Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Roqueiro que fala a língua sinfônica

Cantor e compositor autor de clássicos do rock nacional apresenta show no Teatro da Unip, acompanhado por orquestra

Um dos fundadores do Barão Vermelho, Roberto Frejat construiu ao lado de Cazuza um dos mais ricos legados do rock brasileiro. Depois, em carreira solo, o guitarrista, cantor e compositor carioca continuou produzindo bastante a partir de 2001, quando lançou Amor pra recomeçar, o primeiro álbum individual.

Coautor de clássicos como Bete Balanço, Maior abandonado, Pro dia nascer feliz e Todo amor que houver nessa vida, Frejat vem a Brasília desde os primórdios de sua antiga banda. Hoje, ele retorna para se apresentar no Prudential Concerts Let;s Rock, que ocorre às 20h, no Teatro da Unip, acompanhado por orquestra sinfônica ; formada por músicos arregimentados ; sob a regência do maestro Carlos Prazeres.

Em edições anteriores, que adotou como tema Acordes Brasileiros e Bossa Nova, o Prudential Concerts teve como convidados nomes icônicos da MPB: Gilberto Gil, Milton Nascimento e Alceu Valença. Neste ano, entre maio e agosto, já foi assistido em Porto Alegre, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. O encerramento da turnê ocorre em São Paulo, no próximo mês.

Regente da Orquestra Sinfônica da Bahia e maestro assistente da Orquestra Petrobras Sinfônica, o carioca Carlos Prazeres diz que o Prudential Concerts, embora seja descontraído, têm um acentuado conteúdo cultural. ;Parte dos sucessos populares têm referência erudita. Instiga-me reger orquestras tocando rock;n;roll, que têm influência direta do barroco;, comenta.



Prudential Concerts Let;s Rock
Apresentação de orquestra sinfônica tendo Roberto Frejat como convidado, sob a regência do maestro Carlos Prazeres, hoje, às 20h, no Teatro da Unip (913 Sul). Ingressos R$ 50 e R$ 25 (meia- entrada), à venda no local. Classificação indicativa livre.




Como tem sido a experiência de se apresentar acompanhado por uma orquestra sinfônica?
Já havia vivido essa experiência anteriormente, e era apenas algo pomposo. Agora, tem sido especial, pois os arranjos foram criados originalmente para esta formação. Alexandre Caldi se saiu bem ao transpor as canções para a textura e o universo da orquestra.


A escolha do repertório para o concerto foi sua?
Fiz sugestão de músicas que imaginava se adequarem mais a um concerto sinfônico. Mas quando fomos fazer os primeiros ensaios, houve necessidade de incluir outras para preencher esse formato de apresentação. O repertório tem 10 músicas. Há as que compus na época do Barão Vermelho, outras em carreira solo. Tudo ainda, registrada num single, é uma parceria minha com Mauro Santa Cecília e Adriano Nunes, um poeta alagoano.


Você já conhecia o maestro Carlos Prazeres?
Eu já havia tomado conhecimento do trabalho dele, mas só fui conhecê-lo nos ensaios que fizemos em Porto Alegre, antes do início da turnê do projeto. Ele também estava inteirado do que eu fazia e também dos arranjos que foram criados. Houve necessidade de pequenos ajustes, mas depois tudo se encaixou. Tem sido um prazer imenso cantar sob a batuta dele.


Há algum projeto em vista, após a série de concertos?
Tenho um disco gravado e mixado, e agora estou definindo a estratégia de lançamento. São onze músicas e a maioria é de uma produção recente, mas há composições de outros autores que eu interpreto. Vou disponibilizá-las nas plataformas digitais. O single Tudo ainda já pode ser acessado. Devo juntar o repertório num disco físico, para uso promocional, mas serão apenas algumas cópias.. Por enquanto, é o que posso falar sobre esse novo trabalho.


Como avalia a carreira solo, já com quase 20 anos?
Mesmo com as dificuldades que precisamos superar, acredito que tem sido profícua. Desde Amor pra recomeçar, o primeiro álbum, de 2001, que vendeu 105 mil cópias e recebeu disco de ouro, foram lançados quatro discos, três de estúdio e um ao vivo, com o registro da minha apresentação no Rock in Rio de 2011. Convivo com uma boa agenda de shows e continuo produzindo bastante.


A saída do Barão Vermelho foi tranquila ou houve algum trauma?
Foi tudo muito simples e acabou numa boa. Eles (os ex-companheiros de banda) tinham a demanda deles e eu a minha. Como não era conciliáveis, retirei-me em 2017, sem trauma, para nenhuma das partes, acredito.


Gostou do Por que a gente é assim, o documentário sobre o Barão?
Gostei muito do resultado final. Ele é muito fiel ao que aconteceu. Destaco também a direção da cineasta Mini Kert. Produzido para o Canal Curta, obteve uma ótima repercussão.


No filme, há um destaque maior para a sua parceria com o Cazuza. Que lembranças guarda dele?
Trinta anos depois da morte dele, ainda sinto muita saudade do Cazuza, pela parceria, pelo convívio, pela amizade. Sem ele, abriu-se uma grande lacuna no rock brasileiro. A liberdade, a independência, a insubmissão, a rebeldia dele fazem muita falta nos dias de hoje. Músicas que fizemos juntos como Bete Balanço, Ideologia e Pro dia nascer feliz podem ser vistas como marcas registradas da nossa parceria e se tornaram clássicos da música popular brasileira.


Como vê o panorama do rock no Brasil atualmente?
O rock, tanto no Brasil, como em outros países, sobrevive, mas sem o mesmo vigor e projeção de outros tempos. No gosto dos jovem foi substituído pelo hip-hop, como música de contestação. Pelo consumo massivo, também já está sendo cooptado e absorvido pelo sistema.


Que avaliação o artista e o cidadão fazem do país neste momento?
Vivemos atualmente um grande retrocesso em vários segmentos, inclusive no campo da arte e da cultura, diante de tantas barreiras que são impostas. Mas não temos o direito de nos aquietar.Temos que nos rebelar, que lutar para impedir que nos calem, que deixemos de produzir, de fazer arte e cultura. Afinal de contas, é isso que nos distingue como brasileiros.