A infância é um período em que o estímulo criativo se faz presente, com importância considerável. E, para as crianças, é natural que o desenho seja um ponto de expressão de todos os pensamentos recém-construídos com formatos, cores e significados. Inclusive, muitas acabam por levar este momento para a vida. É o caso dos ilustradores, que transformaram o hobby em trabalho.
Em Brasília, por exemplo, novos nomes surgem a cada dia. Entretanto, a profissão é cercada de mistérios. Por ser mais um movimento artístico ; assim como é o grafite, o malabarismo e outros, a maior parte da classe de ilustradores segue por conta própria, sem um mercado definido e específico para trabalhar.
Com divulgação própria e em um âmbito informal, os artistas se viram para realizar os trabalhos e conseguir transformar os desenhos em dinheiro. É o caso de Oberon Blenner, 25, ilustrador brasiliense, que abandonou a faculdade para viver da arte.
;Eu sempre quis ser desenhista. Desde criança nunca me imaginei sendo nada além disso. Durante a infância, desenhava muito mangá e animes. Na adolescência, fiquei mais focado em conhecer outros tipos de áreas artísticas, como o grafite e a arte visionária. Somente há dois anos percebi que podia viver disso. Abandonei a faculdade, e comecei a me jogar no mundo da tatuagem, que é um meio que eu conseguia ver de ganhar grana com arte. Mas meu foco mesmo sempre foi ilustração;, conta.
Os desenhos realizados pelos ilustradores, no entanto, estão passando por um novo processo, disponível por conta dos avanços tecnológicos. Os artistas contam com mesas digitalizadoras que permitem que o trabalho seja transferido e concluído nos computadores com maior firmeza. A ilustradora ceilandense Camila Rosendo, 21, começou a desenvolver os projetos para venda a partir dessa inovação.
;Desenho desde pequena e sempre gostei. Com o passar do tempo, fiz cursos de desenho e pintura digital e acabei por comprar uma mesa digitalizadora. Investi em mais cursos para aprimorar as minhas habilidades e comecei a cobrar pelas ilustrações;, explica.
Divulgação
Apesar de trabalhar no ramo há mais de um ano, o ilustrador Oberon destacou-se neste ano no Distrito Federal após postar uma imagem sobre Ceilândia nas redes sociais. A partir dela, as pessoas começaram a reconhecer o trabalho do artista.
;As redes sociais são atualmente meu maior meio de divulgação e, inclusive, acho que as uso mais pra isso do que qualquer outra coisa. Tem gente que entra no Facebook para debater, pra ver grupos e discussões. Eu uso pra divulgar a minha arte. Mas o Instagram tem sido a ferramenta mais eficaz, por conta do alcance gerado pelas hashtags. Lá também consigo conhecer muitos outros artistas bons e que me inspiram a continuar nesse ramo;, explica.
No mesmo caminho, o ilustrador Vinícius Vinhal, 21, garante que a divulgação bem realizada é a melhor forma de expor os desenhos. ;Uma divulgação benfeita e uma boa interação com as pessoas que valorizam seu trabalho tornam o compartilhamento do que você faz ser uma coisa muito natural.;
Mercado
A ilustração, surgida a partir do desenho, está sendo monetizada por quem produz e acaba por se tornar a representação de vários produtos. Vinhal, por exemplo, atua com diversas mídias. ;O que mais sai são prints em vários tamanhos do meu trabalho autoral. Também produzo adesivos, bottons e faço ilustrações para animação, vídeos institucionais e para a internet;, conta.
As questões relacionais de tamanho, cores e preço são tratadas entre cliente e fornecedor. Não existe nada regularizado acerca do trabalho de ilustrador nesse âmbito. Camila trabalha com ilustrações para quadros, capas de disco e desenhos pessoais, mas não consegue dar um valor específico para o trabalho. ;Depende. Varia muito de acordo com a técnica utilizada e o estilo solicitado.;
Oberon Blenner, que trabalha com ilustrações para capas de rap, estampas de camisetas e cartazes de eventos, faz questão de explicar, ainda, que só dá para aprender quando você se envolve e começa a lidar com clientes. ;O principal problema é que como não há nada muito bem claro sobre as transações, e o cliente é um consumidor, fica uma relação desigual. O cliente conhece os direitos, mas nós, como ilustradores, não temos algo que explique claramente o que pode e o que não pode. Muitas vezes, o cliente exige coisas (principalmente alterações) que demandam de você muito mais do que o trabalho te recompensa;, ressalta.
*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco.