Diversão e Arte

Se você fosse a Academia...

O Correio pediu a três amantes de cinema para apontar em quem eles votariam caso integrassem o quadro dos que indicam os vencedores do prêmio em 2020


Ano após ano, os premiados do Oscar  geram algum tipo de polêmica. Seja por não serem preferidos do público, da crítica seja  porque foram cartas marcadas, falaram sobre temas que agradavam à academia e acabaram levando os principais prêmios da noite.

O fato de o Oscar não agradar a todos já é algo comum à premiação. No entanto, e se a Academia fosse as pessoas que acompanham e criticam a premiação? O Correio entrevistou um especialista, um youtuber e um crítico de cinema com a seguinte pergunta “Se você fosse a Academia, quem seriam os vencedores do Oscar 2020?”. A intenção é levar a opinião de cada um dos entrevistados e não os palpites sobre quem eles acreditam que sairão vencedores na noite de 9 de fevereiro.

As premiações dos sindicatos também estão presentes em uma lista própria, assim são levados em consideração o que os atores, diretores, produtores e roteiristas entendem que são os melhores do ano em cada categoria do Oscar. Geralmente, os vencedores nos sindicatos têm grandes chances de levarem as estatuetas douradas na noite do próximo domingo.

Os entrevistados deram opinião nos principais prêmios da noite, todos não técnicos, são eles: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Atriz, Melhor Ator, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Roteiro Original e Melhor Roteiro Adaptado. Cada um escolheu de quem mais gostou ou quem acha que deveria ganhar em cada categoria.



Como votaria - Thiago Romariz
• Chefe de Conteúdo da Ebanix e Youtuber nos canais Thiago Romariz e Sem Hora

Melhor Filme
Parasita
• O coreano Bong Joon-ho eleva a carreira a um novo patamar ao misturar gêneros dentro do drama social que ocorre dentro de uma casa que mais parece um castelo medieval. A arquitetura moderna é desmascarada pela fotografia impecável e pelo design de produção minucioso de Parasita, um filme que fala sobre problemas humanos e atemporais. Um dos melhores filmes da década que se passou.

Melhor Diretor
Bong Joon-ho (Parasita)
• Não existe nada dentro de Parasita que não tenha a assinatura de Bong. Do ritmo das piadas e rapidez da câmera, até a mistura da trilha sonora — que explora o timing cômico do elenco, mas também abusa do suspense no terceiro ato — cada centímetro da casa exala o DNA do cineasta, que mistura bem o cartesianismo necessário para organizar a premissa e a humanidade essencial para que a peça não pareça irreal demais.

Melhor Atriz
Saoirse Ronan (Adoráveis mulheres)
• A jovem é o retrato da nova geração de talentos de Hollywood e em Adoráveis Mulheres consegue personificar com maestria a modernização do texto de Greta Gerwig. Saoirse carrega com suavidade o protagonismo do filme e representa bem o idealismo, coragem e esperança que o roteiro necessita.

Melhor Ator
Adam Driver (História de um casamento)
• Assim como Ronan, Driver é outro representante de uma nova geração de Hollywood que nasceu em filmes indies e se acostumou a explorar várias facetas dramáticas. Em Casamento, o ator brilha por conter o drama e tornar o personagem tão mundano que o texto parece sumir dentro dos diálogos ou incríveis monólogos escritos por Noah 
Baumbach.

Melhor Ator Coadjuvante
Joe Pesci (O Irlandês)
• Ao longo das 3h30 de O Irlandês, Joe Pesci contém a oscilação do humor de seu personagem pelo olhar, pelos gestos e pela forma como toca seus parceiros de cena. Um senhor de idade que representa o amargor da máfia desde a primeira cena, sem esforço ou suor. O clássico e perfeito mafioso da sala escura e cheia de fumaça.

Melhor Atriz Coadjuvante
Florence Pugh (Adoráveis mulheres)
• O contraste necessário para a personagem de Ronan vem com uma Florence Pugh atuando na medida para não tornar sua Amy caricata e quase vilanesca. Firme, apaixonante e no meio do caminho dos desejos de sua família, Amy acha em Pugh o equilíbrio para que o tom do filme siga no romance carismático que se propõe desde o início.

Melhor Roteiro Original
Parasita
• Em poucos minutos cada personagem ganha sua aura, cada ato se propõe a emular um gênero e a todo momento esses conceitos são invertidos por meio de atitudes e diálogos que representam a luta de classes dentro de uma casa moderna e medieval na convivência. Um texto sublime.

Melhor Roteiro Adaptado
O Irlandês
• Ainda que sejam 3h30 de história, o texto de O Irlandês brilha por não glorificar a violência da máfia, mas sim torná-la parte da construção do desespero e da solidão que ela significa para seus protagonistas. Além disso, dentro da linha do tempo proposta ele transforma os personagens em cúmplices do espectador sem forçar ou explicitar cada passo sugerido. 




Como votaria  —  Paulo Duro
• Especialista e coordenador do curso de cinema do Iesb 

Melhor Filme
Parasita
• Melhor filme do ano, como história envolvente, bem dirigido e com uma discussão social e atual.

Melhor Diretor
Bong Joon-ho (Parasita)
• Conseguiu dirigir um filme polêmico com muita sutileza e poesia, sabendo trabalhar com todos os gêneros no mesmo filme.

Melhor Atriz
Saoirse Ronan (Adoráveis mulheres)
• É um palpite e uma torcida.

Melhor Ator
Joaquin Phoenix (Coringa)
• A construção do personagem é fantástica nos levando ao mundo do personagem das histórias em quadrinhos.

Melhor Ator Coadjuvante
Tom Hanks (Um lindo dia na vizinhança
• Essa categoria só tem peixe grande, não tem favorito, mas acho que ele está melhor pela construção de um personagem verídico.

Melhor Atriz Coadjuvante
Laura Dern (História de um casamento)
• Personagem divertida e bem construída. 

Melhor Roteiro Original
Era uma vez… em Hollywood
• Roteiro do Tarantino tem sempre uma carpintaria interessante.

Melhor Roteiro Adaptado
Dois Papas
• Filme com diálogos bem construídos, apesar de ter pouca ação, o filme consegue nos prender na narrativa.



Como votaria — Ricardo Daehn
• Crítico de cinema do Correio Braziliense

Melhor Filme
Coringa
• Para renovar, apostaria numa quebra de paradigma, e o Oscar seria para Coringa, contemplando um filme diferenciado e que conjuga arte, repleta de referências cinematográficas, com amplo poder de comunicação junto ao público.

Melhor Diretor
Martin Scorsese (O Irlandês)
• A irretocável competência de Martin Scorsese estaria num pódio capaz de afirmar o status do streaming, sem desprezar o peso de uma cinematografia que atravessa mais de 60 anos.

Melhor Atriz
Saoirse Ronan (Adoráveis mulheres)
• Já se vão 13 anos, e alguém esquece do despontar de Ronan, em Desejo e reparação? Com Adoráveis mulheres, ela — na quarta indicação, aos 25 anos — costura firmes pontos de independência, num enredo tracejado por delicadeza e alguma resignação.

Melhor Ator
Antonio Banderas (Dor e glória)
• A melhor composição do ano, sem dúvidas é a de Joaquin Phoenix; mas acho que votaria em Antonio Banderas, vencedor de Cannes, e que realmente investe num terreno completamente novo, até mesmo para a recorrente parceria com Almodóvar.

Melhor Ator Coadjuvante
Anthony Hopkins (Dois Papas) e Joe Pesci (O Irlandês)
• Valorizaria a condição dos veteranos Anthony Hopkins, injustiçado ao ser colocado na categoria coadjuvante, ou talvez o inegável apelo do retorno de Joe Pesci — uma presença magnética, mesmo acompanhado de De Niro e Pacino.

Melhor Atriz Coadjuvante 
Laura Dern (História de um casamento)
• Laura Dern é uma figura que absorveu a capacidade de renovação e de investidas arriscadas dos pais — os atores dos anos 70 e 80 Bruce Dern e Diane Ladd. Em História de um casamento, ela emplaca um feminismo muito embasado. O Oscar, no que dependesse de mim, seria dela.

Melhor Roteiro Original
Parasita
• Abrindo frente da primeira entrada de um filme sul-coreano no Oscar, Parasita traz refinamento, boa construção de personagens, preocupação com conteúdo social e ainda a capacidade de surpreender, tudo próprio de uma ótima trama. 

Melhor Roteiro Adaptado
Jojo Rabbit
• Num rompante de coragem, Taika Waititi transborda no politicamente incorreto e tocante, com uma competente provocação que se alia à galeria de perturbadoras fitas de guerra, a exemplo de Pasqualino Sete Belezas (1975) e O tambor (1979).



Sindicatos
Foram analisadas as premiações dos Sindicatos dos Atores (SAG), para atuação, Diretores (DGA) para direção, Produtores (PGA), para Melhor Filme, e Roteiristas (WGA), para Roteiros original e adaptado.

Melhor Filme
1917

Melhor Diretor
Sam Mendes (1917)

Melhor Atriz
Renée Zellweger (Judy: Muito além do arco-íris)

Melhor Ator
Joaquin Phoenix (Coringa)

Melhor Ator Coadjuvante
Laura Dern (História de um casamento)

Melhor Atriz Coadjuvante
Brad Pitt (Era uma vez… em Hollywood)

Melhor Roteiro Original
Parasita

Melhor Roteiro Adaptado
Jojo Rabbit