Vinícius Veloso*
postado em 26/12/2019 08:17
As características do teatro são o ponto-chave para entender a maneira como é conduzida a trilogia Minha mãe é uma peça, especialmente por causa da proximidade dos personagens com o público. A produção brasileira, inspirada no espetáculo teatral homônimo, conta mais uma vez com Paulo Gustavo à frente do longa, interpretando a personagem Dona Hermínia e sendo o expoente técnico do elenco.
Com mais de R$ 170 milhões em bilheteria e 13 milhões de espectadores nos dois filmes passados, Minha mãe é uma peça 3 surge sem muitas revoluções no enredo. Segue o padrão da franquia, com uma mulher controladora, apaixonada pelos filhos (e pelo neto) e divorciada. No elenco, Mariana Xavier continua no papel da filha Marcelina e o ascendente Rodrigo Pandolfo se torna Juliano, filho de Dona Hermínia. A atriz e o ator, com papéis centrais no longa, entram no mesmo ritmo de Paulo Gustavo, que incorpora todo o protagonismo e eleva a atuação dos outros atores.
Desta vez, no entanto, a intensidade da personagem principal é refletida em uma vida monótona. Lidando com a saída dos filhos de casa, precisa buscar por novas aventuras para movimentar o cotidiano e sair do marasmo em que se encontra. Nesse ponto, o filme acerta ao representar uma classe mais velha da sociedade que tem a necessidade de continuar se sentindo vivo, mostrando que é possível ter uma vida ativa mesmo com uma idade avançada.
A questão do humor, como em todo bom filme de comédia, se apresenta de forma inteligente e leve, no mesmo formato das produções passadas. Interessante é perceber como os diálogos se atualizam de forma moderna dentro do longa. Temáticas como a homofobia, as relações familiares, questões trabalhistas e a gravidez se apresentam dentro do roteiro que conta com ótimas piadas. De forma histérica e pouco controlada, Dona Hermínia expressa os pensamentos sem muita preocupação com a reação das pessoas ; e sempre com uma tréplica na ponta da língua.
Ponto interessante no longa dirigido por Susana Garcia é a presença de personagens secundários que exercem papéis fundamentais para o proceder da trama ; que gira sempre em torno de Hermínia. Os personagens Carlos Alberto (Herson Capri) e Waldeia (Samantha Schmütz) trazem, ao contracenar com Paulo Gustavo, um pouco de lucidez para a estrela do filme. Lúcia Helena (Patricya Travassos, que faz as vezes de uma parente próxima) e Dona Lourdes (papel de Malu Valle, na pele da futura sogra de Juliano), por outro lado, despertam todo o estresse possível na personagem principal.
Para não dizer que apenas a comédia está presente ; mesmo sendo o ponto principal do filme ;, cenas de transição e flashbacks conseguem trazer um pouco de emoção em alguns momentos para quebrar as constantes risadas.
Assim como no teatro, os três filmes de Minha mãe é uma peça trazem a sensação de três temporadas nos palcos que podem se renovar a qualquer momento, fazendo com que novas produções apareçam. O enredo de Minha mãe é uma peça 3, firme e conciso no ideal, conta com algumas cenas perdidas e certa previsibilidade, mas cumpre o papel de divertir o público e arrancar gargalhadas nos cinemas.
*Estagiário sob a supervisão de Igor Silveira
Outras estreias
Aqueles que ficaram
De Barnabás Tóth.
O filme candidato ao Oscar, na representação da Hungria, mostra a cura de feridas emocionais de sobreviventes do Holocausto.
Cats
De Tom Hooper.
Jennifer Hudson e Idris Elba estão no numeroso elenco que conta da vida dos gatos Jellicles, antenados na capacidade de melhoria de vida: a cada ano, um passa a ser o escolhido de uma liderança para despontar para nova realidade.
Deus é mulher e seu nome é Petúnia
De Teona Strugar Mitevska.
Desempregada e solitária, mulher sofre preconceitos, ao ganhar projeção, ao acaso, em ritual de pequena vila da Macedônia.
Minha irmã de Paris
De Anne Giafferi.
Depois de uma péssima cirurgia plástica, atriz precisa de uma substituta em filme,
e apela para a irmã.
O último amor de Casanova
De Beno;t Jacquot.
Mariane de Charpillon poderia afetar a vida do famoso Casanova, a ponto de torná-lo, em nada, mulherengo?