Conhecido pelos efeitos que distorcem voz e batidas graves, acompanhados de muita rima, o trap vem se popularizando no Brasil. O estilo do rap surgiu em Atlanta, nos Estados Unidos, por volta dos anos 2000 e chegou às terras tupiniquins por meio da cidade de Guarulhos, município da região metropolitana de São Paulo.
Mesmo sendo um meio predominantemente masculino, o rap sempre teve como raiz a expressão das lutas das minorias por intermédio da música e, com isso, muitas artistas aderiram ao estilo para colocar para fora as situações que passam no dia a dia de suas vidas.
Apesar de ainda terem uma visibilidade menor que os homens, as mulheres chegaram ao trap com o ;pé na porta;. Rimas carregadas de conceito e voltadas para o público feminino são as marcas registradas de suas músicas, que já estão alcançando o público de São Paulo, Rio de Janeiro e por que não, Brasília.
MC Taya
A carioca residente em São Paulo começou a fazer música aos 13 anos de idade, quando ganhou um contrabaixo de seu pai. Na época Taya cantava com instrumentais de New Metal ; estilo que juntava o rap com metal, na década de 1990 ; mas quando entrou na faculdade, a artista desistiu da carreira musical. Apenas no ano passado a MC resolveu voltar ao mundo da música de vez e foi conquistando público. ;Comecei a lançar uns vídeos rimando, as pessoas foram se animando e me animaram também. Já fiquei com letras prontas e resolvi correr atrás de um produtor para gravar;, conta em entrevista ao Correio.
Aos 26 anos, a rapper acaba de colocar nas ruas seu maior trabalho, a música Preta Patrícia, que fala sobre a vida da artista, suas crenças, formação e até gírias. ;A proposta foi mostrar que mesmo com as adversidades sociais como machismo, racismo, homofobia e transfobia, as mulheres negras estão progredindo, ascendendo e ocupando espaços. Isso é ser uma Preta Patrícia;, explica.
Vix Russel
A estudante de jornalismo da Universidade de Brasília (UnB) tinha sonho de ser escritora, mas acabou direcionando para a escrita de músicas autorais. ;Aos 12 anos, eu já escrevia prosa e depois poesia. Na época, a gente gravou um cover no celular, ouviram na escola e fomos convidados para tocar em eventos escolares, até o ano de formatura, com uma banda de alunos. Chegamos a ganhar um show de talentos de escolas públicas do DF com uma música minha;, relata.
A artista convive atualmente com uma agenda constante de shows, sua música Preta, já alcançou 11 mil visualizações no YouTube e 40 mil plays no Spotify. Todo esse reconhecimento veio após o lançamento de seu primeiro EP, chamado Guias. ;Lancei o álbum no final de janeiro e ninguém me conhecia. Em julho estava em São Paulo fazendo meu primeiro evento fora de Brasília;. O projeto tem como intenção guiar a carreira da cantora, que precisou fazer bazares com roupas doadas para arrecadar fundos para gravação.
Ebony
Também carioca, a artista de 19 anos começou no trap há oito meses. ;Foi muito sem querer. Eu cheguei em casa e fiz a música Cash Cash, com um aplicativo. Mandei para alguns amigos e postei. Depois disso tudo começou a acontecer;. A rapper é um dos nomes fortes do trap atualmente, neste ano foi a única mulher a ser entrevistada para o documentário O trap nacional mostra a que veio, do Spotify.
Ebony acredita que as mulheres ainda têm pouco reconhecimento no cenário do estilo, mas como o rap se notabiliza por contar as lutas das minorias, sempre se sentiu à vontade nas rodas de conversa. ;Um homem em ascensão tem 30 milhões de visualizações. A mulher tem 300 mil, isso está errado. Precisamos entender o ponto de vista das mulheres, o trap é uma forma que temos para expressar as nossas opressões diárias;, diz.
*Estagiário sob a supervisão de Igor Silveira