Diversão e Arte

Exposições na cidade celebram os diálogos e encontros pela arte

São elas: 'Rumor', na Caixa Cultural, e 'Há quanto tempo?', na Alfinete Galeria

Correio Braziliense
postado em 15/01/2020 06:00
Poças de Raquel Nava é uma das obras que integram a exposição
O ruído provocado pelo encontro da diversidade, pelas trocas e compartilhamentos é linha estética da exposição coletiva Rumor, na Caixa Cultural Brasília. A mostra tem a idealização de Cecília Mori, artista e professora do Instituto de Artes Visuais da Universidade de Brasília (UnB), e curadoria de Yana Tamayo.

“O título da exposição sugere uma imagem ruidosa, murmurante, resultante de fenômenos simultâneos que ocorrem quando muitas pessoas se reúnem num mesmo local. Também reflete o tipo de colaboração que temos para que a gente possa ter uma cena artística na cidade: a colaboração entre um grupo de pessoas, a força da universidade e dos espaços independentes. E mostrar como se dão essas relações tão importantes, o encontro de territórios diferentes, a negociação contínua e desejada, que não acontece só dentro da exposição, mas no mundo”, explica Yana.

Divididos entre as Galerias Principal e Piccolas I e II do espaço estão trabalhos recentes de 29 artistas visuais da cidade. De diferentes gerações e com linguagens diversificadas, as produções revelam a pertinência da universidade e dos espaços culturais independentes que acolhem e difundem projetos experimentais. Enquanto a academia colabora com a formação de artistas, de grupos, de pesquisas, de críticos e fomenta uma produção local, espaços autônomos promovem o debate, a troca e a experimentação.

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Para a curadora, Brasília tem uma cena cada vez mais rica e diversa, que anda lado a lado com a cena nacional e internacional. “É muito potente, politizada e forte nas tradições artísticas”, acrescenta. Ao concretizar a exposição, criam-se diálogos entre circuitos muito diversos da cidade, com obras variadas que têm a ver com conexões afetivas e trocas poéticas, e, sobretudo, ressalta o valor do esforço conjunto. “A mostra é também uma vontade de celebrar e mostrar como a presença dos artistas e dos trabalhadores da cultura é importante, é um esforço de tornar as coisas visíveis. Dentro do que a gente viu nos últimos anos, é importante que a gente não deixe de fazer, de demarcar os espaços, os territórios da arte e da cultura e saber negociar para que a gente consiga manter esses espaços e que o público possa ter acesso à arte”, afirma.

Entre pintura, instalação, objeto, desenho, escultura, fotografia e vídeo, nascem diálogos sobre formas de abordar a criação, a matéria, o espaço e distintas maneiras de estar no mundo como sujeitos. Os artistas buscam no dia a dia e nos processos artísticos as narrativas que retornam com outro olhar ao público.

“Toca a realidade em um ponto e traz à tona questões reais em uma articulação poética. Tudo volta para o núcleo do tecido social. São questões de memória, de deslocamento, de inadequação, uma tensão. Rumor realça a relação da arte com a vida, mas não é a vida. Ela nasce do nosso encontro com a vida, com as urgências do presente, e são transformadas em matéria, em algo que faz com que a gente olhe para a vida de maneira diferente e, principalmente, se desloque para olhar o outro, para negociar essas fronteiras”, conclui Yana.

Na Alfinete

Artista visual Pedro Ivo Verçosa pintou os encontros que teve em Brasília

Depois de quase cinco anos de visitas esporádicas, o artista visual Pedro Ivo Verçosa, residente na capital paulista, desembarcou em Brasília para uma temporada de encontros. “Para quem fala que Brasília não acontece nada, em cinco anos mudou muita coisa”, brinca. Da naturalidade das conversas, dos reencontros e das convergências, nasceu a série Há quanto tempo!?, em exposição na Alfinete Galeria.

Quem entra no espaço se depara com uma multidão de pessoas de costas, a maioria usando uma roupa clara. São 72 telas. A singularidade e o retrato se dão pela pintura de Verçosa, marcada, sobretudo, pela gestualidade. “O trabalho não nasceu com vontade de série, mas como desculpa para que eu pudesse encontrar essas pessoas e delas encontrando outras. É muito mais sobre as reconexões com aqueles que estiveram em minha vida, que me apoiaram, gente que acredito. Usei a pintura como desculpa e tomou um rumo muito maior que eu imaginava”, comenta o artista.

Apesar de retratar o outro e de instigar no público a leitura desse indivíduo de costas, o trabalho de Verçosa é quase autobiográfico. “Quando registro alguém de costas, é alguém que ainda não conheço, que não tenho intimidade ou a pessoa que já não reconheço mais, mas que ainda está ali”, descreve. A pintura, como fração de um instante passado, congela a impressão da primeira troca entre o artista e o retratado. Depois, sem acompanhar a imagem que foi desenhada na tela, Verçosa deixa falar e expressar sua gestualidade.

Para quem convive em espaços autônomos e compartilhados há mais de 10 anos, o artista reconhece na troca diária uma influência em seu trabalho. “Não necessariamente acabam aparecendo na estética do trabalho, mas desse convívio”, conta.

Rumor
Na Caixa Cultural Brasília (SBS Quadra 4 Lotes 3/4). Mostra coletiva. Visitação até 1º de março. De terça a domingo, das 9h às 21h.

Artistas que integram a exposição Rumor:

Alina Duchrow 
Cecília Bona 
Cecilia Mori 
Clarice Gonçalves 
Débora Mazloum 
Débora Passos 
Gabi 
Gê Orthof 
Gisel Carriconde 
Gustavo Silvamaral 
Íris Helena
João Teófilo 
Júlia Godoy 
Júlia Milward 
Karina Dias 
Levi Orthof 
LHWOLF 
Lua Cavalcante 
Luciana Ferreira 
Luisa Günther 
Luiz Olivieri 
Maria Eugênia Matricardi 
Mauricio Chades 
Nina Maia 
Raquel Nava 
Rômulo Barros 
Silvino Mendonça 
Tatiana Duarte 
Thalita Perfeito 

Há quanto tempo!? 
Na Alfinete Galeria (CLN 103 Bl. B 66). De Pedro Ivo Verçosa. De quinta a sábado, das 15h às 18h

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