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São Paulo ; Provocação em todos os sentidos. É assim o sentimento de quem visita a 21; Bienal de Arte Contemporânea do Sesc_Videobrasil (2019-2020), no Sesc 24 de Maio, em São Paulo. A exposição recebe mais de 60 obras e duas coleções de 55 artistas de 28 países do Hemisfério Sul até 2 de fevereiro de 2020. São cores, suportes, texturas e formatos que buscam levar o espectador para novos conceitos de realidade.
São Paulo ; Provocação em todos os sentidos. É assim o sentimento de quem visita a 21; Bienal de Arte Contemporânea do Sesc_Videobrasil (2019-2020), no Sesc 24 de Maio, em São Paulo. A exposição recebe mais de 60 obras e duas coleções de 55 artistas de 28 países do Hemisfério Sul até 2 de fevereiro de 2020. São cores, suportes, texturas e formatos que buscam levar o espectador para novos conceitos de realidade.
;Meu trabalho é sobre as coisas que a gente perde e sobre como a gente pode não perdê-las, mas preservá-las;, conta o artista Thierry Oussou. Natural de Allada, Benim, na fronteira com Nigéria, ele traz reflexão sobre memória, herança, patrimônio e afetos para dentro do Sesc 24 de Maio. Tudo isso na videoinstalação What is left of the sugar cubes? (2019) ; O que resta dos cubos de açúcar?, em tradução para o português. Oussou comparou a destruição e as cinzas do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, a um cemitério. ;É algo que a gente tem e ninguém liga. Esse é o momento de falar sobre isso, de não deixar as coisas enraizarem (como ocorre no Brasil);, critica.
Na mostra, cai por terra o conceito de quadro como suporte exclusivo para desenho ou pintura: entram vídeo, performance, costura e instalação, por exemplo. Muitas vezes, até a junção deles. É o caso da videoinstalação Das avós (2019). Na obra, inédita e criada especialmente para a bienal, a artista visual paulista Rosana Paulino utiliza o bordado em tela.
[SAIBAMAIS]Pode parecer inusitado à primeira vista, mas a união de suportes rende bons resultados. No vídeo principal, uma performer negra costura fotos de mulheres negras que vieram antes dela ; como avós e bisavós ; no vestido branco e longo. A ideia é falar sobre herança cultural e ancestralidade. ;É uma coisa bem interessante, porque a imagem em si é transparente, impressa no voal, que é um tecido muito fino e quase não dá para ver. Então, a imagem precisa do corpo dela para funcionar como base e, ao mesmo tempo, ela só é corpo, só é pessoa por causa dessas ancestrais;, revela.
Interação
Outro artista em destaque é Jonathas de Andrade, de Maceió. Da residência de 40 dias realizada na Jordânia, em 2014, junto a mais 13 artistas convidados, surgiu a instalação Procurando Jesus (2013), na qual registrou trabalhadores da cidade de Amã. Para a obra interativa, escolheu 20 fotos que representassem Jesus.
;Um texto (no trabalho) destaca que, de onde eu venho (o Brasil), há um Jesus loiro de olhos azuis, mas, chegando ao rio Jordão, entendi que ele nunca seria assim. É meu dever imaginar e elaborar uma nova imagem, então fui às ruas, discuti isso com as pessoas... Basicamente, criei um esquema de votação: são 20 candidatos a possível novo Jesus. O público é convidado a votar;, narra.
Das semelhanças com o Brasil, a obra carrega questões de preconceito, étnicas, raciais, de colonização e de padrões de beleza eurocêntricos. Por isso, destaca que houve todos os tipos de reação, como o estranhamento, em relação às imagens.
Visibilidade e respeito
Gabriel Bogossian, um dos curadores da bienal, reforça também a presença do mundo indígena brasileiro, mexicano e neozelandês. ;Os artistas indígenas vão se tornando cada vez mais regulares, e a presença de coletivos ativistas e sociais reforçam o tom político do evento;, ressalta. São os casos dos índios do coletivo Alto Amazonas Audiovisual.
Trazer a bienal para o Sesc 24 de Maio não foi uma escolha ao acaso. O coração paulistano, onde fica o espaço, abriga também a população representada nas obras, como os refugiados, sobretudo, africanos. ;Para uma bienal que se dispõe a analisar o curso nacionalista da arte no mundo, abrimo-nos à arte de pessoas sem países no mundo;, comenta a diretora artística da bienal, Solange Farkas.
;O Videobrasil é muito importante, porque traz essa questão de quebrar barreiras, como a questão da desigualdade social, econômica e racial;, analisa Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc São Paulo. ;Sesc é espaço de resistência;, destaca a curadora Luísa Duarte.
*A estagiária, sob supervisão de José Carlos Vieira, viajou a convite do Sesc 24 de Maio
21; Bienal de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil
No Sesc 24 de maio (R. 24 de maio, 109, República ou Anhangabaú, São Paulo). Visitação até 2 de fevereiro de 2020. Mostra internacional com 55 artistas. Direção artística: Solange Farkas. Entrada franca. Classificação indicativa livre.