A música e a maneira de se produzir e divulgar o conteúdo passaram por transformações vertiginosas com a chegada do século 21. A automatização e o advento tecnológico de plataformas — novos modos de se registrar e veicular a música — fizeram com que os artistas também mudassem a rotina. O modo de se produzir um trabalho não é mais o mesmo. Assim como as oportunidades para quem tem certa autonomia crescem.
Os cantores, que se limitavam apenas aos palcos e estúdios de gravação, estão invadindo outras áreas importantes no fazer musical. A nova geração vem com força nessa pegada. É o caso de Gaab, que, com apenas 21 anos, toma conta das produções nas funções de cantor, compositor e produtor musical. No EP Infinito, lançado no último mês, ele é autor da criação e da produção do trabalho. Além disso, é o responsável por todas as composições e gravou as cinco músicas (Real pensamento, Online, Explode, Não sou mais eu e Reggaetton) sem participações.
“Eu confesso que dá medo, é muita responsabilidade. Mas não tinha pessoa melhor do que eu para fazer isso. Comecei a fazer as minhas coisas da minha forma, fiz do meu jeito. Quero passar o que eu penso para as outras pessoas, pois as músicas traduzem o que eu sou”, explica Gaab.
Mesmo sendo jovem, o cantor apostou em uma produção pessoal neste momento por acreditar ser a hora certa. Com um estilo próprio, que transita pelo funk, pagode, R&B e pop, Gaab consegue entregar uma musicalidade única. E garante que a questão da idade não interfere no processo de trabalho. “Nós, jovens, sofremos um pouco de preconceito. Aproveito minha vida correndo atrás dos meus sonhos e luto pelo que quero. É um trabalho mais íntimo, fiz muitas parcerias em 2019. Se não fosse neste momento, não sei quando seria.”
A Turma do Pagode, que iniciou as comemorações de 20 anos em 2020, também assinou a produção do EP Todo seu, o mais recente do grupo. O trabalho conta com o single Muito cedo e as participações de Ivete Sangalo e Kevinho em outras faixas. Os arranjos foram produzidos pelos integrantes do grupo, e as faixas surgiram por meio de ideias e sugestões. Após duas décadas em atividade, esta é a primeira vez que se aventuram nesta área.
“Foi um processo muito natural. Nós sempre participamos de algumas escolhas nos discos passados, mas desta vez abrimos mão do produtor. Acreditamos que era possível construir do nosso jeito, na nossa pegada e vem dando certo. O público gosta e o novo EP está dando resultado”, conta Marcelinho, cavaquinista do grupo.
A banda Maneva, que completa 15 anos, apostou na intimidade musical para atrair o público ao lançamento do EP Cabeça de folha. Com arranjos e composições produzidas exclusivamente pelo grupo, resolveram manter as características e realizar as músicas em cima do reggae que os acompanha na carreira. Apesar disso, contaram com a presença de um produtor diferente, que trouxe uma nova dinâmica em relação aos outros trabalhos.
“O Sergio Soffiatti (novo produtor) realizou esse trabalho com maestria, em cima da música jamaicana e de arranjos mais lúdicos. Exigiu muito de nós na produção. A gente gravava 30 vezes seguidas a mesma parte, as músicas demoravam cinco dias para serem completadas. Isso tudo em busca do melhor resultado, demonstrando que o projeto foi realizado com alma”, explica Tales de Polli, vocalista da banda.
*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco