Correio Braziliense
postado em 20/01/2020 10:35
Entreter a todo um público, sozinho, com suas próprias piadas não é tarefa fácil. O comediante de stand-up precisa estar sempre se renovando e a todo tempo testando novos textos para que um frequentador não saia de uma casa de comédia sem ao menos dar uma risada.
O estilo de comédia em stand-up chegou ao Brasil por volta dos anos 1960 e se popularizou principalmente depois dos anos 2000, com os comediantes Fábio Porchat, Rafinha Bastos e Fábio Rabin. Com o passar dos anos, a vertente foi ganhando mais credibilidade e vários espaços foram abertos para que os comediantes pudessem se apresentar.
Mas, e as comediantes? Com talento e muito estudo, pouco a pouco elas vão conquistando espaço, ajudando a provar que as mulheres podem estar em todo lugar, inclusive na comédia.
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Mesmo assim, há conquistas para se aplaudir de pé: o festival Mamacitas por exemplo ganha a cada edição mais público e mais representantes. Em 2018, o evento contou com cerca de 60 humoristas para se apresentarem, mas no ano passado o número dobrou, contando com mais de 120 mulheres para apresentarem seus textos. “É um momento que as mulheres estão se jogando nessa arte, ainda estamos no início, mas estamos em um ritmo muito acelerado para conquistar nosso espaço”, conta a comediante Gabriela Abdala.
Bruna Louise
Hoje, Bruna Louise é uma das comediantes com mais visibilidade no Brasil. Próxima dos dois milhões de inscritos em seu canal no YouTube, a humorista faz shows quase diariamente por todo Brasil. Com influência do teatro, ela iniciou na comédia há dez anos, mas até hoje segue uma intensa rotina de treinamento e reformulação. “Não tem muito mistério, é trabalho. O palco é o único lugar para testar piada, então estou sempre testando textos novos, criando piadas, estudando para conseguir melhorar meu show”, diz a artista em entrevista ao Correio.
Com o especial Desbocada lançado, a humorista utiliza a plataforma de vídeos para divulgar seu trabalho, mas aproveita o espaço apenas para lançar vídeos com textos que não serão usados no palco. “O que eu publico no YouTube, não faço mais no show. Quem vai me assistir vê uma apresentação inédita. Comecei no YouTube fazendo vlogs, porque eu vim com uma mentalidade de não poder divulgar meus textos. O Thiago Ventura abriu a cabeça de muitos comediantes para postarmos os nossos trabalhos, porque é uma forma de divulgar o show também”.
Gabriela Abdala
Ainda em início de carreira, a humorista conseguiu conquistar o que muitos e muitas ainda lutam: a visibilidade. Os vídeos Namoro e Não é fácil ter peito grande da humorista se aproximam dos dois milhões de visualizações, uma tentativa arriscada da artista, mas que deu bastante resultado. “O primeiro vídeo de stand-up que lancei era tudo que eu tinha de texto na época. Depois quando criei o segundo e postei, acabou bombando e trouxe mais visualizações para o primeiro”, relata.
A artista, que também é cantora, poeta e pintora, está no stand-up entrou para o mundo do stand-up há menos de dois anos. “Sempre fui artista desde criança, mas nunca imaginei que eu fosse fazer comédia. Eu morei em São Luís do Maranhão, já assistia stand-up e quando vim morar em São Paulo, fiquei em um lugar muito próximo ao Comedians (uma das mais tradicionais casa de comédia do Brasil), comecei a frequentar muito o lugar e me aproximei tanto da comédia que quando me toquei já estava querendo fazer”.
Mesmo com as mulheres adquirindo espaço, a humorista avalia que muitos contratantes chamam apenas homens para se apresentarem. “Não é que o contratante pensa: ‘não vou contratar uma mulher’, mas naturalmente quando ele vai chamar alguém, só pensa em homens. A quantidade de mulheres fazendo stand-up e fazendo um bom trabalho já é relevante o suficiente para que sempre tenham mulheres em elenco de show e em festivais”.
Dopamina
Idealizado pela comediante Renata Said, o grupo formado por 20 mulheres, lota toda quarta-feira o teatro Ato Pequeno há sete meses. De acordo com a criadora, trazer a visão feminina para o mundo da comédia é a mesma de outras vertentes da sociedade. “A gente estar ali falando de nós já é a melhor forma de mostrar a nossa opinião sobre o mundo. Então a importância é a mesma da visão da mulher no mundo, tem que ter mulher no mercado corporativo, no futebol, no vôlei, no ted talks, em todos os lugares. É identificação e representatividade”, pontua Renata.
A artista também avalia que as mulheres estão em seu melhor momento dentro da comédia. “Pode parecer polêmico, mas atualmente é a melhor fase. No começo só tinham uma ou duas mulheres, depois tivemos uma safra com Mhel Marrer e Criss Paiva. Hoje temos um boom, a prova foi o festival Mamacitas. É um momento em que as pessoas estão mais dispostas a ouvir e nós temos que aproveitar isso”.
O grupo já está rodando o país, na última semana realizaram um circuito, se apresentando em três comedy clubs de Brasília e no Guardians, em Goiânia. “Uma das Dopaminas, Stephanie Marques, é brasiliense e ela quis fazer uma temporada na capital. Graças aos contatos dela, a Cíntia Portella, Cintia Rosini, Letícia Carpi e a própria Stephanie se apresentaram em Brasília”, conta.
A artista ainda revelou um desejo: “Nosso maior objetivo não é ser mulheres na comédia, é ser comediante e ponto. Queremos chegar num ponto que quando subirmos no palco, as pessoas não pensem que somos uma mulher fazendo comédia, pensem que somos boas, independente do gênero. Ainda não é o momento, ainda somos mulheres na comédia, mas amanhã espero que sim”.
*Estagiário sob a supervisão de Igor Silveira
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