Uma das mais belas vozes da música popular brasileira, intérprete sofisticado que se coloca a serviço de repertório de inquestionável bom gosto, Zé Luiz Mazziotti estava sem lançar disco há 13 anos. Esse involuntário hiato felizmente foi interrompido. Acaba de chegar ao mercado, via selo Kuarup A Roma, álbum gravado na Itália, no qual o cantor paulista (de Rio Claro) revisita composições de diferentes estilos, com a assinatura de ícones como Tom Jobim e Chico Buarque(Anos dourados), Gilberto Gil (Mar de Copacabana), Edu Lobo (Choro Bandido), Paulinho da Viola (Dança da Solidão), Ivan Lins (Lembrança) e Rosa Passos (.Verão).
Numa das faixas, o cantor é parceiro de Sérgio Natureza em Amor ao ofício. Na avaliação de Mazziotti, esse é o disco no qual se sente mais inteiro. Anteriormente, ele havia lançado Zé Luiz (1979), Sinais (1981), Zé Luiz Mazziotti (1995), Eterna chama ; Candeia (1998), Pra fugir da saudade, com Célia Vaz (2000), Zé Luiz Mazziotti canta Chico Buarque (2003) e Sobras repletas (2006) . ;Precisei esperar muito para volta até esse encontro com as pessoas que acompanham o meu trabalho, pois o registro de A Roma foi feito há muito tempo, mais precisamente em 1992;.
É longa a trajetória artística de Mazziotti. Embora tenha começado a cantar em 1966. Só dois anos depois é que o grande público veio a tomar conhecimento dele; e mesmo assim como integrante do Canto 4, grupo que acompanhou Tom Zé em São, São Paulo Meu Amor, canção vencedora do Festival da Record ; o último realizado pela emissora. Mazziotti se destacou também como crooner de famosas casas noturnas paulistas da época, como Igrejinha e Jogral; e ao dividir o palco com Alaíde Costa, Sílvio César, Antônio Adolfo, Luiz Eça e Zezé Gonzaga.
Em 1970, participou do Projeto Pixinguinha, ao lado de Jamelão, Ângela Maria e Miltinho; e em 1981, dividiu com Gal Costa a interpretação de Estrela estrela, de Vitor Ramil, no LP Fantasia.
Seu último tranalho em disco havia sido Sobras repletas, de 2006. Por que demorou tanto pra lançar outro?
As coisas andam difíceis para mostrarmos a nossa verdadeira música, e com isso, realmente, fiquei muitos anos fora do mercado, apesar de nunca ter pertencido muito ao chamado ;mercado comercial;. Sempre preferi fazer minha música pela música, e não como produto.
Como surgiu a possibilidade de gravar A Roma, na capital italiana?
Em 1992, fui à Itália rever amigos e matar saudade de quando morei por lá. Quem me hospedou foi Cesare Benvenuti, produtor do meu primeiro LP, o Zé Luiz, de 1979, que talvez seja o disco mais sofisticado que gravei. Cesare me convidou para experimentar um equipamento novo em seu estúdio e sugeriu que eu gravasse algumas músicas brasileiras.
Qual foi o critério para a escolha do repertório?
Como fui pego de surpresa, não tive tempo para preparar um repertório. Aí, fiz uma lista do que gostava de cantar, e assim nasceu o A Roma. Gravei essas canções lindas, com um som lindo, somente voz e violão, que eu mesmo toquei.
Imagino que os compositores dessas canções estão entre os seus favoritos. Que relação artística tem com eles?
Com mais de 50 anos de carreira, estabeleci uma relação artística por conhecer bem a obra deles, entre os quais Tom, Edu, Chico, Gil. Alguns, como Ivan, Sueli Costa, Herminio Bello de Carvalho, Paulinho da Viola e Rosinha Passos, se tornaram meus amigos.
Vai fazer uma turnê para lançar o álbum?
Com certeza, vou fazer uma turnê. Estou em negociações com produtores de Curitiba, Fortaleza, Belém e Manaus para lançá-lo. Em Brasília, onde também quero fazer o lançamento, adoraria que fosse no Clube do Choro. Brasília continua sendo a cidade que mais absorve meu trabalho, com carinho imenso pela minha música. Antes, porém farei show em São Paulo.
Tem novo projeto à vista?
Estou entrando em estúdio em outubro para gravar uma homenagem a Dick Farney, projeto do Flavio Loureiro e Itamar Assieri, que assinam os arranjos. Terei como convidados Áurea Martins, Bruna Moraes, Claudio Lins e Dori Caymmi.
A Roma
CD de Zé Luiz Mazziotti com 14 faixas, lançamento do selo Kuarup. Preço sugerido: R$ 26,90.