Correio Braziliense
postado em 29/01/2020 07:00
Da construção do cenário do hip-hop no Distrito Federal à inspiração musical e ideológica do Brasil: este é Genival Oliveira Gonçalves, mais conhecido como GOG. Prestes a completar 55 anos, em março deste ano, o rapper, nascido em Sobradinho, vive a cultura, desde pequeno, dentro de casa quando era educado pelos pais. “Papai e mamãe me alfabetizaram cedo, e a leitura se tornou, então, minha paixão”, conta o rapper, em entrevista ao Correio.
A intenção da musicalidade do poeta, desde a criação do primeiro álbum, Peso pesado, de 1992, e do primeiro grupo, Magrello’s, é desconstruir a visão de que a música brasileira se resume ao MPB clássico, à bossa nova e ao samba. Segundo ele, a imagem do rap nacional ainda é, de certa forma, “sem visibilidade e sem viabilidade”. Porém este é “um contraponto” e, portanto é “essa realidade que nos faz fortes”.
Quando jovem, GOG teve dificuldade em se lançar no mundo da música. Ignorado, muitas vezes, por gravadoras e produtores da cidade, criou a própria empresa. Em busca de espaço para reafirmar o trabalho de sintonia entre a oralidade da música e a cultura social da periferia, foi criada a Só Balanço, em 1996.
Loja de discos e, posteriormente, estúdio de gravação, a companhia contrapõe com toda a criação “rasa” e “anterior”. Assim, foi lá que surgiram novas produções inspiradas na observação da sociedade em denunciar as suas mazelas em versos cantados.
Em 2007, GOG lançava o DVD Cartão-postal bomba!. Na ocasião, o cantor efetivava parcerias com renomes tradicionais, como Paulo Diniz, Lenine, Maria Rita, Ellen Oléria e Gerson King Combo. Entretanto, para ele, a cena atual do rap, com temática diferente do hip- hop consciência, chega para ocupar espaços, em todos os níveis.
Por isso, em relação a nomes contemporâneos como Djonga, Orochi e Karol Konka que surgem, então, no meio musical, o cantor acredita que “o que importa é a criatividade e a disposição política”. Segundo ele, “o sentido, afinal, é saber que o essencial é trazer, mesmo que de forma lúdica, o despertar do senso crítico”.
Escrito como forma de desdobrar a carreira rica em acontecimentos marcantes, em 2010, o poeta do rap nacional lançou o primeiro livro, A rima denuncia. Como proposta inicial, os 48 versos carimbados em folhas literárias trouxeram o amor e a denúncia como atos políticos. “As escolas de ensino fundamental, de ensino médio e as universidades são grandes celeiros, e a minha música contribui para uma colheita, crítica e saudável aos olhos coletivos”, observa GOG.
A última produção do poeta ocorreu em novembro de 2019, com a música Matemática na prática — parte 2. O single contou com a participação de músicos eruditos que formam o grupo Orquestra na rua. Além disso, os cantores Fabio Brazza e Renan Inquérito tiveram, também, voz na gravação.
Imerso no universo da black music, GOG sempre sentiu que tem o papel de contribuição para “viabilizar algo maior e coletivo”. Isso acontece porque, para ele, o rap é o que faz refletir, e é a poesia que tem a competência de transformar a sociedade. Neste ano, em julho, o cantor lançará a 12ª obra, que ainda não teve nome divulgado. “Trata-se de um disco universal: traz poder, magia, harmonia e emana força”.
À vista disso, uma das criações presentes no novo disco, que contém seis faixas, é Anfitriã, que será lançada em março e terá videoclipe dirigido pela produtora Cria de rua . “Equilíbrio, empatia e história são parceiras nesse momento único”, disse.
Por outro lado, o tema central da canção é a ancestralidade. Com o estilo de histórias cantadas e com o rap que conscientiza, o artista trabalha, em suas produções, o respeito e os “pilares da música que trazem a discussão do moderno”.
*Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco
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