Brasília, cidade contrastante e até mesmo esotérica. Na arquitetura, modelada artificialmente. Na sociedade, sob suas asas, abriga a elite financeira em seus blocos e pilotis. Blocos onde também abrigam porteiros, diaristas, histórias íntimas e uniformizadas. Eis os argumentos da escritora Margarida Patriota para o livro, Cárcere privado, romance que será lançado, hoje, no Carpe Diem, a partir das 18h30.
;A intenção é colocar o leitor atrás das grades de minhas palavras;, destaca. Em 176 páginas, a trama policial desenvolve, ao mesmo tempo, um suspense de cunho psicológico e um painel da sociedade brasiliense. Na primeira fase do livro, uma situação de rapto e sequestro dá o mote para o desenrolar dos motivos que levaram a uma situação extrema, que guia a narrativa.
A autora apresenta com requinte de detalhes e argumentação a vida privada de Brasília, de maneira íntima, original e satírica, sem o olhar turístico e superficial costumeiro. ;O vilão quer mostrar que a cidade continua com tradições de outros lugares. O passado, o que veio antes, as tradições, os pilares, essas coisas se perpetuam. Eu quis assumir na narrativa a banalidade e a singeleza da rotina, do dia a dia;, explica Margarida.
;Pretendi escrever uma história bastante minha, e quis criar realmente uma situação surpresa;, diz a professora aposentada de literatura na Universidade de Brasília (UnB), que ministrou aulas durante 28 anos. Atualmente, ela apresenta o programa de entrevistas Autores e livros, que vai ao ar aos sábados e domingos na Rádio Senado Federal.
Influência
No programa, entrevistou nomes como Rachel de Queiroz, Ferreira Gullar, Luís Fernando Veríssimo, Adélia Prado, Ziraldo, Ariano Suassuna, e explica de onde vem sua inspiração. ;Levo a cabo esse programa há 22 anos. Leio em média um livro por semana, de gente conhecida, desconhecida, anônima, famosa; A influência vem de todos os lados. A trama não deriva de nenhuma influência dos ;papas; da literatura;, confessa.
Sua vontade com a obra foi, também, ampliar as fronteiras do discurso feminino. A autora criou uma problemática em que a mulher está no centro, narrando o crime de maneira dúbia. ;Há muito boas escritoras hoje em dia, eu acho que, no geral, mais interessantes do que os homens. Há uma tendência da mulher se expor um pouco como heroína da ação. No caso da minha, é uma malfeitora. Quem narra a história é quem está cometendo o delito;, conta.
*Estagiária sob supervisão de José Carlos Vieira
Cárcere Privado
De Margarida Patriota, lançamento, hoje, no restaurante Carpe Diem (104 Sul), a partir das 18h30. Editora 7 Letras. Número de páginas 176 páginas.