Diversão e Arte

Livro sugere que Raul Seixas entregou Paulo Coelho à ditadura

No Twitter, Paulo Coelho afirma que já sabia do caso. "Fiquei quieto por 45 anos".

postado em 23/10/2019 15:55

No Twitter, Paulo Coelho afirma que já sabia do caso.

Um novo livro sobre a trajetória do maluco beleza, Raul Seixas: Não diga que a canção está perdida, do jornalista Jotabê Medeiros, com lançamento previsto para 1; de novembro, revela que o cantor pode ter colaborado com os militares para a prisão e a tortura do escritor Paulo Coelho, em maio de 1974.

[SAIBAMAIS] De acordo com as informações do livro, Raul havia sido chamado para prestar depoimento ao Departamento de Ordem Política e Social (Dops) e ligou para o amigo Paulo Coelho para ajudá-lo a dar esclarecimentos sobre as músicas que fizeram juntos. Contudo, essa não era a primeira vez que Raul visitava o orgão. Havia um curto intervalo entre a ida com o escritor e uma anterior, fato que Paulo ignorava.

Ainda segundo o autor do livro, Raul ficou cerca de meia hora na sede do orgão e retornou tentando dar algum recado cifrado ao amigo, que o estava aguardando. Paulo não entendeu a mensagem, e, no interrogatório, foi indagado sobre o libreto do disco Krig-ha, Bandolo!, disco lançado em 1973 com parcerias de Paulo e Raul que já tinha vendido mais de 100 mil cópias.

No mesmo dia, a polícia prendeu a namorada do escritor, Adalgisa Rios, e, no dia seguite, após liberá-lo, capturou-o em um táxi e o levou para um local desconhecido, onde sofreu torturas por duas semanas.

As suspeitas do escritor foram lançadas com base em documento obtido junto ao Arquivo Público do Rio de Janeiro, que revela que o Dops acreditava que Paulo Coelho, para além das letras incômodas ao regime, fosse membro do Partido Comunista Brasileiro Revolucinário (PCBR), grupo armado de combate à ditadura. O mesmo documento afirma que "por intermédio do referido cantor", ou seja, Raul Seixas, teria sido possível chegar até Paulo e Adalgisa.

O escritor Fernando Morais, autor de uma biografia sobre Paulo Coelho, garante que o biografado, na época, não era ligado a nenhum grupo clandestino e provavelmente nem soubesse do que se tratava.

Em nota publicada em seu perfil no Twitter, nesta quarta-feira (23/10), o escritor se manifestou sobre a divulgação das suspeitas: "Fiquei quieto por 45 anos. Achava que levava segredo para o túmulo".

Momentos de tortura

Antes das informações do novo livro de Medeiros vir à toa, mas ainda este ano, o escritor Paulo Coelho contou para alguns jornais estrangeiros como enfrentou a tortura dos militares.

Ao jornal argentino Clarin, ele relatou que, durante os momentos de tortura, foi comparado a um ;terrorista; e que teve uma arma apontada para a cabeça em diversos momentos. Ele lembrou ainda que na sala onde estava tinha marcas de sangue e tiros por toda parede e que foi ameaçado de morte diversas vezes, além de ter sido obrigado a delatar pessoas desconhecidas dele.

;Eles derramaram água no chão e colocaram algo nos meus pés, e eu consigo ver uma máquina de eletrochoque colocada nos meus órgãos genitais;, disse o escritor antes de descrever a situação em que foi eletrocutado e espancado.

Em outro artigo ao Washington The Post, Paulo Coelho deu mais detalhes das duas semanas de tortura: ;depois de não sei quanto tempo e quantas sessões (o tempo no inferno não se conta em horas), batem na porta e pedem para que coloque o capuz. Sou levado para uma sala pequena, toda pintada de negro, com um ar-condicionado fortíssimo. Apagam a luz. Só escuridão, frio, e uma sirene que toca sem parar. Começo a enlouquecer, a ter visões de cavalos. Bato na porta da ;geladeira; (descobri mais tarde que esse era o nome), mas ninguém abre. Desmaio. Acordo e desmaio várias vezes, e em uma delas penso: melhor apanhar do que ficar aqui dentro".

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