados e vários prêmios conquistados em festivais brasileiros, Ellen Oléria desfilará a potente voz no pré-carnaval da capital, bem como unirá o ativismo e a representatividade que exerce na convocação do bloco. “Carnaval nos convida a mergulhar em outras vivências, não precisa de brutalidade. A gente não tem como impedir que as pessoas manifestem aquilo que elas carregam consigo, mas existe uma vibração muito forte. A gente quer mostrar outros caminhos da brincadeira, outras formas de extravasar. É uma festa altamente popular e uma possibilidade de vestir muitas mascaras, ser muitas pessoas, revigora nosso modo de compreensão de sociedade. Nosso desejo não é conter a violência, mas mostrar que temos outros caminhos de curtir sem ofender, sem abusar e respeitando o espaço do outro”, avalia.

Ellen e Lan  Lan se unem à banda oficial da boquinha, composta por Letícia Fialho (voz), Sam Defor (voz), Ju Rodrigues (Voz), Ive Lorena (voz), Larissa Umaytá (percussão), Anne Caroline Vasconcelos (percussão), Pricila Pit (percussão), Fernanda Pinheiro (percussão), Mariana Sardinha (cavaquinho), Irene Egler (violão), Bruna Tassy (contrabaixo e voz) e Thanise Silva (flauta) e Tamara Maravilha (DJ). O show contará, ainda, com a participação de Isadora Pina (saxofone e voz) e Lili Santos (trombone). “É lindo ver nossas meninas virando grandes e poderosas no palco”, pontua Ellen.


Repertório dançante

Prometendo uma mistura inusitada a partir das divas do pop e funk nacional e internacional, o Bloco da Sereia Sem Pé e Móveis Coloniais de Acaju Convidam apresenta: Mulheres de Carnaval. Uma folia pré-carnavalesca entoada por vozes femininas: integrantes do Bloco da Sereia sem Pé, Dj Nana Yung, Batalá, Dj Janna, Realleza, Patubadelas, Dj Donna e a carioca Alice Caymmi. Com uma herança musical forte, Alice puxa a folia pela primeira vez no carnaval brasiliense.        

Na capital, ela chega com o repertório do novo projeto Elétrika. Além da voz forte, a cantora e compositora tem os elementos que o período pede: músicas animadas e dançantes. “Eu sou uma artista de origem tradicional, mas que vive o seu próprio tempo. Escolhi não me alienar apesar de ter sido criada nos moldes da ‘alta cultura’. Um artista que não vive no seu tempo, não expressa a ideia de sua era e não tem expressão não é artista. Acho que a imprevisibilidade do meu trabalho abala uns e agrada a muitos porque a surpresa ainda é um dos fatores chaves da criatividade”, afirma a cantora.


Nordeste no Cafuçu

Otto conhece bem Brasília, mas nunca passou um carnaval na capital. Está na expectativa de ver como a cidade “se transforma” durante a folia. “Quero ver as fantasias, como é que Brasília reage, qual a visão de Brasília. A cidade tem uma personalidade própria, é uma cidade que tem muita consciência, e é isso que vai valer”, diz o músico, que se apresenta amanhã, no Setor Bancário Norte, como convidado do bloco Cafuçu do Cerrado.

O repertório, ele promete, é o mesmo do show que fará no carnaval de Recife, uma tradição na agenda de Otto. “Vai ser meu repertório todo”, avisa. “Todo show eu mudo, e, no do carnaval, mudo um pouco mais. Não sei explicar como, acho que penso antes, a data é uma outra postura, então, puxo frevo, ciranda, sou mais eclético, puxo meus cânticos. O show de carnaval sai um pouco da forma convencional, tem uma temática mais alegre, ufanista, é mais emotivo.”

Para Otto, o brasiliense está acostumado a ter um carnaval animado e a dançar, sobretudo, ao som da pegada nordestina. “Quando vou para aí, vejo que a turma tem um panorama brasileiro maior, não é tão local. Brasília é mais Brasil, tem esse lado político desse grande escritório da política brasileira, mas tem outro lado, com uma juventude que ferve. E que, no meu caso, não é reacionária, careta, pelo contrário, a juventude de Brasília que conheço está na resistência”, acredita Otto, que leva ao palco a própria banda.

Totonho é o segundo convidado do bloco e sobe ao palco com a Orquestra Cafuçu. Ele promete um repertório com alguns funks inéditos e faixas do disco mais recente, Coco ostentação. “E mais algumas levas de break music e dos funks genéricos que sempre toco. O funk é uma música de sarrabulhagem, pra não falar de entretenimento, porque a gente não faz música exclusivamente de entretenimento”, avisa o músico. Ele promete músicas como Segura a cabra, Nhenhenhém e Tudo pra ser feliz. “As mais conhecidas do repertório”, garante. Totonho também deve fazer uma participação especial no show de Otto, e os dois programam um dueto durante o bloco.

Sobre a violência no carnaval, os músicos acreditam que, para combatê-la, é preciso também solidariedade. Durante o bloco Quem chupou vai chupar mais, no último dia 8, o adolescente Matheus Barbosa, de 18 anos, foi assassinado a facadas enquanto brincava. “Uma pena ter acontecido isso. Em Recife já teve muito, mas a gente lida melhor com a multidão, com a bebida. O mais importante de tudo é o bloco. O bloco cuida, é um cuidando do outro, esse é o segredo de ter bloco, é para a família, os amigos, a gente faz bloco pra isso”, diz Otto.

Para Totonho, a questão da violência no carnaval vai além da segurança pública. “A violência não é um problema apenas de segurança pública, é um problema de esperança e desesperança da própria sociedade. Se não  acabar com a ignorância, não acaba com a miséria. Brasília é um lugar tão especial do ponto de vista do que significa... E tudo que acontece aí reverbera muito rápido para o país, então acho que essas coisas são mesmo fugas de infelicidade”, acredita o músico.