Existe um ponto de diálogo entre a arte e a natureza e é sobre essa conjunção que a mostra Bio o quê? se debruça com um conjunto de obras de 26 artistas cujas preocupações estão, de alguma forma, relacionadas com o meio ambiente. Em cartaz no Espaço Oscar Niemeyer e com curadoria de Wagner Barja e Gilberto Lacerda Santos, a exposição é o desdobramento de um projeto patrocinado pela Faap Fundação Armando Álvares Penteado) e iniciado com exposição de Siron Franco sobre o césio 127.
Bio o quê? está dividida em nichos ocupados por artistas que utilizam a biotecnologia como parte da produção de suas obras e outros que não se enveredam por essa seara, mas têm a natureza e o meio ambiente como objeto em algum momento da criação. ;Os que não envolvem tecnologia estão num nicho que fala dos povos tradicionais e como enxergam a biodiversidade, fazendo disso seu meio de sustento;, explica Barja. ;Essa exposição tem esse espelho retroativo para nossa história, nossos costumes e culturas que formaram a nação brasileira.;
Realizada pelo Laboratório Ábaco, da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), a mostra quer também familiarizar o público com a noção de bioarte, uma tendência que tem ocupado o universo das artes plásticas em tempos de discussão de mudança climática e futuro do planeta. ;É uma tendência que surge da relação intrínseca da arte com a natureza e já vem se desenvolvendo há décadas e até séculos;, avisa Barja.
Há obras que discutem uma relação climática, outras mais imersivas, caso da instalação de Tânia Fraga, que interage com as formas da natureza em construções digitais. O sistema social das abelhas serviu de referência para as fotos de Malu Fragoso e Armarinhos Teixeira trabalha com a hibridização entre natureza e ambientes digitais em Colônia.
Releituras
Durante os últimos dois anos, Taigo Meireles trabalhou em uma série capaz de reunir todas as suas experiências técnicas e plásticas. O resultado está nas 42 pinturas de Ecrã ; As origens da palavra trama, em cartaz na Hill House. ;Decidi reunir todo o referencial que vinha acumulando em séries diferentes e articular isso numa série totalmente nova, explorando todas as técnicas que vinha utilizando isoladamente num mesmo trabalho;, avisa o pintor.
Meireles elegeu grandes ícones da história da arte como espécie de ponto de partida para a série. Incluiu retratos e autorretratos de pintores muito conhecidos e composições tradicionais do século 15, como o retrato de uma Madona com criança, para empreender uma releitura que passa, também, pela desconstrução. ;Quando retomo essas referências, mesmo que trabalhe de forma original, a estrutura composicional permanece como emblema;, revela.
Essas referências não são novas para o artista e permeiam sua produção desde o início. A diferença, em Ecrã, é a maneira como decompõe e cruza imagens. Um bom exemplo é As idades de Rembrandt, no qual se vê fragmentos de vários autorretratos de um dos maiores expoentes da pintura holandesa. A mostra constitui, também, uma retomada da figura após alguns anos de investida na abstração. ;A genealogia da palavra ecrã é surpreendente, ela tem uma relação com a palavra tela e, consequentemente, com o surgimento da palavra trama. Se relaciona com tear, tela, trama;, explica o pintor.
Bio o Quê?
Curadoria: Wagner Brja e Gilberto Lacerda Santos. Visitação até 21 de janeiro de 2020, de terça a domingo, das 9h às 17h, no Espaço Oscar Niemeyer
Ecrã ; As origens da palavra trama
De Taigo Meireles. Visitação até 30 de janeiro de 2020, de segunda a sábado, das 10h às 22h, na Hill House (Casapark, Piso Térreo, lojas 125/126)