Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Fotógrafo João Paulo Barbosa foca na questão ambiental da Antártica

Ele criou um projeto no qual acompanha expedições realizadas em veleiros e documenta a região

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Apenínsula antártica é um dos lugares mais sensíveis às alterações climáticas do planeta. Somado a isso, é também um dos mais curiosos em termos de soberania e estatuto jurídico: como pelo menos 12 países reivindicam o território, ele acabou não sendo de ninguém. Graças ao Tratado da Antártica, todos os países têm direito a realizar pesquisas na região e nenhum pode instalar por lá bases militares ou realizar testes nucleares. No entanto, a Antártica está em acelerado processo de mudança, consequência do aquecimento global, mas também da afluência cada vez maior de turistas na região. Essa mudança é o foco da lente de João Paulo Barbosa, fotógrafo de Brasília que criou um projeto de documentação da região.

Barbosa criou um projeto no qual acompanha expedições realizadas em veleiros, uma maneira mais lenta de atravessar a península Antártica. Em barcos pequenos, muitas vezes destinados à pesquisa, o fotógrafo se sente mais à vontade para realizar os registros. Para tentar compreender o processo de mudança pelo qual passa o continente, ele reuniu fotos antigas do início do século 20 com o intuito de compará-las aos registros atuais. ;A primeira parte do projeto é de fotos antigas de expedições belgas e francesas. Faço uma comparação da paisagem das imagens antigas com o que estou vendo;, conta.

A segunda parte envolve várias vertentes. Uma delas é acompanhar lugares específicos. ;A gente vai fotografando, por exemplo, pinguineiras, e volta em outro ano, quando ela está em outro lugar. O aquecimento global está mudando o comportamento animal. É um trabalho de testemunha de uma época da Antártica, um continente político, frequentado por cientistas e com um número de turistas enorme. São mais ou menos 40 mil por ano, e é um turismo feito em barcos grandes;, explica.

O projeto é sempre realizado em veleiros porque, segundo Barbosa, existe uma tradição desse tipo de embarcação na Antártica. No entanto, os grandes navios, muitos deles transportando turistas, mudaram a paisagem dos mares do sul. ;É uma viagem complexa, não é fácil nem barato. Dessa forma, é mais usual e rentoso esse turismo em massa. O homem está se aproximando da Antártica;, repara.

A forma como o homem se relaciona com o continente antártico também gera profundo interesse no fotógrafo. ; Até 2048 tudo que se fizer sobre a Antártica vai ser muito importante, porque o tratado vence em 2048;, lembra. A região, hoje, tem três tipos de áreas de preservação e mais de 150 lugares de interesse histórico. Desde 2011, ele já realizou cinco viagens e, agora, se prepara para mais uma. ;A próxima expedição da qual participar vai contar o mito polinésico do século 7, sobre os canoeiros polinésios que chegaram à Antártica no século 7;, avisa. ;Uma canoa polinésia será levada na próxima expedição, e dois campeões brasileiros vão remar. Vamos filmar e documentar a história. Meu trabalho passa pelo resgate da história e pela valorização de diversidade cultural.;

Diversidade que Barbosa colocou no museu virtual da Universidade de Brasília (UnB) e que também busca no Brasil. Parceiro do também fotógrafo Olivier Bo;ls na galeria Ashram e acostumado a viajar o mundo todo para realizar ensaios para revistas brasileiras e internacionais, Barbosa desenvolve um programa de trabalho com a população indígena. ;Hoje trabalho com alguns grupos como os kalungas, os yawalapiti, o pessoal do surdo-fotos. Bolo ideias para que essas minorias tenham acesso à fotografia. São projetos sociais de fotografia que envolvem populações tradicionais. A gente está bolando uma viagem em que um kalunga, um yawalapiti e um surdo vão viajar com a gente e aprender sobre a fotografia;, revela.