Irlam Rocha Lima
postado em 07/11/2019 06:30
Milton Nascimento já era um artista consagrado, com quatro discos lançados, quando, em 1972, ao voltar a Belo Horizonte, mais precisamente ao bairro de Santa Tereza, se deparou com Lô Borges, na esquina da Rua Paraisópolis, tirando do violão uma melodia. O autor de Travessia se encantou com o que ouvia e imediatamente convidou o jovem músico mineiro para ir encontrá-lo no Rio de Janeiro e, juntos, realizarem um projeto que viria a se chamar Clube da Esquina.
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Quase cinco décadas depois, antes de botar o pé na estrada com a turnê de espetáculo homônimo, Milton chamou para formar na banda que iria acompanhá-lo o cantor e instrumentista carioca Zé Ibarra, de 22 anos, vocalista da banda Dônica, que lhe foi apresentado pela produtora e empresária Paula Lavigne.
Artistas de diferentes gerações, Lô e Ibarra estão ao lado do Bituca, como o genial compositor e cantor é chamado pelos amigos, no show que ele traz de volta a Brasília, nesta quinta-feira, para reapresentação, às 21h, no auditório master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, no Eixo Monumental.
O show Clube da Esquina (nome também de canção clássica e do movimento criado por artistas mineiros na década de 1970, que teve Milton como principal pilar) estreou em 17 de março deste ano, no Cine-Theatro Central, em Juiz de Fora (cidade mineira onde o cantor mora atualmente), foi visto em quase todas as regiões brasileiras e excursionou por oito países europeus, entre junho e julho.
Com 26 músicas no roteiro, Milton contempla o repertório dos álbuns Clube da Esquina 1 e 2, lançados em 1972 e 1978, respectivamente, mas também canções de Minas e Geraes, outros antológicos discos da obra de Bituca. Assim, o público vai poder apreciar clássicos como Cais, Cravo e canela, Maria, Maria, Nada será como antes, Paula e Bebeto, O Trem Azul, Tudo o que você podia ser e San Vicente.
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Time de
bons músicos
Sob a direção artística de Augusto Nascimento, Milton é acompanhado por Wilson Lopes (guitarra e direção musical), Alexandre Ito (baixo), Kiko Continentino (piano), Lincoln Cheib (bateria), Ronaldo Silva (percussão), Widor Santiago (sopros) e Zé Ibarra (backing vocal). Lô Borges é o convidado especial. O cenário, uma criação dos grafiteiros paulistanos Os Gêmeos, remete à icônica foto da capa do álbum Clube da Esquina que reforça a fraternidade de duas crianças das raças branca e negra.
Clube da Esquina
Show de Milton Nascimento e banda, com a participação de Lô Borges, hoje, às 21h, no auditório master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães (Eixo Monumental). Ingressos: R$ 90 (poltrona superior), R$ 120 (poltrona especial), R$ 150 (poltrona vip), R$ 190 (poltrona gold), R$ 250 (poltrona premium), R$ 1.500 (lounges, sofá de quatro lugares) ; valores referentes à meia-entrada. Pontos de venda: Lojas Bilheteria Digital, em shoppings da cidade. Não recomendado para menores de 14 anos. Informações: 99881-7475 (WhatsApp).
ENTREVISTA/ Milton Nascimento
Que avaliação faz da turnê Clube da Esquina, que o traz de volta a Brasília?
Olha, posso dizer que tem sido a turnê que eu mais aproveitei em todos esses meus anos de carreira. Não me lembro de ter vivido tantas coisas durante um projeto como o que está acontecendo agora nessa turnê Clube da Esquina.
Como foi a acolhida do público europeu?
Mesmo que eu já tenha feito muita coisa lá fora, essa foi a minha temporada mais feliz no exterior. Nós ficamos quase 40 dias na estrada, passamos por Inglaterra, Portugal, Suíça, Israel, Alemanha, Espanha, Holanda e França. Nem parecia que a gente estava numa turnê. Era tanto carinho recebido que o tempo todo mais parecia um encontro de amigos, sabe?
O que representa ter o Lô Borges ; parceiro no Clube da Esquina ; em sua companhia no palco?
Representa tudo. Se não fosse pelo meu encontro com Lô Borges, não teria existido Clube da Esquina. Ele foi o começo de tudo. Lô é uma das coisas mais importantes da minha vida.
Desde o início da carreira, você apoia jovens talentos da música. Agora tem o Zé Ibarra, da banda Dônica, como backing vocal. Como avalia a participação dele no show?
O Zé Ibarra tem sido um grande companheiro de palco, de estrada e de vida. A chegada dele nessa turnê foi fundamental para que as coisas dessem certo. E a presença dele é só alegria para a gente.
Que importância atribui ao Prêmio UBC (União Brasileira de Compositores) que recebeu recentemente, pelo conjunto da obra?
Foi um negócio emocionante. O evento aconteceu em 15 de outubro, na sede da UBC, no Rio. E aconteceram tantas coisas, encontrei tantos amigos, que até agora ainda lembro de tudo com muita emoção. Sem falar que é uma honra fazer parte de uma entidade por onde passaram Ary Barroso, Dorival Caymmi, Mário Lago, entre tantos outros gênios da música brasileira.
Como foi o encontro, no Uruguai, com o ex-presidente (e agora senador) José Mujica?
Um privilégio sem tamanho ter passado uma tarde inteira com Mujica. É um herói latino-americano. Fomos ao Uruguai para um show nosso no teatro Galpón e tivemos a chance de ir à casa dele. Nos recebeu ao lado da esposa, e as coisas que ele me disse me marcaram profundamente. Mujica é só coração.
Num tempo de tanta intolerância, como tem sido fazer arte e cultura no Brasil?
Um ato de esperança.
Que planos tem para 2020?
Por enquanto ainda quero aproveitar ao máximo essa turnê, e depois a gente vê o que vem pela frente...