Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Coletivo ATA apresenta espetáculo com direção de David Climent neste sábado

Após uma residência artística, grupo brasiliense, dirigido por Hugo Rodas, apresenta espetáculo inspirado em manifestos ao lado de diretor espanhol


Um manifesto daqueles que acreditam no corpo e na potencialidade artística. Um manifesto de quem, com arte, pretende plantar a semente de uma mudança. "Que não seja simplesmente um grito de raiva, mas um convite a pensar que os panoramas político e social têm solução", descreve o diretor e intérprete espanhol David Climent.

Foram mais de 65 horas de imersão artística no decorrer das últimas semanas que resultaram na construção do espetáculo Metanoia. Sob a orientação de um dos diretores do grupo catalão loscorderos.sc, o elenco da Agrupação Teatral Amacaca (ATA) sobe ao palco do Teatro Galpão, no Espaço Cultural Renato Russo, neste sábado (31/8). "Nos inspiramos em textos de manifestos para fazer o roteiro. Todo tipo de manifesto, hacker, das vanguardas, o nosso. É um trabalho que celebra a potência que é o encontro de dois grupos de teatro que tem o mesmo interesse físico", descreve a atriz e uma das integrantes da ATA, Camila Guerra.
Com entrada gratuita, a atividade integra a programação oficial do Cena Contemporânea 2019 e também concretiza uma semente plantada no festival há mais de 10 anos. ;Fiz uma oficina com o David em 2008 e vi o espetáculo que ele trouxe. Era bem no linear das artes do movimento, do corpo, aquilo me fascinou", relembra Camila. Uma parceria entre a ATA, o Instituto Bem Cultural, responsável pela atual gestão do Espaço Renato Russo, e o Cena viabilizou o retorno do diretor espanhol para Brasília.

O intercâmbio artístico Brasil-Espanha começou no último dia 14. ;O Hugo (Rodas, diretor do grupo) fez a apresentação inicial e explicou o treinamento que fazemos aqui. Em seguida, veio uma fase que o David chama de militar e depois a mais criativa para construção do trabalho. Foi um processo rico, trabalhamos os princípios da dança contemporânea, da luta, da improvisação;, explica a atriz. Cada um à sua maneira, os dois diretores apostam no teatro como corpo em cena e na experimentação muscular. De um lado, a sensibilidade de Hugo Rodas. De outro, a liberdade de David Climent. ;É esse encontro, essa irradiação do humano. Estar no palco é musculatura, expandir o corpo, trabalhar fisicamente para se libertar de bloqueios e conectar com a plateia;, detalha Camila.

Baseados no teatro corporal aliado a técnicas de dança, eles apresentam Metanoia partindo da ideia de um parlamento, um lugar onde as pessoas vão para se manifestar. ;Criamos a peça em três semanas, ainda não vimos, estou curioso. Refletimos sobre contextos atuais, mas desde um lugar poético e não óbvio, de alguma maneira otimista. A solução que necessitamos depende de uma mudança interna da sociedade, uma mudança de mentalidade para não nos acomodarmos. Metanoia é uma mudança interna, espiritual e de atitude;, comenta Climent.

Troca física, poética e filosófica


Desde 2003 na codireção do grupo loscorderos.sc, sediado em Barcelona, David Climent gosta de traduzir suas preocupações em poética e trabalho corporal físico. ;Essa experiência foi genial, um oportunidade de compartilhar meu repertório e criar algo juntos;, comenta sobre o intercâmbio. Para o espanhol, ele é um diretor que gosta que o ator também se sinta criador, por isso tantas provocações. Também trabalha com a combinação da palavra com o corpo. ;Tem lugar que a palavra chega e tem lugar que chega o corpo. Gosto da combinação potente dos dois;, detalha.
Apesar do período curto, Camila avalia que o processo foi fértil e pode gerar produtos de vida longa. A ATA quer pegar essa célula que nasceu em território brasiliense e crescer. ;Acredito muito nas trocas. A genialidade está no entre. O Cena semeou isso há dez ano. Vamos pensar nas nossas redes, porque fazer teatro é resistência, é guerrilha, é preciso se reinventar a partir do outro;, conclui.

Serviço

Metanoia
No teatro Galpão do Espaço Cultural Renato Russo. Sábado (31/8), às 20h. Com direção de David Climent. Entrada gratuita