Poder de voto, a responsabilidade de eleger políticos, feminismo e cuidados com o ecossistema deram o tom da maioria dos discursos da noite. Única representante feminina no páreo, na categoria de melhor trilha sonora, Hildur Gudnadóttir trouxe para o blockbuster Coringa um dos troféus da noite. Ela se disse motivada pela interpretação fenomenal de Joaquin Phoenix, à frente do longa. Phoenix, na sexta indicação ao prêmio, faturou como melhor ator, com esforços como o de perder 23 quilos para o papel do sofredor Arthur Fleck. O ator engrossou o coro ao espírito de união levantado pelos discursos. "Muitos enviaram apenas desejos positivos [no palco]. Nem sempre fui virtuoso, mas vejo que é tempo de nos unirmos, para trazer mudança", incitou, ao demarcar futuras eleições.
Pela terceira vez, desde a vitória com o roteiro do longa Pulp Fiction, em 1995, Quentin Tarantino levou novamente o troféu, desta vez por Era uma vez... em Hollywood. O autor de Django livre (2013) enfatizou que o elencou acrescentou muitas camadas a seu texto, numa obra valorizada como a melhor comédia em longas e que rendeu prêmio para a performance do coadjuvante Brad Pitt.
Tarantino foi exaltado, por Pitt, como "o cara, o mito, a lenda". Já o colega de cena (e que, novamente, perdeu), Leonardo DiCaprio, suscitou o trocadilho infame do agradecimento a LDC (as iniciais do ator), "um astro e cavalheiro", nas palavras de Pitt.
Mesmo não estando presente, descolado de qualquer discurso cômico, coube a Russell Crowe, vencedor como ator de minissérie (por The loudest voice) dar o recado ecológico, ao mandar uma mensagem em que enfatizou o alarmante estágio das queimadas na Austrália, de onde se pronunciou.
A tragédia que transcorre na Austrália ecoou em outros dos discursos da 77ª edição do Globo de Ouro. O retrato de Crowe de um magnata da tevê, envolvido em caso de assédio sexual, foi valorizado pelos votantes do Globo de Ouro. Jared Harris (Chernobyl) era entretanto o favorito. Outro momento que trouxe surpresa foi a vitória do ator cômico de Ramy Yousseff (de ascendência egípcia), que se destaca numa história de stand-up, em meio ao exame das tradições muçulmanas. O concorrente Bill Hader (de Barry), inesperadamente, perdeu o troféu.
A tragédia que transcorre na Austrália ecoou em outros dos discursos da 77ª edição do Globo de Ouro. O retrato de Crowe de um magnata da tevê, envolvido em caso de assédio sexual, foi valorizado pelos votantes do Globo de Ouro. Jared Harris (Chernobyl) era entretanto o favorito. Outro momento que trouxe surpresa foi a vitória do ator cômico de Ramy Yousseff (de ascendência egípcia), que se destaca numa história de stand-up, em meio ao exame das tradições muçulmanas. O concorrente Bill Hader (de Barry), inesperadamente, perdeu o troféu.
Os efeitos de catástrofe de agressão à natureza retratados na série Chernobyl trouxeram prêmio para a produção HBO, no segmento de minissérie.
Feminismo presente
Quem encantou com um discurso a favor do poder de escolha das mulheres, especialmente por meio das futuras votações nos EUA, foi a atriz Michelle Williams (ganhadora pela minissérie Fosse/Verdon). A atriz destacou que hoje vive em um país em que lhe é permitido escolher a sua vida, se e quando terá filhos, e gostaria que a realidade para todas as mulheres fosse assim.
Como esperado, entre as séries de tevê, Succession despontou como a melhor, ao revelar os bastidores da sucessão de herdeiros de um império de notícias globais. Capitaneando o elenco, e força-motriz para o enredo o personagem do veterano Brian Cox, Logan Roy, deu razão para seu prêmio, o primeiro Globo de Ouro, em meio a mais de 60 anos de carreira. Ele se disse chocado, no mesmo caso do representante da equipe da animação Link perdido — que desbancou títulos como Toy Story 4 e Frozen 2 —, vencedora como melhor longa-metragem.
Discurso politizado
O discurso de contornos mais politizado foi o da coadjuvante em minissérie ou filme de tevê Patricia Arquette, elogiadíssima em The act, baseado em crime da vida real revelado em 2015, e que expunha uma mãe dona de relação patológica junto à filha. "Nos livros de história, o 5 de janeiro de 2020 virá a ser apresentado como um dia em que os Estados Unidos estavam a ponto de ir para a guerra, e no qual o presidente investia em tuítes a respeito de bombas. Veremos pessoas jovens arriscando suas vidas, e ainda poderemos lembrar dos incêndios tomando conta da Austrália. Temos que lutar por um mundo melhor para todos. Mais adiante, temos que votar novamente: temos que chamar todos que conhecemos a votarem
também."
Desbancando figuras como Taylor Swift, Beyoncé e Andrew Lloyd Webber, nomes alinhados na disputa pela melhor música original, Elton John e Bernie Taupin (colaboradores eternos no filão das criações musicais) Elton John e Bernie Taupin venceram na categoria, por I´m gonna love me again (de Rocketman). "Não é só uma canção; fala da nossa relação: um casamento (profissional) de 52 anos", demarcou Bernie Taupin. O ator Taron Egerton, na primeira indicação ao prêmio, levou pela caracterização de Elton John (em Rocketman).
A figura de mulheres poderosas foi revereciada em ao menos dois prêmios: um deles, o de melhor atriz de série dramática atribuído a Olivia Colman (por The Crown), em que, a exemplo do feito em A favorita, interpretou mais uma rainha: Elizabeth II. Já expoente no elenco do longa História de um casamento, a coadjuvante Laura Dern exaltou o diretor do filme Noah Baumbach: "Ele deu voz aos sem-voz. E eu fiz isso mesmo: fiz uma homenagem à figura de uma advogada de divórcio", brincou, para, em seguida, saudar a mensagem de união do filme.
Outro desbancado na festa foi Andrew Scott, o padre gato de Fleabag, responsável por tensão sexual da série. Quem faturou o prêmio de melhor coadjuvante em série foi Stellan Skasrsgard, que interpreta representante do governo soviético, em meio ao desastre de Chernobyl.
O veterano ator de Mamma Mia! brincou com um episódio em que se deu conta de suas limitações cênicas, pela sua falta de sobrancelhas. Outra tragédia, a do luto mas tratado sem o peso esperado, e que abate a personagem de Phoebe Waller-Bridge, em Fleabag, rendeu o Globo de Ouro de melhor atriz de comédia. A escalada da confusa solitária britânica que investe em desejos sexuais para superar o luto emplacou ainda premiação de Fleabag como melhor série de tevê.
Talvez um dos prêmios mais previsíveis, o prêmio de melhor filme estrangeiro ficou para Parasita (de Bong Joon Ho). O diretor sul-coreano Ho enfatizou no palco: "Quando a gente supera a barreira das legendas, descobrimos filmes incríveis. Falamos uma única língua: o cinema."
A despedida, com muito apoio de talentos chineses, trouxe para a atriz Awkwafina (revelada em fitas como Podres de rico) o troféu de melhor performance em comédia ou musical. No palco, ela agradeceu à avó, "melhor amiga" e a mulher que a criou.
Saída do filão do entretenimento e da difusão de informações, a apresentadora Ellen DeGenneres que recebeu o prêmio honorário Carol Burnett, brincou na ocasião, dizendo que, estando premiada no palco, "não precisaria fingir interesse nas falas dos outros". Como profissional, ela destacou o emblema que leva à frente, anos a fio, na tevê: "Quero que (os espectadores) fiquem bem e sorriam". Seguindo a mesma linha da colega, outro homenageado foi Tom Hanks, que agraciado com o importante troféu Cecil B. DeMille.
Também homenegeado pela Associação, Tom Hanks primeiro pediu desculpas porque estava gripado e disse emocionado que um homem é abençoado quando tem uma família como a dele em sua frente, disse apontando para a esposa e seus cinco filhos. "Eu nem sei dizer o quanto o amor de vocês significa pra mim." Depois, o ator falou de como é o processo de atuação dos atores e que ele seria um idiota se não "roubasse" das pessoas com que ele trabalhou, pessoas que são reconhecidas só pelo primeiro nome, como Meryl, Denzel, Antonio, Meg, Julia, Sally Field (essa com dois nomes, mas não menos memorável, como ele mesmo disse). "Eu assisti os exemplos deles."