Foram anunciados os projetos que serão contemplados no edital Prodav 2018 - TVs Públicas. Ao todo, o edital selecionou 78 obras e mais de 60 milhões em verbas foram direcionados. No entanto, quatro projetos não aparecem na lista. São eles Afronte, Religare queer, Sexo reverso e Transversais. Além de serem de temática LGBT, os quatro têm em comum terem sido criticados nominalmente pelo presidente Jair Messias Bolsonaro em uma live que falava sobre o edital em 2019.
As obras deveriam ser produzidas em formato seriado com seis episódios de 26 minutos e seriam veiculadas em canais de televisão públicos. O edital determina que só poderia ser contemplada uma produção por tema e por estado. As quatro citadas pelo presidente eram todas concorrentes da fase final do projeto, ou seja, não concorriam entre si no edital.
A live de Jair Bolsonaro foi veiculada em 15 de agosto de 2019. O presidente criticou abertamente as quatro produções citando que, segundo ele, eram “projetos preparados para receber as verbas”. Após as críticas, houve tentativas do governo de cancelar o edital, que chegou a ser suspenso por 180 dias. Mediante ação judicial, o concurso foi realizado e anunciou o resultado na última terça-feira.“É uma grande e estranha coincidência que justo os quatro projetos criticados pelo presidente não tenham sido contemplados no edital”, afirma Emerson Maranhão, um dos diretores de Transversais, em entrevista ao Correio.
O projeto Transversais partiu do curta Aqueles dois, e visava contar a história de cinco pessoas transgêneros que moram no Ceará. “O único erro que tivemos foi seguir o edital”, diz Emerson, sobre a não contemplação do filme.
Bruno Victor, umdos diretores de Afronte, considera questionável o fato do edital não ter tido nenhuma interferência externa depois de tudo que aconteceu.
Afronte era um dos representantes do DF para receber verbas. Vencedor do prêmio Saruê no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro de 2017, o curta se tornaria uma série documental-ficção sobre a vida de negros LGBTs. “A primeira ação agora é tentar entender a justificativa dos órgãos para nossas séries não receberem a verba”, afirmou Bruno.“Foi o cumprimento de uma promessa de censura”, afirma Cláudia Priscilla, diretora do projeto Religare queer. “Foi tudo muito assustador, tivemos com a live o entendimento de que estamos em uma guerra cultural”.
A Agência Nacional do Cinema afirmou que não vai se pronunciar sobre o caso.
Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco