Diversão e Arte

Filmes de brasilienses impulsionam boa fase de produtos com lastro do FAC

Cine PE termina com múltiplos prêmios dados às produções de Brasília Teoria do ímpeto e A margem do universo, confirmando a importância das bases de apoio do Fac

Ricardo Daehn
postado em 06/08/2019 07:17

Premiada equipe de Teoria do ímpeto: a produtora de elenco Nathalie Amaral, o diretor Marcelo Faria e a produtora Liana Farias, ao lado do codiretor de Rafael Moura e da atriz Petra Sunjo (de A margem do universo)

Dois filmes brasilienses e o acúmulo de sete prêmios no Cine PE, reduto para grandes produtos de cinema pernambucano que projeta talentos do naipe de Kleber Mendonça Filho, Cláudio Assis e Marcelo Gomes. Na 23; edição, o festival, encerrado, no último domingo, no Cinema São Luiz, ampliou o alcance dos investimentos do Distrito Federal no Fundo de Apoio à Cultura (FAC) que deram origem aos premiados Teoria do ímpeto (longa-metragem) e A margem do universo (curta-metragem).

;Nosso longa foi realizado com projeto de 2014 que venceu o FAC, tendo ainda recursos da Ancine, braços para o fomento de um produto audiovisual regional. Acho importante destacar, num momento delicado de recursos redirecionados e redistribuídos, e no qual se fala em acabar com conquistas da classe, mostrar o instrumento que permite apresentarmos um cinema de qualidade;, comenta o premiado codiretor Rafael Moura (ao lado de Marcelo R. Faria) de Teoria do ímpeto.

;É fundamental mostrar que Brasília tem algo legal e diferente para oferecer no audiovisual, com uma ficção científica de fundo politizado. Tratamos de um enredo que está milênios à frente do nosso tempo, num filme que tem conteúdo utópico;, explica o cineasta Tiago Esmeraldo, do curta A margem do universo, reconhecido como o melhor, no roteiro, na fotografia e na interpretação da atriz Petra Sunjo (atriz africana vinda da República de Camarões). ;A periferia surpreende, pelo que tem a oferecer, e isso foi objeto do roteiro do Fáuston da Silva. Há futurística percepção de que a humanidade seria vista, aos olhos de seres invasores, como uma periferia. No filme, exploramos a expansão dos limites do universo;, diz Esmeraldo, que, à época das filmagens, morava em Ponte Alta, no Gama.

Pista ampla

Um pontilhado de drama envolve uma família brasileira classe média baixa, na qual a mãe se revela ausente, e embala o longa Teoria do ímpeto. Com roteiro premiado no Festival de Nice (França), o filme irá, nas próximas semanas, para o Festival de Madri. Pinçado entre 150 longas para integrar a competitiva do Cine PE, Teoria do ímpeto passou por circuito internacional, em países como Inglaterra, Índia, França e Estados Unidos. Estreantes na parceria e no desenvolvimento de longa, Rafael Moura e Marcelo R. Faria, pela ordem, são conhecidos pela participação em fitas como O mundo das cores e, no caso de Marcelo, na edição do filme Operários da bola, que teve enredo ambientado na prévia da Copa de 2014. Responsável pela fotografia, André Carvalheira (diretor de New Life S.A.) também foi premiado com o troféu Calunga de Prata.

Teoria do ímpeto, na avaliação da produtora Liana Farias (o filme é uma parceria entre a Of Produções e a Lanterna Mágica) teve excelente retorno do público, para além do reconhecimento técnico com os prêmios. ;Causamos a estranheza esperada;, observou Liana. ;O filme trata de carência, de afetividades incompletas. O roteiro nunca entrega de graça o enredo: a atriz Clara Maria Matos, por exemplo, vive Diana, uma terceira peça fundamental em núcleo familiar. A relação dos personagens dos atores Adriano Barroso e Pablo Magalhães (ambos premiados, como melhor ator e melhor ator coadjuvante) é indistinta na trama. Adotamos um tom naturalista, mas flertamos com realismo mágico, com aspectos oníricos e fantásticos; ainda assim, as interpretações são bem pé no chão;, observa Rafael Moura.

Curta de futuro

Atrelado aos prêmios de melhor roteiro, melhor fotografia (Gustavo Serrate) e melhor atriz (Petra Sunjo), o curta A margem do universo, indiretamente, mostra uma cota de feminismo atingindo as viagens espaciais. O cerrado do Gama, imagens feitas em Cavalcante, Alto Paraíso e no Planetário contribuem para a criação de atmosfera futurista.

;Há uma linha fina para não ficar brega, e corremos o risco, enfrentando o desafio. Na trama, alienígenas exploram um planeta estranho. Adotamos uma língua diferente do português, com a consultora indígena Inikru Suruwa (de etnia do Amazonas). Na exploração de terreno, uma alienígena está ligada a uma inteligência artificial pronta para mandar nela. De repente, ela se desconecta, causando um ruído, de corpo presente;, adianta o diretor Tiago Esmeraldo.

Viabilizado com R$ 90 mil advindos do FAC, A margem do universo integrou a Mostra Brasília do 50; Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (Troféu Candango, dado pela melhor fotografia) e ainda reafirmou a longa parceria de Esmeraldo (produtor de filmes como A capital dos mortos 2 e editor do longa O fantástico Patinho Feio) com Fáuston da Silva, para quem fez a fotografia de filmes como Ácido acético, O melhor fotógrafo do mundo e O último Natal.

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