Verso, verso
(a João Cabral de Melo Neto)
o verso me leva ao verso
ao lado seco e vazio
de lado ao lado diverso
o verso me traz o verso
o verso do meio-fio
do pó, do nó, do anverso
o verso me tira o verso
ao se perder em desvio
e ficar em lado inverso
o verso me põe em verso
de febre, suor e frio
para em mim se ver reverso
o verso se põe em verso
no cio do bicho em cio
no verso que morre verso
o verso arquiteta o verso
em teia, nó e pavio
alumia o universo
o verso navega imerso
em todo o verso do rio
João Cabral de Melo Verso
José Carlos Peliano