“Reaja à violência racial/ beije sua preta em praça pública”, esses versos de afeto, crítica e impacto, publicados no jornal do Movimento Negro Unificado (MNU), em 1991, tornaram o escritor, poeta e compositor Ori, na época pseudônimo de Reinaldo Santana Sampaio, famoso. Agora, como Lande Onawale, o escritor baiano lança o livro Pretices e Milongas, nesta sexta-feira, no Simbaz Restaurante, às 19h.
Com poemas curtos, o autor reflete sobre amor, cultura negra, genocídio de homens negros entre outros temas. “Eu considero uma celebração ao olhar negro sobre o mundo, a partir de um diálogo com formas poéticas e musicais”, pontua Lande Onawale, em entrevista ao Correio. Assim, o livro busca criar um diálogo com os leitores, por meio de composições inspiradas nas músicas e danças da capoeira, do samba de roda e do candomblé.
Pretices e Milongas é o quarto livro de Lande, que já lançou Sete Diásporas Íntimas, O Vento e Kalunga, também de poesias. “A diferença desse novo livro é conceitual. Há a ideia de mergulhar e focar no olhar do negro sobre o mundo. Há também a referência estética dos musicais e cânticos, então criei poemas que se aproximavam desse conceito”, explica o autor, que também chama atenção para as ironias dos textos.
Mesmo com tantos lançamentos, a marca de Lande está associada ao poema do jornal do MNU. Escrito há 28 anos, os versos se eternizaram com a internet e sempre voltam à tona nos debates sobre amor afrocentrado e afeto negro. “Esse poema viralizou atualmente. De lá para cá ganhou muita repercussão, vez ou outra aparece na internet. Acho curioso a relação dele com o livro em estética, porque foi meu primeiro poema publicado e vai ser o último até aqui, já que fecho o livro com ele”, revela.
A obra, que levou dois anos para ficar pronta, rendeu, segundo o autor, muitos prazeres, mas também responsabilidades. “Como muitos poemas foram criados a partir de revisitações do que vivi, foi muito prazeroso e ensinador. A responsabilidade vem porque essas formas de captação dos sentidos sociais, por meio das cantigas, é feita de um modo muito elaborado. Então, precisei criar algo belo que se relacionasse com isso”.
De acordo com Lande, a escolha de inaugurar o livro em Brasília se dá pela falta de valorização de obras literárias negras. “Lanço em Brasília, sexta, e em Goiânia, no sábado. Eu acho que escolhi o Centro-Oeste, porque ele ainda permanece um pouco deslocado em função de várias razões dessa fluência com os aspectos da literatura negra. É um desafio me deslocar para lançar o livro em Brasília, onde foi publicado o meu poema do MNU”, completa.
Crítica
Além de celebrar e exaltar a cultura negra, o autor não deixa de tocar em temas delicados, como os assassinatos de negros, muitas vezes associados a crimes policiais. “A polícia sabe onde atirar/ não é no alvo.../ a mira é um ponto preto/ colado em sua própria retina”, reflete no poema Genocida.
*Estagiário sob supervisão Severino Francisco
Lançamento do livro Pretices e Milongas
Simbaz (412 sul, Bl. D, lj. 15). Nesta sexta, às 19h. Entrada franca. Classificação indicativa livre.