Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Um polo de cultura

Distrito Federal ganha o Liceu de Artes e Ofícios em iniciativa pessoal do artista plástico Anselmo Rodrigues, com curadoria de cursos de Wagner Hermusche



Às vésperas das celebrações dos 60 anos, a capital modernista ganha o Liceu de Artes e Ofícios de Brasília, instalado em um galpão em Taguatinga. A iniciativa não é de nenhuma instituição oficial; é um sonho tornado realidade pela determinação do pintor e escultor Anselmo Rodrigues. A ideia inicial era criar um atelier coletivo com os artistas de Brasília. No entanto, em seguida, a proposta evoluiu para o projeto de um liceu de artes e ofícios, nos moldes dos que existem em São Paulo, em Salvador, em Belo Horizonte e no Recife.

A princípio, a instituição oferecerá cursos de desenho, pintura, escultura, estamparia e marcenaria artística. O movimento de concepção entre o sonho e a realidade foi simples. Anselmo devaneava com a utopia quando encontrou um galpão de 1.200 metros em Taguatinga que parecia ter sido projetado especialmente para o liceu.

Depois de alugar o prédio, iniciou as reformas, instalou equipamentos, decorou as paredes e fachadas com painéis de pinturas e esculturas. O ambiente ganhou ares de oficina de artes. Está dividido em três partes: desenho e pintura, marcenaria de artes e galeria para exposições: ;O que me parece importante é a possibilidade de os artistas compartilharem a sua experiência com a comunidade;, comenta Anselmo Rodrigues. ;Os professores são pessoas que têm 40 anos de estrada nas artes e essa é uma oportunidade preciosa. Muitas vezes, os artistas são mistificados. Com o liceu, eles podem dar a sua contribuição sem vínculo empregatício e isso facilita a colaboração e o trânsito dos artistas pela instituição. A receptividade deles foi muito positiva em relação ao projeto e ficamos motivados a organizar esse galpão;, acrescenta.

Anselmo trabalha com o conceito de amigos do liceu. Qualquer pessoa que estabelece algum vínculo com a instituição é recebido nesta condição. Ele aposta na capacidade de mobilização da arte: ;Ser amigo não é só para ajudar e ir embora;, enfatiza Anselmo. ;Quero que os alunos tenham muito orgulho de dizer: sou do Liceu. Não é uma escola comum. É para você aprender, conviver e festejar;.

O que o convívio com os artistas pode proporcionar ao iniciante? Aprender os atalhos da arte, responde Anselmo: ;Se você tem 30 ou 40 anos de estrada, pode ensinar muitas coisas simples que são fundamentais para a aprendizagem, com os jovens e com o pessoal da terceira idade. Isso acontece por meio da informação e do convívio. É algo precioso, que você não encontra nas escolas tradicionais. O mais bacana é que os artistas estão assimilando e abraçando a proposta;.


A curadoria das oficinas será coordenada pelo artista plástico Wagner Hermusche. Na fase inicial, o Liceu de Artes e Ofícios de Brasília terá os seguintes professores: Anselmo Rodrigues (escultura, pintura e xilogravura), Omar Franco (escultura em aço), Roberto Coelho (estamparia), Rosângela Carvalho (restauro): ;O liceu é um espaço de arte-educação;, comenta Anselmo. ;Estamos tentando atender a diversos segmentos, mas precisamos começar com os pés no chão. Se você quer fazer um móvel e não sabe como, venha para o liceu. Aqui, temos todos os equipamentos necessários. Temos sugestões para abrigar atividades de gastronomia, literatura e música. O espaço pode agregar muitas outras artes e ofícios, mas depende de como a gente vai conduzir essa história;, destaca.

Anselmo fez uma pesquisa sobre os liceus de artes e ofícios que existem pelo Brasil antes de tomar a decisão de criar o de Brasília. Ele constata que o de São Paulo é o mais ativo. Mas, na condição de capital, Brasília não poderia ficar sem uma instituição similar.

O Liceu está aberto para receber uma faixa ampla de público na vertente da arte-educação. É possível conquistar uma profissão ou reinventar a vida: ;Tem gente que passa a vida inteira em um emprego que não gosta;, pondera Anselmo. ;Ou tem gente que está ociosa. O Liceu oferece uma oportunidade de mudar de vida. A arte tem esse poder;.

Anselmo só trabalhava com desenho e pintura até 2003. No entanto, ele comprou uma fazenda em Tocantins, começou a conhecer as cavernas e estudou espeleologia. Com isso, iniciou uma produção de escultura: ;Quando eu entrava nas cavernas, descobria os reflexos e eles me inspiravam para a escultura. Sempre que entro em uma caverna eu faço uma peça. Você modela a cerâmica. Já a escultura está dentro da madeira. Você só tem de desvelar a figura. Fazer escultura é ver além da casa;.


Anselmo bancou inteiramente os investimentos iniciais para colocar o Liceu de Artes e Ofícios de Brasília no ar: ;Algumas pessoas dizem que fiz uma loucura;, explica Anselmo: ;Não é loucura, é um projeto de vida, de fé na arte. Até o momento,está dando certo;.
Mas a sustentabilidade econômica do projeto só se tornará viável com a participação dos amigos da instituição: os alunos, as pessoas físicas que quiserem fazer doações, as instituições e empresas que quiserem estabelecer convênios: ;Precisamos de material de trabalho. O Liceu está aberto a convênios e parcerias;.



Parcerias
Quem se interessar em estabelecer convênios, parcerias ou ser amigo do Liceu, os telefones de contato são: 99999 7922 ou 397 3440.