Há quase dois anos, logo depois de lançar Mano que zuera, o primeiro álbum de músicas inéditas desde 2009, João Bosco botou o pé na estrada. Com o show homônimo, ele se apresentou em todas as regiões do Brasil; e cumpriu turnê pelos Estados Unidos e vários países da Europa, onde esteve nos meses de abril e maio últimos.
De volta a Brasília esse espetáculo com músicas que vão de encontro ao desalento vivenciado pelos brasileiros nos tempos de agora, pode ser apreciado ; gratuitamente ; hoje, no encerramento do projeto Todos os Sons, no gramado do Centro Cultural Banco do Brasil. Às 18h, João sobe ao palco, acompanhado pelo trio formado por Ricardo Silveira (guitarra), Guto Virti (baixo) e Kiko Freitas (bateria).
No roteiro do show há uma mescla de músicas do compositor feitas para o novo disco em parceria com Chico Buarque (Sinhá), Aldir Blanc (Duro na queda), Roque Ferreira (Pé de vento), Arnaldo Antunes (Ultra leve) e o filho Francisco Bosco (Nenhum futuro e a que dá título ao trabalho). A elas se juntam clássicos da importância de Jade, Linha de passe, Nação, O bêbado e a equilibrista, Papel Machê e Quando o amor acontece.
Embora, desde o início da carreira, faça a maioria dos shows em teatros e casas de espetáculo, João diz que gosta de cantar em espaços abertos. ;A maioria das apresentações que fiz recentemente na nova turnê europeia, em países como França, Itália, Espanha e Alemanha, foi em festivais ao ar livre;, destaca. ;Em Brasília, já vivi esta experiência algumas vezes. Então, vou me sentir à vontade neste projeto, que ocupa a parte externa do CCBB. Em lugares assim, geralmente há uma interação maior com o público;, acrescenta.
A gravação do DVD de Mano que zuera, em outubro, no Rio, porém, será num teatro e sem a presença de espectadores, com a inclusão no repertório de, pelo menos, uma música inédita. ;Em meio às viagens, sempre que sobra um tempo, me dedico à composição. Aí, vão surgindo esboços de melodias, que dão origem a novas canções;, conta João.
Segundo ele, esse é processo de criação que utiliza desde 1967, quando ainda era estudante de engenharia, em Ouro Preto. Naquela cidade histórica, na casa do artista plástico Carlos Scliar, fui apresentado a Vinicius de Moraes. ;Logo em seguida, juntos, fizemos Samba do pouso, que fazia referência à Pousada Chico Rei, onde Vinicius estava hospedado. Essa música, depois, veio a ser gravada pelo grupo O Cariocas;, lembra.
Incentivado pelo Poetinha, João radicou-se no Rio de Janeiro. Lá, em 1970, conheceu Aldir Blanc, que viria a ser seu parceiro mais frequente. De imediato os dois fizeram Agnus Sei. ;Essa foi a primeira música que gravei, registrada num disco de bolso do jornal Pasquim, que trazia do outro lado Águas de março, na voz do autor, Tom Jobim;, conta.
Um ano depois o cantor lançaria o primeiro LP, intitulado João Bosco. De lá para cá, ele reuniu 25 títulos em sua obra, sendo 21 álbuns gravados em estúdio e quatro ao vivo, além de quatro DVDs. Ao longo de 45 anos de carreira, ele construiu reverenciada trajetória artística e inscreveu seu nome no olimpo dos mestres da música popular brasileira.
Mesmo no momento em que quem produz cultura no país sofre restrições, João mantém a fleuma e não se deixa abalar. ;Acredito que o antídoto contra essa situação é não baixar a cabeça e continuar fazendo arte em busca de um futuro melhor para o país. Esse é um compromisso que tenho, como cantor, compositor e cidadão;.
Todos os Sons
Show de João Bosco e trio, às 18h, no gramado do Centro Cultural Banco do Brasil, Setor de Clubes Sul. Antes, a partir das 16h, se apresentam Nãnan Maros e Sr, Gonzales Serenata Orquestra. A entrada é franca. Classificação indicativa livre.