Ricardo Daehn
postado em 22/08/2019 06:30
Vem dos anos de 1980 muito do que promete ser visto no longa Brinquedo assassino, a partir de hoje em cartaz na cidade. Baseado em personagens criados por Don Mancini, o longa atual será o sexto de uma franquia projetada a partir de 1988. Dos anos de 1980 vêm as adaptações ainda dos bem-sucedidos Transformers e As tartarugas ninja que, transpostos para a telinha, em desenhos animados, contaram com performance vocal do ator Mark Hamill que, no atual Brinquedo assassino, dá voz ao famoso boneco Chucky. Caso alguém esqueça, Hamill ainda encarnou no cinema o inesquecível Luke Skywalker da franquia Star Wars.
Jovem ator de filmes de terror como Anabelle (2014) e Quando as luzes se apagam (2016), Gabriel Bateman interpreta, na trama de Brinquedo assassino, o pequeno Andy Barclay, presenteado pela mãe, Karen (Aubrey Plaza, da comédia Tirando o atraso), com inusitado e cruel brinquedo. Se viu serial killers em ação, nas recentes séries Wicked city e American Gothic, o ator Gabriel Bateman não foge à regra no novo filme: pouco a pouco, muita gente ao redor de Andy e Karen morrem.
Tendo estreado em cinema com o longa Morte instantânea, o diretor norueguês Lars Klevberg conduz Brinquedo assassino, produzido por dois profissionais que reativaram os personagens de It: A coisa ; Seth Grahame Smith e David Katzenberg. Terceiro da franquia, em termos de público nos Estados Unidos, o novo Brinquedo assassino já rendeu três vezes o modesto orçamento de US$ 10 milhões.
Contando com a interpretação de atores como Brian Tyree Henry (elogiado pelo sucesso Se a Rua Beale falasse), o novo filme do personagem assassino (que, em adaptações, já teve noiva e até filho) traz como chamariz efeitos especiais da empresa de cinema MastersFX (de fitas como O predador e RoboCop). Dotado de tecnologia, Chucky vem da linha de brinquedos chamada Buddi, sendo capaz de garantir conexões com celulares, drones e até carros automáticos.
Medo também na vida real
Numa linha também de impacto, o longa nacional Uma noite não é nada, ambientado nos anos de 1980, traz os atores Paulo Betti, Luiza Braga e Claudia Mello num enredo que mistura traição, abuso sexual e graves problemas de saúde. Produtor de filmes como Raul ; O início, o fim e o meio e diretor de filmes como Desmundo, Lua cheia e Família vende tudo, Alain Fresnot dirige Uma noite não é nada, em que a jovem Márcia, estudante, vê a vida se tornar mais instável diante da relação mantida com o professor Agostinho, marido de Januária. Confira a entrevista com Paulo Betti.
Três perguntas // Paulo Betti
Há diferenças entre preconceitos da época central da trama do filme, que é ambientado nos anos de 1980, para os dias de hoje?
Naquele momento, saíamos de uma situação de opressão na qual hoje estamos entrando novamente. Vislumbramos, naquele momento, em meados dos anos de 1980, o fim da opressão. E agora estamos de volta à censura, em todos os níveis, às chacinas, às mortes e aos discursos de violência. Lá no filme acaba algo que agora se vê como continuidade. A relação do abuso sexual independe da clareza que temos hoje em dia do assunto com relação aos temas. Ela continua. Quantas pessoas devem estar abusando hoje em dia de mulheres? Em cada esquina do Brasil isso é realidade. Por mais que a sociedade tenha evoluído na condenação de fatos; não quer dizer que eles não ocorram.
Há condenação do protagonista, no seu ponto de vista?
Meu personagem sabe que, nas atitudes, não seria aprovado por ninguém. A pulsação doentia faz parte da natureza humana. Não estou justificando o personagem. A personagem feminina é vítima de um injustificável abuso sofrido. Eles têm uma relação estranha ; ela é muito nova, e ele, bem mais velho ;, no mais, eles têm uma relação consensual. Há desejo também na relação. No meio de uma vida modorrenta, o cara tem uma faísca de paixão. Daí, parece que a vida dele passa a ter sentido.
Que visão tem o Alain Fresnot? Qual a cumplicidade no filme?
Fiz o Ed Mort com ele, há muitos anos, e é um amigo meu. A gente conversa demais. Primeiro filme da atriz Fernanda Vianna, e nos demos muito bem. Não tivemos preparação de elenco. Fresnot desenha todas as cenas, num storyboard, nada é feito ao acaso. Cada ação, intensidade, impulso foram ditados pelo diretor. No filme, nada é gratuito. O filme até poderia ser acusado de ser machista, numa leitura mais simples. Cavocando na superficialidade, vemos que as heroínas do filme são as mulheres. Elas estão de mãos dadas, ao final. Mesmo pelo que passam, elas ficam juntas, na sororidade, cúmplices. Elas ficam longe do que seja rotulável.