Diversão e Arte

Ator e diretor Marcio Abreu traz texto francês para o Cena Contemporânea

Leitura dramática faz parte de projeto de intercâmbio entre autores franceses e brasileiros

Nahima Maciel
postado em 26/08/2019 11:29

Os ensaios de 'Pulverizados' reuniram atores de Brasília

Hoje, o ator Márcio Abreu, da Companhia Brasileira de Teatro, dirige três atores brasilienses em uma leitura dramática de Pulverizados, texto da francesa Alexandra Badea traduzido por ele como parte de um projeto de intercâmbio de autores entre Brasil e França.
A ideia de realizar trocas dramatúrgicas com criadores franceses surgiu de uma parceria entre o Núcleo de Festivais Internacionais de Teatro do Brasil e a Comédie de Saint-Étienne com o intuito de criar e fortalecer laços entre os dois países. Nesse contexto, diversos dramaturgos franceses e brasileiros terão seus textos traduzidos, lidos e, eventualmente, encenados na França e no Brasil. Enquanto se debruçou sobre a tradução de Pulverizados, Marcio Abreu teve duas peças traduzidas para o francês.
Para a leitura que realiza hoje como parte do programa de atividades paralelas do Cena, o dramaturgo conta com a participação dos brasilienses Gleide Firmino, do Teatro do Concreto, Ada Luana e João Campos, além de atores do grupo Setor de Áreas Isoladas (SAI). Eles se reúnem na Sala Multiuso do Espaço Cultural Renato Russo para contar a história de quatro personagens oriundos de Shanghai, Lion, Dakar e Bucareste. ;É um texto que tem linhas narrativas que vão se alternando e mostrando as trajetórias dessas vozes, desses personagens, em lugares distintos do mundo, mas que poderia ser perfeitamente no Brasil;, explica Abreu.
Leitura dramática faz parte de projeto de intercâmbio entre autores franceses e brasileiros
Uma dessas linhas é um call center no qual fica explícita o que Abreu chama de ;coisificação das pessoas;. ;A peça fala de como as vidas vão perdendo o sentido e sendo exploradas a serviço de uma estrutura global, econômica e mundial muito cruel. É um texto que tem uma lucidez a respeito dessas questões muito grande. Traz a exploração pelo trabalho, a colonização, a imigração, a violência do capitalismo e dessa economia globalizada, dessa mediação das relações, da virtualização das relações;, diz. O texto vigoroso faz emergir questões muito reais do cotidiano da maioria da população mundial. ;É sobre pessoas que são massa de exploração e que servem a uma máquina trituradora na qual as subjetividades ficam sufocadas e as perspectivas de vida são pulverizadas numa dinâmica muito violenta de vida;, aponta o diretor.

Pulverizados
Direção: Marcio Abreu. Com grupo Setor de Áreas Isoladas (SAI) e Ada Luana, Gleide Firmino e João Campos. Hoje, às 19h, na Sala Multiuso do Espaço Cultural Renato Russo.
TRÊS PEREGUNTAS PARA MARCIO ABREU

Qual o objetivo de realizar um intercâmbio de tradução de dramaturgos?
A dramaturgia é um campo de relações, de contatos, e uma via de entendimento e ampliação das experiências nas artes de cena. Diversos dramaturgos brasileiros e franceses terão seus textos traduzidos e levados à cena em leituras aqui no Brasil, nos festivais que fazem parte do Núcleo de Festivais, e na França no ano que vem. A dramaturgia no Brasil tem muita diversidade e é uma via de ampliação da experiência no teatro fazer circular essas iniciativas. É importante porque, através dessas ações peças podem ser lidas, abordadas, montadas e transformadas em outras experiências. Esse projeto tem esse viés de gerar encontros.

Você diz que Pulverizados é muito atual. Por quê?
É um texto que cai como uma luva para os dias de hoje. Escrito em 2012, ele tem uma linguagem bastante fluida no sentido de entender a palavra nos seus sentidos sonoros. Não é uma peça só debruçada sobre os temas que trata, mas sua estrutura dramatúrgica gera sentidos também. Ele tem a riqueza de muitas das dramaturgias que têm sido feitas com potência no mundo e no Brasil.

A peça fala de um universo do trabalho a partir de várias perspectivas. O que há de comum nessas vozes?
Diversas situações vão sendo desenvolvidas com personagens em diversos lugares do mundo no universo do trabalho. E elas falam um pouco essa violência da exploração do homem pelo homem, de uma desmedida capitalista que gera uma espécie de objetificação das pessoas. E num momento em que, no país, a gente sofre uma perspectiva de reforma da previdência em que os direitos dos trabalhadores vão sendo pulverizados, as perspectivas do bem-estar social vão sendo jogadas no lixo, como se o ser humano não importasse e servisse para sustentar privilégios de poucos. A gente vive uma apologia da violência institucional de um governo que se orgulha da ignorância e ignora seu dever para com a imensa desigualdade que existe no país e para com a grande diversidade. Esse texto fala muito para o Brasil de hoje.



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