Nasci, cresci e vivi em Taguatinga por 17 anos até decidir seguir a carreira de atleta profissional. Não foi fácil deixar a minha família, amigos e Brasília tão jovem, mesmo sabendo que, ganhando ou perdendo, ficaria com eles para curtir as vitórias e curar as feridas das derrotas. Mas levei comigo todos os meus sonhos. Aprendi a tê-los com meus pais, pioneiros, candangos da construção e da consolidação de Brasília como a capital da esperança de todos os brasileiros.
Eles sempre repetiam que Brasília era a terra de oportunidades, de uma nova vida, de um novo Brasil onde poderiam ter emprego, casa própria e constituir família em paz. Aqui encontraram a solidariedade, o espírito inovador e multirracial e de culturas tão diversas do nosso imenso Brasil. Cariocas, gaúchos, cearenses como meus pais, mineiros e amazonenses, conviviam focados em construir e consolidar a Brasília de todos os brasileiros.
Vivi os sonhos deles andando com a minha turma de colégio nas ruas de Taguatinga, indo à Praça do Relógio, ponto de encontro e referência da cidade, um dos lugares mais marcantes na minha juventude. Ou indo ao “Pithon”, como chamávamos o Parque da Cidade. Aos 13 anos, realizei um sonho: conhecer o Lago Paranoá, tão distante dos moradores de Taguatinga, imenso aos meus olhos. Quando fui ao colégio Maria Auxiliadora, no Plano Piloto, como atleta-bolsista, pude vivenciar esse momento.
Para ir aos treinos em clubes que abriam as portas para jovens atletas, peguei algumas caronas até o Setor de Clubes. Coisa impensável nos dias de hoje, quando os números de feminicídios e abusos nos mostram que apenas o fato de ser mulher já nos torna vulneráveis.
Meu sonho para os 60 anos de Brasília é que ela continue sendo a terra das oportunidades onde se podia sonhar, onde as pessoas se orgulhavam de suas histórias desbravadoras por acreditarem no sonho de JK.
Sempre carreguei Brasília comigo. Ela é minha essência. Esse é o sentimento, o de que sempre fui barrista com relação à minha terra. Tenho orgulho de ser brasiliense. Todos nós temos orgulho de sermos dessa terra, de sermos de Brasília.
Brasília era um exemplo para o país. Exemplo de arquitetura inovadora, de educação exemplar, de segurança e tranquilidade. Era exemplo da determinação de um povo para ocupar seu território, o seu Planalto Central.
Passados 60 anos, perdemos muito dessa qualidade de vida, mas não podemos desistir. Brasília ainda é jovem, diferente de outras cidades, e única na ocupação de seus espaços culturais.
Aqui todas as tribos se misturam e convivem de maneira harmoniosa. Os repentistas nordestinos de Ceilândia convivem com os funkeiros do Gama. Ou com os roqueiros do Plano Piloto, que já fizeram o Brasil cantar com a Legião Urbana, o Capital Inicial e o Paralamas do Sucesso.
É isso que desejo para Brasília. Vivermos em paz, com solidariedade e amor. Com mais justiça social e menos desigualdades. Com todos se respeitando, independentemente de sua opção sexual, raça, religião ou posição política.
Brasília é isso. A união de brasileiros, a síntese do Brasil.
*Senadora da República