Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Jardins geométricos

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O engenheiro, aviador, poeta e dançarino Renato de Alvarenga abre seu quarto livro de poemas, Observações (Editora Ibis Libris, 2019, R$ 30), com os seguintes versos de João Cabral de Melo Neto: ;A paisagem que bem conheço/ por tê-la vestido por dentro,/ mostra, a pequena altura/ coisas que ainda entendo;. Os versos inauguram a primeira parte do livro, Talvez fora, seguida por um poema de Transição, Talvez dentro (a segunda parte), e finalizado pelas Observações finais.

Poeta desde os 17 anos, apresentado que foi à poesia por uma entusiasmada professora do colégio Maristão, além de outro professor da quarta série, Renato de Alvarenga se formou em Engenharia Civil pela Universidade de Brasília (UnB) e vive no Rio de Janeiro desde 2002, onde trabalha como consultor. Nesta noite, ele lança seu quarto rebento, recém-saído da gráfica, no restaurante Carpe Diem (104 Sul), a partir das 20h, segundo ele, para não atrapalhar quem quer ver o jogo do Flamengo.

Apesar de morar no Rio de Janeiro, Alvarenga está sempre por aqui, na cidade natal, e, recentemente, fez parte do elenco do espetáculo Mosh, encenado no festival Cena Contemporânea em agosto. Faz questão de lançar suas obras tanto lá quanto aqui. Com Divagações aceleradas (Edições Galo Branco, 2011), Lembranças sem passado (Editora Oito e meio, 2014) e Por acaso (Ibris Libris, 2017) foi assim.

Observações, de novo pela Ibris Libris, será lançado primeiro em Brasília e sairá no Rio só em dezembro ou janeiro, mas, para pegar emprestada uma metáfora matemática, a ordem dos fatores não altera o produto. Outras tradições também se mantiveram quase inalteradas dos primeiros para o último livro. Primeiro, o preço, ;congelado; em R$ 30 desde as primeiras publicações, no início da década. Segundo, tirando o primeiro livro, que reuniu poemas feitos até então, os demais seguem mais ou menos uma temática.

;O segundo é sobre tempo e memória. O terceiro sobre acaso versus livre arbítrio. Esse quarto entrou nessa parte de observações, coisas que eu vejo no dia a dia, e como fazer disso uma metáfora para representar algo maior;, explica Alvarenga, que costuma matutar uma linha de raciocínio para cada safra de poemas. Em Observações, o embate entre o objetivo e o subjetivo transparece em toda a obra, seja na estrutura do livro (Por dentro x Por fora) seja na estrutura e temática dos poemas.

O poema Decolagem, por exemplo, começa com um verso de uma sílaba e termina com 15, criando um visual que lembra uma pista de decolagem. E em Jardinar e outras artes, Alvarenga denuncia: ;Quem contempla o fluir da vida/ no jardim japonês tranquilo/ não nota um quê de engenharia/ por trás das pedras e do limo./ A simplicidade é fingida.; Para ele, fazer um poema pode ser uma engenharia. ;É uma estrutura dentro da língua, uma planta fazendo desenhos geométricos;, compara.

Alvarenga alega que, como no poema, no livro, na aviação e na engenharia, uma composição delicada, com aparência natural, pode esconder um requinte ou um capricho humano. Mas, ao mesmo tempo, tais caprichos não passam de ilusões. ;A gente explica uma coisa muito pequena (racionalmente). A gente se engana que conhece, mas não conhece;.

*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco



Observações
Lançamento do livro de Renato de Alvarenga. Restaurante Carpe Diem (104 Sul). Hoje, às 19h. Lançamento do quatro livro de poemas do engenheiro, aviador, dançarino e poeta Renato de Alvarenga. Entrada Franca. Classificação indicativa livre.