Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

A nova jornada de Casey Affleck

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É bastante sintomático o empenho do ator e diretor Casey Affleck, 44 anos, no mais recente filme que dirigiu e está em cartaz na cidade: A luz no fim do mundo. Ao mesmo tempo em que despontou na telona ; com o filme que lhe rendeu o Oscar, Manchester à beira-mar ; no papel de um homem fragilizado e assombrado por um passado devastador, na vida real, ele enfrentou a delicada acusação de assédio sexual. Atualmente impedido de avançar em comentários sobre o caso ocorrido à época das filmagens de I;m still here (com Joaquin Phoenix), a exemplo das declaradas vítimas, Affleck teria zerado o assunto junto à Justiça, por meio de acordo entre as partes.

Vale a lembrança de que, publicamente, ele nunca assumiu culpas. Na carreira, o diretor diz manter o aprendizado do colega (bem mais calejado) Gus Van Sant, que assinou fitas como Milk e Elefante. Há sete anos, emprestou a voz para personagem-título que recriminava bullying, em ParaNorman (2012). No novo filme, A luz no fim do mundo, o artista (que atua, sendo ainda roteirista e diretor do enredo distópico), priva o espectador das personagens femininas: teriam sido aniquiladas pela disseminação de uma peste. Resta, porém, uma esperança no discorrer da narrativa: o protagonista feito por Affleck cria, em segredo e com toda a sorte de cuidados, uma persiste semente ; a filha Rag (Anna Pniowsky).

Praticamente despontando no cinema, Pniowsky concentra muito do enredo, a ponto de, para o site Collider, o diretor ter enfatizado a maturidade da intérprete: ;Anna não é uma criança: é uma mulher jovem;. No título original do longa, ambientado em uma lúgubre atmosfera de fins dos tempos, desponta a importância do personagem da mocinha: Luz da minha vida.

Se, em muito, o longa faz lembrar o pessimismo de A estrada (2009), estrelado por Viggo Mortensen, A luz no fim do mundo tem bastante do emblemático filme assinado pelo mexicano Alfonso Cuarón, Filhos da esperança (2006), praticamente centrado no acobertar de uma semente vital para o mundo: a preservação da última mulher grávida num mundo assustador. No segundo filme conduzido por Affleck, o miolo da trama está na existência (e persistência) da única filha da personagem de Elizabeth Moss (de The handmaid;s tale), presença em breves flashbacks. Cabelo à la rapazinho e clandestinidade garantem a sobrevida de Rag num mundo inteiramente masculinizado.

;Rag tem no pai a escola que não frequenta. É por isso que ela é tão questionadora;, defendeu a atriz Anna Pniowsky, em entrevista no exterior. Na trama, a sua personagem ouve do pai o ensinamento de que a disseminação de ;histórias é boa por conectar as pessoas;. Repleto de sentimentos fortes, o longa assinala a qualidade do diretor que, desde 2007, está nos holofotes de Hollywood, com a indicação ao Oscar de melhor ator coadjuvante por O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford (2007).

Envolta numa camisa de força, numa existência assoberbada pela repressão e num dia a dia (perigoso, pela espreita masculina) nômade junto ao pai viúvo, Rag parece tema de cuidado extremo também para o cineasta. ;Não foi difícil manter a energia ; no set, eu estava cercada de pessoas alinhadas a uma corrente positiva. Tínhamos uma ótima equipe;, afirmou Pniowsky.