Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Histórias reais, e a de 'Pacarrete' foi melhor

De cara, o diretor Allan Deberton informa que Pacarrete, seu longa com Marcélia Cartaxo, baseia-se numa história real. Mas é uma história real sobre uma personagem anônima para a imensa maioria do público. Como se constrói uma personagem que pouca gente conhece? Havia, em Gramado, na competição brasileira, outro filme baseado em fatos - a Hebe de Maurício Farias, com a mulher dele, Andréa Beltrão. Ao contrário da bailarina que briga por seu espaço nas comemorações dos 200 anos da cidade interiorana em que vive, no Ceará, Hebe foi uma estrela do Brasil. Uma figura conhecidíssima. É interessante como os autores ficcionalizam histórias reais, sobre uma figura famosa e outra quase nada. Mas a Hebe de Maurício Farias também é uma desconhecida - polemizando com a censura, em defesa da comunidade LGBT, no momento em que a aids acirrava preconceitos. No sábado à noite, Pacarrete fez história no Festival de Gramado, ao vencer oito Kikitos, incluindo os principais de melhor filme, para o júri e o público, direção, roteiro e atriz, Marcélia Cartaxo. A vitória vinha sendo anunciada desde os cinco minutos de ovação para a atriz, aplaudida de pé, após a sessão. Inaugurado, fora de concurso, com o Bacurau de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles - que disputa nesta terça-feira, 27, em São Paulo, a indicação para concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro pelo Brasil -, o 47.º Festival de Gramado teve este ano filmes muito ambiciosos, em termos de público. Hebe era uma aposta muito grande. Ganhou o Kikito de montagem. Veneza, de Miguel Fallabela, com seu convite à magia, talvez tenha sido o filme mais belo de toda essa edição. Pode ser a avaliação solitária do repórter, que não viu todos os filmes. Na coletiva, Fallabela disse que ouviu muito 'não' antes do 'sim' que finalmente lhe permitiu realizar esse sonho. Revelou, inclusive, que teve de fazer Sai de Baixo - O Filme para alavancar a produção de Veneza. Recebeu dois Kikitos - melhor direção de arte e atriz coadjuvante (Carol Castro, dividida com Soia Lira, de Pacarrete). O melhor filme latino foi El Despertar de las Hormigas, de Antonella Sudasassi, da Costa Rica. Do Chile veio o vencedor do prêmio do público na competição latina - Perro Bomba, que também valeu a Juan Cáceres o Kikito de direção. É um grande filme. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.