Diversão e Arte

Espetáculo 'Tsunami' tem sessões gratuitas em Sobradinho e Planaltina

A premiada peça teatral faz parte do projeto artístico 'Mediações: espectadores em comunidade', de Wellington Oliveira

ROBERTA PINHEIRO
Roberta Pinheiro
postado em 21/10/2019 07:08
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Compreender o mundo por meio do que é mais humano. Sem palavras, sem idiomas, sem gírias ou expressões linguísticas, a comunicação se dá pelo olhar, pelos sentidos e pelas emoções. A cada encontro, a equipe à frente do espetáculo Tsunami e os envolvidos no projeto artístico e pedagógico da peça descobrem que é na diferença e, sobretudo, no compartilhar com o outro que se constrói o diálogo.

Prestes a iniciar uma nova temporada, eles renovam o convite para uma experiência de aproximação gerada pelo afeto. Deslocando a palavra, colocam em cena o coador da casa da avó de um aluno ou exploram as emoções de uma carta materna. ;Vi ali a honestidade daqueles jovens, uma catarse emocional desenfreada;, relembra o diretor e dramaturgo Jonathan Andrade ao falar de uma das oficinas feitas com alunos de escolas públicas do DF.

Tsunami, ganhador do Prêmio SESC do Teatro Candango 2018 na categoria melhor atriz e melhor cenografia, além de ser indicado nas categorias de melhor espetáculo, direção e dramaturgia, faz parte do projeto artístico e pedagógico Mediações: espectadores em comunidade, idealizado pelo artista e educador Wellington Oliveira. No ano passado, durante a primeira edição da proposta, a equipe construiu o espetáculo em conjunto com estudantes de um colégio público de Planaltina. ;Trabalhamos a partir de três imagens e algumas ideias provocativas que lançamos aos alunos. As cenas foram criadas a partir disso. Levaram objetos que poderiam ser das personagens e a gente ia criando significados coletivamente;, descreve Oliveira.

Seguindo uma abordagem inovadora no campo da mediação teatral, nesta segunda edição, a iniciativa da equipe é construir, com grupos de estudantes, uma proposta de formação de espectadores. Em cada escola em que o espetáculo será apresentado, Oliveira, Andrade e outros integrantes da peça vão se reunir com alguns alunos em oficinas para elaborar uma proposta de mediação. Antes de cada sessão, a ideia será multiplicada pelos próprios estudantes em suas turmas, integrando um conjunto de ações pedagógicas que vão ampliar as possibilidades de conexão dos espectadores com a peça. ;Pensamos essa edição de uma forma mais comunitária e colaborativa. A ideia é que os estudantes tragam os referenciais e escolham quais são os melhores pontos a se focar na mediação e não nós que escolhemos a partir do que nós achamos;, explica Oliveira.

Para o artista e educador, o consumo de uma peça de teatro, de um filme ou de uma exposição pelo público independe de mediação. ;Todo mundo tem a possibilidade de construir suas próprias referências. A gente, na verdade, lança essa proposta de aproximação dos espectadores com o espetáculo e potencializa a experiência;, justifica. A partir de uma atividade provocativa e não programada, os jovens trazem os próprios elementos, que fazem parte do seu contexto, e o grupo cria em comunidade, com a comunidade e para a comunidade. ;É um despertar a curiosidade para o espetáculo, uma perspectiva de ampliação dos sentidos, de aquecimento dos sentidos para assistir ao espetáculo;, descreve Oliveira.

Afeto


Em cena, a dramaturgia de Tsunami conta a história de uma sobrevivente de um mundo devastado. A atriz Ana Flávia Garcia interpreta uma personagem estrangeira e refugiada que se comunicada por ruídos, já que não fala um idioma conhecido. Na ausência de palavras compreensíveis, ela busca resgatar suas memórias e construir uma narrativa sobre os diversos tempos de sua vida, propondo um jogo de espelhamentos que coloca o espectador diante de sua própria existência. A peça propõe, agora no palco, um encontro com a personagem de Ana Flávia para além da palavra.

;O espetáculo traz referências implícitas para o tempo presente, de tanto conflito, nos aspectos políticos e sociais. No ano passado, vimos a crise da imigração, o rompimento da barragem de Mariana, essas tragédias, esses conflitos suscitaram muitas questões e, na época, resolvemos pensar essas questões tendo um olhar muito mais profundo para o humano;, afirma Oliveira.
Tanto na dramaturgia quanto nas oficinas e mediações, a proposta é promover o encontro e o diálogo com o outro, uma aproximação para além dos limites da palavra. ;É um encontro pelo afeto. Quando desvendamos aqueles gestos, aquela narrativa da dramaturgia, você se vê em um exercício de espelhamento. Pensar coletivamente é pensar que temos saberes diferentes que podem ser articulados, podem dialogar para um encontro de uma perspectiva comum entre nós;, conclui o artista educador.

Tsunami é fruto dessa união e reproduz a intensidade de cada troca. ;Não existe cena sem essa reverberação. Pela perspectiva estética, enquanto diretor e dramaturgo, é o encontro que fomenta tudo, que dá corpo e alma para a coisa;, comenta Andrade. Para o diretor, a mudança e a revolução se dão pelo contato e pelo contágio das subjetividades inerentes aos cidadãos. Nesse contexto, não há distinção entre artista, estudante ou professor. ;Pertencemos a um bioma de expressividade que nos coloca num espaço de reflexão de temas que nos pertence;, detalha. Ao dialogar e compartilhar com os jovens, Andrade vê concretizado uma experiência, de fato, transformadora como cidadão. ;Em um momento caótico para cultura, de reinvenção, de uma tentativa de sobrevivência, de resistência, de insistência, definitivamente acredito nesse espaço da potência do encontro da arte com as distintas comunidades;, finaliza.

; Tsunami
Sessão aberta à comunidade
No Complexo Cultural de Planaltina.
Sexta-feira, 25 de outubro, às 10h, sessão aberta do espetáculo.

Sessões exclusivas para escolas
No Centro de Ensino Médio 01 de Planaltina:
De 21 a 24 de outubro, Oficinas de capacitação de mediadores teatrais.
Dia 24 de outubro, Oficinas de formação de espectadores e apresentação do espetáculo no auditório da escola.

No Centro Educacional Vale do Amanhecer:
De 22 a 25 de outubro, Oficinas de capacitação de mediadores teatrais.
Dia 25 de outubro, Oficina de formação de espectadores na escola.

No Centro Educacional 02 de Sobradinho:
De 28 a 30 de outubro, Oficinas de capacitação de
mediadores teatrais. Dia 31 de outubro, Oficina de formação de espectadores na escola e apresentação do espetáculo no Teatro de Sobradinho (anexo à escola).

No Centro de Ensino Médio 01 de Sobradinho:
De 5 a 7 de novembro, Oficinas de capacitação de mediadores teatrais.
Dia 8 de novembro, Oficina de formação de espectadores na escola e apresentação do espetáculo no auditório da escola.

Sempre com entrada franca.
Não recomendado para menores de 14 anos. Informações: (61) 98216-0481 e www.espetáculotsunami.com.br

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