Foi uma bela festa. Começou com atraso, entrou pela madrugada de quinta-feira, 15, mas o 18º Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, o primeiro realizado em São Paulo, celebrou música e cinema, e resistência. Cacá Diegues, um dos vencedores da noite - ganhou um monte de prêmios pelo seu Grande Circo Místico -, lembrou, no palco do Teatro Municipal, que o cinema brasileiro já atravessou tempos muito mais sombrios, e sobreviveu. Stepan Nercessian, melhor ator por Chacrinha - O Velho Guerreiro, de Andrucha Waddington, que também venceu o prêmio do público, dedicou seu Grande Otelo - o Oscar do cinema brasileiro - aos que não entendem e querem destruir nosso cinema, "mas não conseguirão".
Benzinho foi o grande vitorioso da noite. Venceu nas categorias de filme, direção (Gustavo Pizzi), roteiro original (Karine Teles e Pizzi), melhor atriz (Karine), melhor atriz coadjuvante (Adriana Esteves) e melhor montagem (Lívia Serpa). Adriana esteve gloriosa - concorria também a melhor atriz (por Canastra Suja) e, ao subir ao palco, por um momento ficou confusa por qual papel estava sendo premiada. Começou a agradecer pelo outro, antes que caísse a ficha - ou o apresentador Rodrigo Pandolfo lhe soprasse no ouvido e ela pusesse seu agradecimento, por Benzinho, nos trilhos. Chacrinha, indicado para 12 prêmios, perdeu a maioria, mas venceu com honra o melhor ator, o melhor filme do público e o prêmio de som, muito importante num musical. Cacá Diegues e a mulher, a produtora Renata Magalhães, levaram um balaio de prêmios, incluindo melhor roteiro adaptado (Cacá e George Moura), fotografia, direção de arte, efeitos visuais, figurino, maquiagem.
Na escadaria, antes que a festa começasse - com atraso -, houve protesto da Apaci, Associação Paulista de Cineastas, contra a descontinuidade do programa de fomento ao cinema paulista. No documento distribuído ao público, e endereçado ao governador João Dória, a entidade diz: "É lamentável que o secretário (de Estado da Cultura) Sérgio Sá Leitão seja o responsável pelo fim de um programa vitorioso, como tem sido o apoio da Sabesp ao cinema de São Paulo". Há 20 anos, ainda segundo o documento, "nosso cinema é apoiado pelo Fomento e cerca de 200 filmes foram feitos, vários sucessos de público, indicações ao Oscar, participações em Cannes, Berlim, no Sundance, etc." Aberta pelo presidente da Academia Brasileira de Cinema, a premiação seguiu um protocolo, e o presidente Jorge Pellegrino começou chamando ao palco Laís Bodanzky, da Spcine, o prefeito Bruno Covas, e os secretários Municipal e de Estado da Cultura, Alê Youssef e Sá Leitão.
Laís, muito aplaudida, iniciou sua fala dando novas da Mostra de São Paulo. Disse que, assim como a premiação da noite de quarta-feira, a Mostra de Cinema terá três dias (noites) de programação no Teatro Municipal. E mais - saudou o sucesso da São Paulo Film Comission que, em apernas três anos, virou a segunda em produtividade e importância da América Latina. Prova disso, destacou, a equipe do ator Keanu Reeves já está na cidade, fazendo o novo filme do astro. O prefeito fez um discurso digno de oposição. Citou números e eventos para destacar o compromisso de sua gestão, e de São Paulo, com a diversidade.
Repudiou a ideia de qualquer filtro, que comparou a censura, e foi muito aplaudido ao dizer que certificado ideológico não é requisito para participar das ofertas de financiamento de cultura da cidade.
Alê Youssef defendeu pluralidade como norma e o próprio Sá Leitão, criticado na entrada, antecipou o próximo anúncio do que definiu como o maior programas de Estado de incentivo ao audiovisual no Brasil. Serão R$ 200 milhões que o Governo do Estado pretende colocar no audiovisual, antecipou, sem fornecer detalhes. Embalada em música, a premiação teve momentos fulgurantes como a performance de Ney Matogrosso, cantando o tema Um Pouco de Calor, de Ralé, da independente Helena Ignez, e a presença da periferia, na vibrante interpretação do quarteto de Antônia, de o filme de Tata Amaral. Fecho de ouro - a homenagem a Zezé Motta, que recebeu um Grande Otelo especial por sua carreira. Na tela, apareceram cenas antológicas de Zezé em clássicos como Xica das Silva, de Cacá Diegues, e Tudo Bem, de Arnaldo Jabor. Numa festa que celebrou cinema e música, ela agradeceu cantando Missão, de João Nogueira. Foi, como não poderia deixar de ser, aplaudida de pé.
Lista dos vencedores:
Melhor Longa-metragem de Ficção
Benzinho, de Gustavo Pizzi.
Melhor Longa-Metragem Documentário
Ex Pajé, de Luiz Bolognesi.
Melhor Longa-Metragem Infantil
Detetives do Prédio Azul 2 - O Mistério Italiano, de Viviane Jundi.
Melhor Longa-Metragem Comédia
Minha Vida em Marte, de Susana Garcia.
Melhor Direção
Gustavo Pizzi, por Benzinho
Melhor Atriz
Karine Teles, por Benzinho
Melhor Ator
Stepan Nercessian, por Chacrinha: O Velho Guerreiro (de Andrucha Waddigton)
Melhor Atriz Coadjuvante
Adriana Esteves, por Benzinho
Melhor Ator Coadjuvante
Matheus Nachtergaele, por O Nome da Morte (de Henrique Goldman)
Melhor Direção de Fotografia
Gustavo Hadba, ABC, por O Grande Circo Místico
Melhor Roteiro Original
Karine Teles e Gustavo Pizzi, por Benzinho
Melhor Roteiro Adaptado
Carlos Diegues e George Moura, por O Grande Circo Místico
Melhor Direção de Arte
Artur Pinheiro, por O Grande Circo Místico
Melhor Figurino
Kika Lopes, por O Grande Circo Místico
Melhor Maquiagem
Catherine Leblanc Caraes e Emmanuelle Fèvre, por O Grande Circo Místico
Melhor Efeito Visual
Marcelo Siqueira, ABC e Thierry Delobel, por O Grande Circo Místico
Melhor Montagem Ficção
Livia Serpa, por Benzinho
Melhor Montagem Documentário
Gustavo Ribeiro e Rodrigo de Oliveira, por Todos os Paulos do Mundo
Melhor Som
Jorge Saldanha, Armando Torres Jr, ABC, Alessandro Laroca, Eduardo Virmond Lima e Renan Deodato, por Chacrinha: O Velho Guerreiro
Melhor Trilha Sonora Original
Elza Soares e Alexandre Martins, por My Name is Now, Elza Soares
Melhor Trilha Sonora
Zeca Baleiro, por Paraiso Perdido (de Monique Gardenberg)
Melhor Longa-Metragem Estrangeiro
Infiltrado na Klan/ Blackkklansman (EUA), de Spike Lee.
Melhor Longa-Metragem Ibero-Americano
Uma Noite de 12 Anos/La Noche de 12 Años (Argentina, Espanha, Uruguai), de Álvaro Brechner.
Melhor Longa-Metragem de Animação - Menção Honrosa
Peixonata - O Filme
Melhor Curta-Metragem Animação
Lé com Cré, de Cassandra Reis
Melhor Curta-Metragem Documentário
Cor de Pele, de Livia Perini
Melhor Curta-Metragem Ficção
o Órfão, de Carolina Markowicz
Melhor Série Brasileira de Animação
Irmão do Jorel, de Juliano Enrico
Melhor Série Brasileira de Documentário
Inhotim - Arte Presente
Melhor Série Brasileira de Ficção
Escola de Gênios - 1ª Temporada
Melhor Longa-Metragem Ficção - Voto Popular
Chacrinha: O Velho Guerreiro de Andrucha Waddington.
Melhor Longa-Metragem Documentário - Voto Popular
My Name Is Now, Elza Soares, de Elizabete Martins Campos
Melhor Longa-Metragem Estrangeiro - Voto Popular
Nasce Uma Estrela/A Star is Born (EUA), de Bradley Cooper.
Melhor Longa-Metragem Ibero-Americano - Voto Popular
Uma Noite de 12 Anos/La Noche de 12 Años (Argentina, Espanha, Uruguai), de Álvaro Brechner.