postado em 30/08/2019 11:03
Um manifesto daqueles que acreditam no corpo e na potencialidade artística. Um manifesto de quem, com arte, pretende plantar a semente de uma mudança. "Que não seja simplesmente um grito de raiva, mas um convite a pensar que os panoramas político e social têm solução", descreve o diretor e intérprete espanhol David Climent.
Foram mais de 65 horas de imersão artística no decorrer das últimas semanas que resultaram na construção do espetáculo Metanoia. Sob a orientação de um dos diretores do grupo catalão loscorderos.sc, o elenco da Agrupação Teatral Amacaca (ATA) sobe ao palco do Teatro Galpão, no Espaço Cultural Renato Russo, neste sábado (31/8). "Nos inspiramos em textos de manifestos para fazer o roteiro. Todo tipo de manifesto, hacker, das vanguardas, o nosso. É um trabalho que celebra a potência que é o encontro de dois grupos de teatro que tem o mesmo interesse físico", descreve a atriz e uma das integrantes da ATA, Camila Guerra.
Com entrada gratuita, a atividade integra a programação oficial do Cena Contemporânea 2019 e também concretiza uma semente plantada no festival há mais de 10 anos. ;Fiz uma oficina com o David em 2008 e vi o espetáculo que ele trouxe. Era bem no linear das artes do movimento, do corpo, aquilo me fascinou", relembra Camila. Uma parceria entre a ATA, o Instituto Bem Cultural, responsável pela atual gestão do Espaço Renato Russo, e o Cena viabilizou o retorno do diretor espanhol para Brasília.
O intercâmbio artístico Brasil-Espanha começou no último dia 14. ;O Hugo (Rodas, diretor do grupo) fez a apresentação inicial e explicou o treinamento que fazemos aqui. Em seguida, veio uma fase que o David chama de militar e depois a mais criativa para construção do trabalho. Foi um processo rico, trabalhamos os princípios da dança contemporânea, da luta, da improvisação;, explica a atriz. Cada um à sua maneira, os dois diretores apostam no teatro como corpo em cena e na experimentação muscular. De um lado, a sensibilidade de Hugo Rodas. De outro, a liberdade de David Climent. ;É esse encontro, essa irradiação do humano. Estar no palco é musculatura, expandir o corpo, trabalhar fisicamente para se libertar de bloqueios e conectar com a plateia;, detalha Camila.
Baseados no teatro corporal aliado a técnicas de dança, eles apresentam Metanoia partindo da ideia de um parlamento, um lugar onde as pessoas vão para se manifestar. ;Criamos a peça em três semanas, ainda não vimos, estou curioso. Refletimos sobre contextos atuais, mas desde um lugar poético e não óbvio, de alguma maneira otimista. A solução que necessitamos depende de uma mudança interna da sociedade, uma mudança de mentalidade para não nos acomodarmos. Metanoia é uma mudança interna, espiritual e de atitude;, comenta Climent.
Troca física, poética e filosófica
Desde 2003 na codireção do grupo loscorderos.sc, sediado em Barcelona, David Climent gosta de traduzir suas preocupações em poética e trabalho corporal físico. ;Essa experiência foi genial, um oportunidade de compartilhar meu repertório e criar algo juntos;, comenta sobre o intercâmbio. Para o espanhol, ele é um diretor que gosta que o ator também se sinta criador, por isso tantas provocações. Também trabalha com a combinação da palavra com o corpo. ;Tem lugar que a palavra chega e tem lugar que chega o corpo. Gosto da combinação potente dos dois;, detalha.
Apesar do período curto, Camila avalia que o processo foi fértil e pode gerar produtos de vida longa. A ATA quer pegar essa célula que nasceu em território brasiliense e crescer. ;Acredito muito nas trocas. A genialidade está no entre. O Cena semeou isso há dez ano. Vamos pensar nas nossas redes, porque fazer teatro é resistência, é guerrilha, é preciso se reinventar a partir do outro;, conclui.
Serviço
Metanoia
No teatro Galpão do Espaço Cultural Renato Russo. Sábado (31/8), às 20h. Com direção de David Climent. Entrada gratuita