Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Lino Ribeiro coleciona personagens na capital em que vive há 47 anos

Morador de Brasília, há quase 50 anos, o ator Lino Ribeiro comemora o momento repleto de vitórias profissionais, especialmente no setor audiovisual

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Entre uma lista interminável de trabalhos para cinema e uma série de peças institucionais, o ator Lino Ribeiro não faz grandes distinções. ;A publicidade é vista como um trabalho menor; mas é desafiador. Lá existe texto e existe personagem a ser trabalhado. Para mim, tudo é trabalho; não perco uma oportunidade;, comenta Lino, que, em 2020, completará, ;junto com Brasília;, 60 anos de vida. ;A profissão de ator tem sido minha principal ocupação. ;Recebi uma bênção de Deus: não tinha desenvolvido o lado de ator, mas, a partir do momento em que fui desafiado pelos diretores e pessoas que acreditaram em mim ; passei a me especializar mais, a estudar mais;, conta.

Desde a premiação no Fecuca, Festival de Curtas de Calouros da UnB, há alguns anos, Lino se manteve atuante, até o atual momento máximo de prestígio. Com o filme O homem que não morava, feito em Goiânia, ele faturou o prêmio de ator, no 14; Encontro Nacional de Cinema e Vídeo dos Sertões (Floriano, Piauí). O troféu chegou às mãos dele, depois de uma festa no fim de semana passado. O próximo ano chegará promissor para o artista que teve participação em três longas em finalização: O espaço infinito (de Leo Bello), em que faz um porteiro de hospício; o filme híbrido de Larissa Leite Cartas, na pele de um amigo do protagonista e Advento de Maria (de Vinícius Machado), no papel de um homem que espera por resgate na época de Natal. A exibição do seriado Crias de Dulcina (de Caetano Curi) também traz animação.

Mestre em educação física, Lino, em 1988, integrou a comissão técnica que auxiliou a vitória da seleção feminina juvenil de voleibol nos Jogos de Seul. O ganho com os esportes rendem atuais convites na profissão de ator. ;Meu físico varia de acordo com o trabalho. Controlo muitos aspectos do corpo então não tenho problemas em diversificar. Todo o dia, estou em atividade;, conta. No cotidiano, Lino faz questão de driblar preconceitos. ;A não valorização do negro no meio em que ele vive, por mim, é enfrentada com galhardia. Sou consciente do meu papel na sociedade, e até me vejo como uma luz que pode deixar um legado ; um exemplo para aqueles que trilham o caminho do bem", observa. A entrega à atuação e a expressão ;com pureza, com limpeza; faz parte do compromisso, ;com pai, mãe e oito irmãos;.

Na ;fase feliz da vida;, Lino conta que, em novembro, teve ;privilégio e honra; de substituir o ator Flávio Bauraqui na produção goiana Fado, com ampla participação de profissionais mulheres e de atores negros. ;Fala da terceira idade e de como é significativa a relação dos familiares, na hora da morte;, explica. No ano passado, ele integrou o longa No caminho pro quilombo, de Fabrício Cezar, enquanto em 2019 esteve no seriado (da TV Brasil) Cozinhadinho, e ainda viu a estreia dos longas O céu perdeu a cor (de Gustavo Serrati) e Cavaleiro de Malta (de Davi Ribeiro).

Ligações capitais

Muito próximo do festejado ator Gê Martu, Lino Ribeiro teve aulas de atuação com a filha do amigo, Luciana Martucelli. A circulação de Lino em simples passeios pela cidade, como uma ida à Água Mineral, pode elencar lembranças fortes como a participação dele no clipe Lambida, de Joe Silhueta: ;Foi fazer cinema com clipe, uma coisa maravilhosa;. A convivência com personalidades da cidade também acrescentaram muito na vida de Lino. ;Nos últimos anos de vida do ator Andrade Júnior (morto em maio), eu estava colado com ele. Foi um grande ator de Brasília. Os três últimos filmes dele, nós fizemos juntos: Cigano negro e Cidade livre, ambos do Fabrício Cezar, e A terra em que pisar, de Fáuston da Silva;, relembra.

A participação no curta Cigano negro levou o ator a um intensivo no Rio de Janeiro, acompanhado do ator Mio Vacite (o fundador da União Cigana do Brasil, morto em março), com quem aprendeu a falar um tanto de romani. ;Ele foi muito amável, e me repassou conhecimentos de hábitos ciganos;, conta. Já Cidade Livre trouxe o desafio de o ator encarar três personagens: um bluesman, o comerciante Bernardo e ainda Padre Roque (morto em 1994 e fundador da paróquia São João Bosco).

;O padre foi figura emblemática no Núcleo Bandeirante: me emociono ao falar dele porque ele batizou todo mundo daqui. Pegou em arma para não liquidarem a Cidade Livre, quando quiseram terminar com esta cidade maravilhosa;, explica. Com homenagens a Juscelino Kubitschek, dona Sara e Bernardo Sayão, Cidade Livre abraça ainda tramas de pioneiros comuns. No caso de um dos personagens, Lino faz o herdeiro de comércio que não aceita nada de papel. Só recebe moedas. Tudo reativa a memória do ator que, depois de se instalar no Cruzeiro, em 1972, assumiu a cidadania de morador do Núcleo Bandeirante, há mais de 35 anos.