Geovana Melo*
postado em 03/11/2019 06:35
Representatividade, ritmo e poesia são os pilares que inspiraram a carreira da cantora Negra Li, que está na estrada há mais de 20 anos. Ao longo da trajetória musical, a rapper transitou pelo pop, pelo reggae, pelo MPB e firma novamente os pés no rap. ;O disco Raízes me colocou de volta no game, voltei para o meu lugar no rap, no qual eu me identifico. Fiquei muito feliz em voltar pra cena;, conta Negra Li em entrevista ao Correio.
;Eu acho que nós, como artistas, não queremos ser moldados e ser taxados de alguma coisa. O que eu, como artista, gosto é de liberdade de expressão. Eu sou uma mulher de fases, se eu tiver sempre cantando a mesma coisa, não estaria sendo sincera comigo. É muito válido e super-entendo qualquer artista que queira mudar, e eu queria experimentar;, pontua.
Quase um ano após lançar o álbum Raízes, a cantora segue colhendo os frutos desse trabalho. O projeto marca esta nova fase da cantora, ela estava há seis anos sem lançar álbuns. Com um som mais maduro, a artista aposta em letras politizadas e românticas que passeiam pelo rap, trap e R.
;Essas 11 faixas significam um retorno às minhas origens, uma reverência a todas minhas referências musicais, todo o contato que eu tive com o estúdio musical e aproveitei para colocar neste disco todo essa liberdade. Eu estava mais madura, o público mais maduro. Acabei deixando um pouco essa cena mais jovem do rap;, afirma Li.
*Estagiária sob supervisão de José Carlos Vieira
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Ponto a ponto/ Negra Li
Maternidade
Mãe de dois filhos, Sofia, de 11 anos, e Noah, de 2 anos, a maternidade é um gás para a carreira da cantora. ;Meus filhos são meu combustível para eu continuar trabalhando, suportando as coisas ruins. Pensando neles que eu faço qualquer coisa, eles me reinventam. Eu estando feliz, eles também ficam felizes;, conta Negra Li.
Preconceito
Para Negra Li, o racismo segue estagnado na sociedade atual. ;O que vem avançando é o lugar de fala, esse lugar de fala é a expansão do nosso grito. Quando eu era criança, era um silêncio total sobre o assunto, eu não via as pessoas falando abertamente sobre as suas histórias. Já com a era da internet, essas coisas chegam mais e é possível se identificar;, relembra.
No entanto, a cantora acredita que a luta contra o racismo está avançando, mas que ainda há muito para progredir. ;Evoluiu a questão de espaço, provar que é no grito que a gente vai conseguir, mas a gente precisa avançar mais, pois temos a herança da escravidão. Precisamos de mais representatividade dentro de todas as profissões, eu sinto falta de pessoas negras quando vou aos lugares, mas é por isso que a gente tá plantando;, conta.
;Tenho muito orgulho da minha raça, da minha cor, da minha negritude, dos meus antepassados. A gente vai avançando mesmo depois de tanto boicote, a gente luta e eu tenho certeza de que no futuro vai ser sempre melhor. Minha filha está sendo preparada para não passar pelo que passei com o racismo, ela tem a autoestima preparada e quero que ela não fique trabalhando derrotas, para que ela mesma não se boicote. Eu, com 40 anos, ainda tenho que trabalhar para não cair nessa armadilha, mas a Sofia tem essa cabeça de que ela pode e, daí pra frente, o futuro das crianças negras será assim;, completa.
Cultura
;É importante para inspirar os jovens e unir forças para uma sociedade melhor. Em Donas do baile (programa da cantora no Uol), eu entrevisto só mulheres que trabalham com entretenimento musical e eu acompanho as histórias delas. A partir de uma entrevista com a MC Soffia, em que ela conta a trajetória dela com a música, foi que eu percebi o quanto é importante os eventos culturais para os jovens se espelharem;