A mais longeva roda de samba de Brasília se apresenta com regularidade há 12 anos, todas às terças-feiras, no Outro Calaf, no Setor Bancário Sul, e tem como atração o 7 na Roda. O grupo, que até 2017 chamava-se Adora Roda, mantém praticamente a mesma formação e sempre teve como proposta homenagear os grandes mestres do samba e mostrar o trabalho autoral.
Para comemorar a data, o 7 na Roda fará uma série de três apresentações gratuitas. A primeira será amanhã e as outras nos dias 20 e 27 deste mês, com início sempre às 20h. “Decidimos fazer essas rodas gratuitamente, numa parceria com a casa que nos acolhe desde o começo da nossa carreira. A ideia é celebrarmos a data sendo abraçados pelas pessoas que têm acompanhado nossa trajetória”, explica Breno Alves.
O vocalista e pandeirista, Kadu Nascimento (percussão e voz), Vinicius de Oliveira (banjo e voz) são os remanescentes da formação original. Em 2014, o cavaquinista Pedro Molusco entrou para o grupo; e há dois anos Jackson Delano (sopros) e Rodrigo Dantas (violão 7 cordas) passaram a ser os novos integrantes. Segundo Breno Alves, eles substituíram Bruno Patrício, que se juntou à banda de reggae Natiruts; Vinicius Magalhães, radicado no Rio de Janeiro; e Tito Silva, que parou de tocar.
Nesses 12 anos de samba, o 7 na Roda, além da roda no Outro Calaf, onde costuma receber alguns dos mais importantes sambistas brasileiros, tem participado de vários eventos e tocado nos mais diversos locais da cidade — inclusive nas escolas de samba Aruc e Acadêmicos da Asa Norte. Além disso produziu, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), o projeto Flores em vida, para homenagear bambas com Mestre Monarco, Nelson Cavaquinho e Dona Ivone Lara.
» Entrevista / Breno Alves
Como é para vocês manter uma roda de samba, de formaininterrupta, por 12 anos?
Acredito que seja algo raro, não só em Brasília, como no Brasil. Esse é o mesmo tempo de vida do 7 na Roda, nascido no antigo Calaf em 2007. Há cinco anos, o Outro Calaf é quem nos hospeda. A qualidade do samba que fazemos, manteve a roda por esses 12 anos.
Além da troca de local, houve a mudança do nome do grupo. Isso trouxe algum prejuízo?
De forma alguma. Quem nos acompanha desde o começo manteve-se fiel; e ainda conquistamos novos admiradores, que nos seguem nas redes sociais compartilham e nos divulgam. A mudança decorreu do fato de não haver entendimento entre nós e a pessoa que criou o antigo nome.
Por que isso só veio a ocorrer em 2017?
Estávamos vivendo uma nova fase em nossa carreira, com o lançamento do segundo CD, o Convocação — o primeiro, Mensageiros do samba é de 2014 — para fazer a mudança. Achamos que aquele seria o momento ideal para isso.
Qual é a característica básica do trabalho do 7 na Roda?
Fazemos o samba tradicional, o chamado samba de raiz, homenageamos os grandes mestres do gênero, mas não deixamos de lado o nosso trabalho, que também é muito importante, em nossa avaliação. Essa mescla é que faz o diferencial do grupo.
O grupo tem trazido mestres do samba para participar da roda, como convidados especiais. Isso é feito com que intuito?
Além de homenageá-los, tê-los ao nosso lado na roda é um privilégio. Recebemos como convidados os bambas Nelson Cavaquinho, Monarco, Nelson Rufino, Toninho Geraes, Serginho Meriti, Marquinhos de Oswaldo Cruz e Zé Catimba; e também sambistas da nova geração, como Fabiana Cozza e João Cavalcanti.
Vocês têm participado de alguns projetos. Quais são os que merecem destaque?
Temos tocado em projetos na Aruc e Acadêmicos da Asa Norte, escolas de samba pioneiras em Brasília, e também no Samba nas feiras, em que levamos o samba para feiras em 10 cidades do Distrito Federal. Vejo esse projeto, que deveria ter continuidade, como um espaço da maior importância para levar às comunidades um pouco da nossa cultura popular.
Em setembro de 2014, o grupo produziu, no teatro do CCBB, o projeto Flores em Vida. O resultado foi bom?
Eu diria que foi excelente. Por três noites lotamos o CCBB, por três noites, com shows em que homenageamos os mestres Monarco, Nelson Cavaquinho e a rainha do samba Dona Ivone Lara. Aquela foi a última apresentação dela em Brasília.
Como foi a apresentação que o 7 na Roda fez na quadra da Portela em novembro de 2018?
Para nós foi emocionante tocar na quadra da Portela, um dos redutos mais simbólicos do samba no Rio. Fomos convidado pelo Moacir Oliveira, o Moa, presidente da Aruc, para o encontro dos consulados da Portela no Brasil. Era um sábado e assim que começamos a nos apresentar, os portelense foram se aproximando e pareciam encantados com o que ouviam. Fizemos um repertório basicamente com sambas de compositores da Portela, como Monarco, Candeia, Alvaiade, Chatim, Manacea, Chico Santana. Eles ficaram surpresos com o nosso conhecimento desses mestres.
Depois dessas três rodas de samba no Outro Calaf, o que consta da agenda?
Em 5 de setembro vamos abrir o show de Zeca Pagonho, na Quinta Cultural do projeto Na Praia. O Zeca, pelo respeito que ele tem pelos mestres do samba, é uma das nossas referências. Estamos planejando a gravação de um DVD no primeiro semestre de 2020.