Adriana Izel - Enviada especial
postado em 07/12/2019 06:40
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São Paulo ; O ano que vem promete ser aquecido para o mercado de produção seriada no Brasil. Isso porque dois grandes serviços de streaming aproveitaram a chegada da sexta edição da Comic Con Experience (CCXP) ; feira dedicada à cultura pop em geral, iniciada na última quinta-feira e que chega ao fim neste domingo (8/12) ; para revelar que a estratégia em 2020 é apostar em conteúdos locais.
Desde que a Globo decidiu transformar o Globoplay em um serviço que vai além da programação da tevê aberta, a plataforma tem produzido conteúdos originais e, algumas vezes até, exclusivos do on-demand. Mostrando que pretende angariar ainda mais público aumentando o seu catálogo, o streaming anunciou, durante o evento de cultura geek, 16 novas produções para 2020.
Entre os títulos estão As five (Cao Hamburger), série derivada da novela Malhação: Viva a diferença, vencedora do Emmy Internacional em 2017, Arcanjo renegado (Heitor Dhalia e José Júnior), Onde está meu coração e Desalma. O spin-off do folhetim foi o primeiro produto a ganhar exploração do Globoplay. A série foi tema do painel que abriu a CCXP, dedicado ao cineasta Cao Hamburger. Além de falar sobre Castelo Rá-Tim-Bum, criação do roteirista que completou 25 anos em 2016, ele aproveitou para dar os primeiros detalhes do novo projeto: As five.
Ao lado do elenco formado por Daphne Bozaski (Benê), Heslaine Vieira (Ellen), Ana Hikari (Tina), Manoela Aliperti (Lica) e Gabriela Medvedovski (Keyla), Cao exibiu o primeiro trailer da trama que, horas depois, foi disponibilizada para o público em geral nas redes sociais da Globo. Nas imagens, o quinteto aparece se reunindo novamente por conta da morte da mãe de Tina. Após seis anos sem se ver, as meninas se reencontram em São Paulo e compartilham os conflitos da vida adulta.
Vocês estão preparados para matar as saudades de ? Em 2020, elas chegam aqui. %u2764
; globoplay (@globoplay)
;A gente resolveu fazer a série por demanda do público. Mas a gente já tinha contado várias histórias na escola. Eu não via como continuar. Só que, depois, veio esse clique dessas personagens em outro universo. Agora, elas têm a mesma idade das atrizes, são jovens adultas;, explica. A inspiração para o roteiro veio, inicialmente, da vivência das próprias protagonistas. Antes de começar a escrever, Cao Hamburger fez questão de conversar com as meninas.
As five mostrará uma outra linguagem em comparação com a novela ; mesmo que a produção tenha bebido da fonte seriada. O folhetim teve 213 capítulos, enquanto o seriado terá 12. ;Tudo é mais rápido. A técnica de escrever tem que ser precisa e não contar todos os passos. O público preenche (as lacunas) com a imaginação;, afirma o criador. Antes mesmo da estreia, a série já está confirmada para uma segunda temporada e Cao já começou a trabalhar no roteiro.
Durante o painel, as atrizes focaram o bate-papo nos desafios de voltar a viver essas personagens em outras circunstâncias, dois anos depois. ;A gente conversou muito para entender o que aconteceu com elas nesse tempo;, conta Daphne. Apesar das mudanças, Manoela garante que As five continuará a ser uma história protagonizada por mulheres fortes e com a exploração dos conflitos desse universo, só que agora sob o ponto de vista de jovens adultos. ;Foi legal poder retratar essa nova geração que já nasceu com o mundo digital. Achamos muito importante falar disso neste momento;, completa Hamburger.
Em janeiro, a Globo começa os lançamentos com a versão seriada de Chacrinha. Em fevereiro é a vez de Arcanjo renegado, que tem Marcelo Melo Jr. e Dani Suzuki no elenco. No mês seguinte está prevista a divulgação dos episódios de Desalma, com Cássia Kis, Cláudia Abreu e Maria Ribeiro. Além das segundas temporadas de A divisão e Aruanas e a primeira versão seriada do podcast Caso Evandro, confirmadas para 2020.
Expansão no Brasil
Em busca de se consolidar no , a Amazon Prime Vídeo apostou todas as fichas em 2019 no Brasil. Primeiramente lançou uma assinatura mais atrativa, com preços populares. Na reta final do ano, anunciou a entrada no cenário audiovisual com seis conteúdos originais, que começarão a ser veiculados no serviço de streaming a partir de 2020.
Assim, o Brasil se junta ao Japão, México, Austrália, Índia e França na lista de países em que a Amazon percebeu a necessidade do investimento no conteúdo local. ;Há alguns países em que o público quer consumir conteúdos locais, além dos norte-americanos, que é o oposto do que acontece no Canadá. The Boys foi superbem no Brasil, mas sentimos que aqui (produzindo conteúdos originais) seria uma grande oportunidade de ampliar (a experiência para o público), além de um desafio;, analisa James Farrel, vice-presidente de International Originals da Amazon.
É com essa expansão que a Amazon busca se diferenciar em um cenário de batalha dos streamings pelo público. ;Queremos dar voz aos criadores, queremos ser autênticos. Isso é sobre ideias, paixão dos criadores e autenticidade. Estamos dando às pessoas conteúdos em qualquer lugar do mundo. É isso que nosso público quer;, avalia Jennifer Salke, presidente da Amazon Studios.
Em meio à crise atual no cenário, o cineasta Breno Silva, envolvido em um dos projetos, apontou as parcerias com as produtoras Conspiração, 02 Filmes e Los Bragas e o investimento no audiovisual brasileiro como um alento. ;Essa parceria é muito importante neste momento em que estamos perdendo esse apoio local;, define. Questionado se isso poderia ser um impedimento, James Farrel fez questão de dizer que, se for preciso, a Amazon buscará outras formas de investimento para continuar a expansão no Brasil.
Conteúdo
O início do projeto no Brasil será com a estreia de Tudo ou nada: Seleção Brasileira, em 31 de janeiro. O conteúdo é uma série documental gravada durante a Copa América de 2019, realizada no país. O dia a dia do time comandado pelo técnico Tite e os bastidores, que normalmente não chegam aos torcedores, será compartilhado na atração.
O segundo projeto é o reality show Soltos em Floripa, formato que lembra De férias com o ex, atração da MTV que, em sua nova temporada, também tem sido licenciada na Prime Vídeo. O programa, que deve chegar ao serviço ainda no início de 2020, acompanha participantes de diferentes estados brasileiros em uma casa. O diferencial promete ser a reação de um painel formado por celebridades comentando os episódios. Uma das convidadas já anunciadas é a cantora Pabllo Vittar, que garantiu: ;Vai ter babado, ou melhor, a renda inteira. (Risos). Não tem roteiro;.
Formato seriado
Dos seis projetos, três seguem o formato mais tradicional de série. O que está mais próximo da finalização é Dom, do diretor Breno Silveira (Dois filhos de Francisco e Entre irmãs). Seguindo uma fórmula de sucesso do cineasta, a produção é inspirada em uma história real de Victor Dom, policial que trabalhou durante anos na inteligência da instituição tentando combater o avanço da cocaína no Brasil. Apesar de não ser uma figura tão conhecida, o personagem que inspirou a trama é pai de Pedro Dom, conhecido por chefiar uma quadrilha especializada em assaltar edifícios de luxo no Rio de Janeiro nos anos 1990.
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Foram precisos 10 anos de aprofundamento na história para que Silveira chegasse ao conteúdo da série, que é protagonizada por Flavio Tolezani e Gabriel Leone. O elenco tem ainda nomes como Laila Garin e Roberto Birindelli. ;Essa história me surpreendeu há 10 anos. Eu tinha uma testemunha da primeira chegada da cocaína no Brasil. E tinha esse pai que sofreu para tirar o filho das drogas. A série tem duas histórias diferentes da mesma moeda. É uma história bem brasileira e que mostra o quanto a luta contra as drogas foi errada no Brasil;, afirma o diretor. Ainda em filmagem, a produção foi gravada no Morro Azul, em Laranjeiras.
Diversidade é a palavra de lei da dramédia Setembro, outra produção brasileira da Amazon em fase de desenvolvimento. A atração tem como roteirista a dupla Josefina Trotta e Alice Marcone, que fez questão de buscar diferentes pontos de vistas para contar a história de Cassandra, uma mulher trans que se muda para um apartamento no centro de São Paulo e é surpreendida quando um menino bate em sua porta em busca do pai. Apesar de ter uma personagem trans, a produção tem como mote a discussão sobre o conceito de família.
;A gente tem que estar se policiando o tempo todo para não cair em um lugar óbvio, nem estereotipado;, comenta Josefina. Alice concorda: ;É um trabalho constante de se policiar, porque eu, mesmo como mulher trans e negra, posso reproduzir o machismo, o racismo;. A diversidade também está na presença de personagens nordestinos, sulistas e do interior.
O último projeto desse gênero é Lov3, criação de Felipe Braga e Rita Moraes, uma comédia sobre uma família que tem a vida mudada depois que os pais revelam algo para os três filhos de 34 e 24 anos. ;Depois da notícia, eles começam a lidar de diferentes maneiras. A gente parte desse princípio, de questões que estão no dia a dia e as grandes, como o que é traição, a monogamia. São personagens reais;, garante o roteirista Rafael Lessa. ;O nosso pontapé foi olhar para as experiências contemporâneas;, completa Braga. Ainda sem grande detalhes foi anunciado o Projeto Marcelo D2, título provisório da sexta produção da Amazon Prime Vídeo no Brasil.