Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Metro e rima nordestina



Do repente de Ceilândia ao rap de Samambaia, a cultura nordestina se faz presente por meio das rimas críticas e marcantes, ora livres e personalizadas, ora milimetricamente metrificadas. Foi pensando em unir esses dois universos que surgiu o projeto Pegada Nordestina, que nos dias 22, 24 e 31 de agosto levará apresentações de rap, repente, teatro de mamulengo e palestras para a Casa do Cantador e a Praça do Cidadão, em Ceilândia, e para o Espaço Imaginário, em Samambaia.

;A ideia da gente é unir duas artes que são irmãs ; o rap e o repente ; e o mamulengo, que é uma arte com características nordestinas, mas que se encontra em todo o mundo;, explica o repentista ceilandese Chico de Assis, idealizador e proponente do projeto patrocinado pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC). A dupla de repentistas formada por ele e João Santana dividirá os palcos com o rapper samambaiense Rapadura Xique-Chico, as companhias de mamulengo Fuzuê e Presepada e a poeta Lilia Diniz que, além de declamar, será cicerone no último evento do projeto. Haverá ainda rodas de conversa, ou melhor, ;rodas de prosa; sobre poesia, rima, rap e repente, com participação de Chico de Assis, João Santana e Rapadura. Para completar a programação, serão exibidos filmes que falam sobre a história do rap e do repente. Vale ressaltar que todos os artistas da programação, além de serem radicados no DF, trazem uma forte veia nordestina em suas produções.

Tradições modernas

Se a dupla de repentistas formada por Chico de Assis e João Santana está junta há muitos anos, a parceria deles com Rapadura também vem de outros tempos. ;Como a gente sempre trabalha junto em outros projetos, a gente fez o nosso pra unir essas três categorias;, conta Chico de Assis, que já esteve em vários outros projetos com Rapadura, costurando essa relação entre os dois gêneros musicais calcados em rimas e improvisação.

;As rimas do repente são mais criteriosas do que a do rap;, teoriza Chico. ;A gente tem uma métrica tradicional. Cantamos as mesmas coisas, só mudam as melodias e modalidades. Mas nossas rimas são simples. Mas tem que ser tudo muito bem metrificado. Já a rima do rap tem que ser mais sonora. É um verso mais livre;.

Há outros aspectos que unem o rap ao repente. Um deles é o hábito de promover duelos de rimas improvisadas, o que acarreta problemas semelhantes em ambos os universos: ;Eu e João temos lutado pra que o cantador não cometa alguns erros, como cantar de forma pejorativa. Agredir a mãe, a irmã, a família, chamar o outro de afeminado. Com o tempo, conseguimos mudar a mentalidade de alguns cantadores;, explica Chico. Uma questão muito semelhante atinge também as batalhas de Rap, que em sua forma mais apelativa ficaram conhecidas como batalhas de sangue. Como eu não posso interferir (no universo do rap), eu converso com pessoas mais criteriosas, que têm respeito;, diz Chico, que confessa ser fã dos rappers Japão e GOG, além do próprio rapadura. ;É só minha opinião, mas acho que devia ter cuidado, criar critérios, e, se o cara extrapolar, que ele perca o ponto;, aconselha.

*Estagiário sob supervisão de Igor Silveira



Pegada Nordestina
22, 24 e 31 de agosto na Casa do Cantador e na Praça do Cidadão (Ceilândia) e no Espaço Cultural Imaginário (Samambaia). Confira a programação completa em pegadanordestina. com.br/ . Entrada franca. Classificação indicativa livre.