Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

'Meu coração é sertanejo'

Em entrevista ao Correio, a cantora Paula Fernandes fala sobre o novo trabalho, Origens, em que revisita os 25 anos de carreira e que tem a polêmica faixa Juntos, versão de Shallow, de Lady Gaga


A mineira Paula Fernandes começou a carreira muito cedo, com apenas 10 anos. Nos 25 anos de trajetória, a cantora passou por momentos surpreendentes. Enfrentou a depressão entre os 18 e 22 anos; derrubou as barreiras de um estilo musical, até então, predominantemente masculino; caiu nas graças do Rei Roberto Carlos, que a convidou para cantar no especial de Natal em 2010; gravou com divas internacionais, como Taylor Swift e Shania Twain; e vendeu cerca de 4,5 milhões de álbuns.

Em todo esse período, a artista sempre esteve acostumada a ver seu nome atrelado também a polêmicas. Inúmeras vezes foi criticada pelos figurinos e, mais recentemente, foi o centro de um dos assuntos mais comentados da internet. Neste ano, a sertaneja roubou a cena e virou meme nas redes sociais ao lançar a música Juntos, uma versão do sucesso Shallow, canção de Lady Gaga vencedora do Oscar por integrar a trilha do filme Nasce uma estrela. O principal motivo foi a escolha de manter um trecho da música em inglês, o que tornou a letra, em português, sem muito sentido ao cantar ;cole de uma vez nossas metades/ juntos e shallow now;.

Em meio a tudo isso, mais um capítulo da polêmica. Luan Santana, com quem Paula tinha gravado o áudio original da canção, desmarcou a participação na gravação do DVD Origens, marcada para 12 de junho, no qual a música era o carro-chefe. O que poderia ter deixado Paula Fernandes para baixo, foi mais um estímulo. Ela convocou o público a assumir o vocal do sertanejo na filmagem em Sete Lagoas (MG) ; cidade natal da artista e cenário do DVD. Hoje, ela se diz feliz com tudo que a canção alcançou: ;Eu não poderia estar mais feliz. A música recentemente recebeu o prêmio de single de platina, virou trilha de novela (Bom Sucesso, a nova das 19h da Globo), está sempre sendo pedida nas rádios e ouvida nas plataformas digitais. É uma realização imensa;.

Na semana passada, Paula Fernandes esteve em Brasília apresentando na cidade, pela primeira vez, o show da turnê Origens, em que canta 22 músicas, entre elas, sucessos autorais, seis músicas inéditas e até o clássico Evidências, consagrado nas vozes de Chitãozinho & Xororó. Paula integrou o projeto Viola in concert, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, no Eixo Monumental, oportunidade em que abriu a noite para apresentação de Almir Sater, com quem já gravou parcerias, como Jeito de mato e Pedaço de chão. Por conta da apresentação, a artista conversou com o Correio sobre o momento atual da carreira, o projeto Origens, em que revisita os 25 anos de trajetória musical, e como lida com a pressão que parece a perseguir no mundo da fama.



Origens
De Paula Fernandes. Universal Music, 22 faixas. Disponível nas plataformas digitais.




Você ganhou espaço no sertanejo quando o gênero ainda não abria as portas para as mulheres e sempre se mantendo próxima a raiz, mesmo que de forma contemporânea. Que avaliação faz da sua trajetória no sertanejo? O que você ainda sonha em fazer?
Eu acredito que segui no caminho certo! Sempre transitei bem na música contemporânea, mas sem abandonar minhas raízes e o estilo de música que eu realmente acredito. Sinto-me muito à vontade em cantar outros gêneros, mas meu coração é sertanejo. Na minha carreira, ainda tenho muitos sonhos, gostaria de fazer muitas outras parcerias e viajar para lugares novos com minha música, continuo trabalhando para realizar todos eles e continuar sonhando.


O DVD Origens foi gravado na sua cidade, com mais de 20 mil pessoas, sob forte expectativa. O quão importante foi essa gravação para você? Acha que já pode dizer que Origens é um divisor de águas?
Com toda certeza! Esse DVD veio para mostrar toda minha maturidade e nova fase de carreira. Pensei cada detalhe deste novo projeto e poder realizá-lo na minha cidade natal, tendo meus conterrâneos do meu lado, me apoiando, foi maravilhoso. Será uma noite que ficará marcada na minha memória para sempre.


Como foi escolher quais músicas fariam parte de Origens? E como foi trazer uma nova cara para clássicos da sua carreira?
Escolher o repertório de um novo show é sempre uma grande responsabilidade. Fiquei em total imersão para compor, ouvir as músicas que me enviaram. É um processo lento, mas muito importante. Como eu queria mostrar essa minha nova fase, a escolha das músicas transmite a minha personalidade. Reviver novos clássicos também é sempre um desafio, queremos dar uma cara nova, mas sem que eles percam sua essência. Tive grande ajuda do Ivan Miyazato (produtor musical e nome por trás de trabalhos de Maiara & Maraísa, João Bosco & Vinícius e Michel Teló) para isso.


Você contou com algumas participações especiais no DVD. Como foi escolher quem faria parte desse momento tão especial e em qual música os artistas te acompanhariam?
A gravação de um DVD é um momento muito importante e, além de querer dividir esse momento com artistas talentosos, era muito importante para mim que fossem pessoas que eu admiro e têm uma boa sintonia comigo. A Kell (Smith) é uma compositora incrível, me identifico muito com ela e, por isso, pedi que ela compusesse uma música (Prometo) para cantarmos juntas. No final, ainda gravei outra canção dela sozinha (Porque a resposta é o amor). Eu e o Gustavo (Mioto) nos conhecemos em um programa de televisão. Ele tem muito talento. É um querido e, por isso, o convidei para cantar comigo. Não te troquei por ela é uma música que escrevi especialmente para cantar com ele. Já os Menottis (os irmãos César e Fabiano) são meus grandes amigos com quem tive o prazer de dividir o palco várias vezes. Não poderia deixá-los de fora deste meu novo momento (como dupla, os cantores estão em Te amo sem querer e Cesar acompanhou na viola Paula no pot-pourri Ladrão de mulher/ A coisa tá feia/ Pagode).


Você tem falado há alguns anos sobre a depressão que sofreu e voltou a falar do assunto em quadro do Drauzio Varella no Fantástico. Para você, qual é a importância de compartilhar isso com o público?
Eu acho importante que o público veja que, por trás da artista Paula Fernandes, tem a pessoa também, a Paula de Souza. Aquela que tem inseguranças, que sofre e que passa por problemas muito parecidos com o que eles também estão passando. Mas no caso da depressão, o que eu acho mais importante é mostrar a importância de buscar ajuda, de cuidar do corpo e da mente e que há sempre uma saída.


Suas roupas, atitudes e músicas muitas vezes causam polêmica. Você acha que as pessoas pegam no seu pé? Isso te incomoda de alguma forma?
Esse é um assunto interessante. Hoje, nós já estamos dando a devida atenção ao bullying nas escolas, mas quando acontece com artistas ainda é pouco discutido. Acho que deveria haver o mesmo critério. Somos pessoas e ninguém tem o direito de desrespeitar ninguém. Mas o público em geral já começou a entender que muitas das notícias que saem a meu respeito são apenas maldosas e muitas vezes mentiras e não estão acreditando como antes. Eu também aprendi a não me importar mais. Muitas notícias já me magoaram, mas hoje, mais madura, sei separar e entender que essas matérias não me representam.